Por: Sudanês B. Pereira
Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.
Brasil tem poucas Startups da Economia Azul
Antes de entendermos o papel que as startups podem desempenhar no desenvolvimento e crescimento da economia azul no Brasil, é importante ilustrar alguns indicadores desse segmento da economia tão promissor.
No relatório “Trade and environment review 2023. Building a sustainable and resilient ocean economy beyond 2030”, da Agência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), revela que a economia azul vale entre US$ 3 trilhões e US$ 6 trilhões e oferece vastas oportunidades para os países em desenvolvimento criarem resiliência. Para a agência, a economia azul abrange todas as indústrias que utilizam e contribuem de forma sustentável para a conservação dos oceanos, mares e recursos costeiros para benefício humano, de forma a manter todos os recursos oceânicos ao longo do tempo.
Em 2020, o valor das exportações de bens oceânicos, incluindo pesca, frutos do mar, navios e equipamentos portuários, e serviços como transporte marítimo e turismo costeiro, foi estimado em US$ 1,3 trilhão, com exportações de produtos derivados do oceano estimadas em US$ 681 bilhões e exportações de serviços baseados no oceano em US$ 628 bilhões.
A PwC Portugal, PricewaterhouseCoopers, divulgou a publicação “Pwc LEME Circum-navegação: Uma visão integrada da economia do mar”, onde fala que apenas uma abordagem integrada dos mares e oceanos pode assegurar que os recursos sejam utilizados de forma responsável, efetiva e equitativa.
A publicação traz um mapa extremamente interessante, mostrando as regiões, principais indústrias e participação das regiões nos mercados da economia do mar. O mapa mostra que a Ásia - principalmente a China - é a região dominante em pesca, aquicultura, movimento de cargas nos portos, e construção naval. Os 10 maiores portos de conteiners estão na Ásia, dos quais sete estão na China. A América e Europa dominam energia off-shore, marinha mercante e turismo marítimo. A América do Sul e a África são as regiões com enorme potencial a explorar a economia azul. Grécia, Japão, China e Alemanha têm a maior concentração de propriedade de navios. Reino Unido, Dinamarca e Alemanha representam quase 80% das energias renováveis offshore. A América do Norte, tem o maior número de consumidores de cruzeiros, seguida por Reino Unido, e Irlanda. Segundo a publicação da Pwc, o Brasil tem um enorme potencial oriundo da economia azul, em diversas áreas. Ver a figura 1 do mapa abaixo.
As Starups do Brasil com Potencial para a Economia Azul
As informações elencadas acima dão a dimensão de quanto a economia azul poderá mais uma fonte de desenvolvimento econômico sustentável, se bem planejada. Nesse sentido, será importante repensar as relações entre o meio ambiente e a sociedade, e adotar estratégias sustentáveis de promoção do bem-estar e do crescimento desse vetor de desenvolvimento econômico.
Além disso, com base nessa configuração de ambiente global - economia azul, sustentabilidade, inovação, empreendedorismo -, entende-se que as startups podem ocupar um papel importante nessa nova dinâmica de mercado que a economia azul se insere, dado que, são pequenas, ágeis, flexíveis, dinâmicas e inovativas. Vide dois artigos meus aqui (https://a8se.com/blogs/economia-e-inovacao/a-europa-e-lider-em-startups-da-economia-azul/ e https://a8se.com/blogs/economia-e-inovacao/a-economia-azul-e-as-oportunidades-para-o-desenvolvimento/).
Em 2022, a Revista Livre de Sustentabilidade e Empreendedorismo (RELISE), publicou o artigo “Trópico de Unicórnio - Um Levantamento das Startups Brasileiras com Potencial para a Economia Azul”, dos professores Carlos Dias Chaym (UniFaC), José Rafael Martins da Silva (Faculdade Cearense) e Fabio da Silva (Universidade Potiguar).
O objetivo geral do estudo foi mapear o cenário presente e futuro de startups ligadas à Economia Azul no Brasil. Os pesquisadores entendem que no cenário atual da economia azul existem oportunidades de negócios, especialmente para os empreendedores de startups, já que essas empresas possuem gestão mais dinâmica e podem desempenhar um papel fundamental nesse processo.
Segundo os pesquisadores, a economia azul precisa de uma estratégia abrangente, que compreenda tanto atividades ligadas à dimensão marinha, quanto às atividades adjacentes ao mar. A dimensão marinha corresponde àquelas atividades que estão totalmente ou diretamente relacionadas aos oceanos e mares, independentemente de serem desenvolvidas em terra ou mar; já as atividades adjacentes ao mar compreendem as atividades desenvolvidas sem insumos provenientes do mar.
Além disso, é de fundamental importância entender que quando se fala em sustentabilidade, entende-se a sustentabilidade ambiental, a sustentabilidade econômica, a sustentabilidade ecológica, a sustentabilidade social, e a sustentabilidade política, que são as dimensões consideradas por Ignacy Sachs, que vai além do que alguns teóricos preconizam como somente a sustentabilidade ambiental e econômica.
O que a Pesquisa Encontrou sobre Startups da Economia Azul no Brasil
Os pesquisadores fizeram uma busca por informações no site da ABStartup, como também nos sites das startups, em janeiro de 2020. No site da ABStartup, foram pesquisados os termos “Economia do Mar”, “Oceanos”, “Mares”, “Sustentabilidade”. Após essa etapa, uma filtragem foi feita com base na análise de conteúdo das páginas na web (dentro e fora do site Abstartup). Foi feita também uma análise de conteúdo das descrições das empresas a fim de verificar palavras chaves que todas as startups têm em comum nas suas descrições, como as palavras “água”, “sustentabilidade”, “meio ambiente”, “consumo”.
A análise feita através do site da ABStartup e do conteúdo da descrição dessas startups em seus respectivos sites, indica que essas empresas têm um perfil dinâmico, com potencial para o desenvolvimento da economia azul sustentável no Brasil. No entanto, das 160 empresas selecionadas no site da ABStartup, apenas 11 tinham relação de forma direta e indiretamente com economia azul, sustentabilidade, oceanos e mares.
Ou seja, identificou-se uma baixa quantidade de startups que podem ser classificadas como sendo alinhadas com uma economia azul. Do total de 12.952 startups cadastradas até 2020 na ABStartup, apenas 11 atende (iam) de alguma forma o quesito pesquisado. Isso quer dizer que, a cada 1.177 startups cadastradas no site, apenas 1 (uma) está envolvida com a economia azul. Seguindo essa média, durante esses 7 anos de fundação da Associação, levaria mais de 100 anos para que startups envolvidas com Economia Azul tenham a mesma representatividade que outras têm no site atualmente.
Embora poucas das startups encontradas trabalhem diretamente com os oceanos, outras influenciam indiretamente, como a startups Bchem que transforma óleos residuais em energia, e com isso evita que esses resíduos sejam despejados nos oceanos. Ver as startups listadas no quadro abaixo.
Algumas Considerações
Apesar da economia azul ainda não ser uma realidade no país, em especial do ponto de vista de políticas públicas, governança e estratégia política de desenvolvimento econômico, ela tem potencial para o Brasil.
Para avançar num modelo de políticas públicas que considere a economia azul como um dos vetores de desenvolvimento, será necessário traçar diretrizes, ações, governança, incentivo à inovação de setores e empresas, orçamento. Pensar políticas que possam levar inovação e aumentar a competitividade dos setores da economia azul - aquicultura, pesca, turismo azul, esportes aquáticos, naval, de transportes marítimos, entre outros.
As startups, junto com demais atores, são fundamentais para dar dinâmica à economia azul no país.
Excelente semana!