Economia e Inovação

Por: Sudanês B. Pereira

Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.

A Europa é Líder em Startups da Economia Azul

15/08/2023
Imagem de rawpixel.com no Freepik

Em agosto de 2022, o Fórum de Investimento em Economia Azul Sustentável da ONU viu governos, bancos e corporações se reunirem na Conferência dos Oceanos da ONU, se comprometerem a investir bilhões de dólares na Economia Azul. No calor dessa temática, a Startup Genome divulgou o relatório “The Global Startup Ecosystem Report Blue Economy Edition 2022”.

O documento analisa o estado atual da atividade de startups e investimentos relacionados à Economia Azul. Ele visa fornecer informações para fundadores, investidores e formuladores de políticas interessados ​​em entender o cenário atual. Além disso, tem como objetivo incentivar atividades da Economia Azul no mundo das startups, com o propósito geral de mitigar as mudanças climáticas e melhorar a vida de todos.

Segundo a Genome, existe um potencial inexplorado para startups na Economia Azul. Como um subsetor que se cruza com Cleantech, AI & Big Data, Agtech & Alimentos (new food), Transportes e muitos outros, a Economia Azul tem amplo espaço para inovação e oportunidade para os investidores impulsionarem mudanças e negócios.

Sobre a Economia Azul

De acordo com a Agência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (OCDE), a economia azul abrange todas as indústrias que utilizam e contribuem de forma sustentável para a conservação dos oceanos, mares e recursos costeiros para benefício humano, de forma a manter todos os recursos oceânicos ao longo do tempo. [*]

Para a agência, os setores da economia azul têm grande potencial de crescimento sustentável, para extrair riqueza, agregar valor e criar empregos. Esses setores incluem pesca marinha tradicional, aquicultura marinha e costeira, construção naval, turismo marinho e costeiro, e transporte marítimo.

OS INSIGHTS DO RELATÓRIO

[1] Financiamento por Categoria

As categorias de produtos com mais negócios e quantidade de financiamento de capital de risco (VC) da economia azul são aquicultura e transporte marítimo. Devido principalmente à inflação, os produtos associados a essas categorias tiveram aumentos no financiamento total de VC do primeiro semestre de 2021 (H1 2021) ao primeiro semestre de 2022 (H1 2022) - aquicultura em 3% e transporte marítimo em 27% - enquanto o tratamento de água e a energia marinha sofreram uma queda.

No primeiro semestre de 2022 foram investidos US$ 510 milhões no segmento de transporte marítimo, US$ 284 milhões em aquicultura, e US$ 68 milhões em energia marinha. No total, foram investidos no primeiro semestre de 2022 US$ 862 milhões somente nesses três segmentos.

Segundo a Startup Genome, até o momento, a maior parte do investimento na Economia Azul veio do setor público. Embora ainda seja um subsetor relativamente pequeno para startups, há sinais de aumento de interesse. Do primeiro semestre de 2020 ao primeiro semestre de 2022, o número de negócios de startups da economia azul da Série A aumentou 100% e o tamanho médio do negócio cresceu 133%. O tamanho médio do negócio da Série B+ aumentou 112% do primeiro semestre de 2021 para o primeiro semestre de 2022.

Ver o gráfico abaixo com a evolução por semestre (2019-2022) com financiamento de VC por categoria de produto.

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Gráfico 1. Financiamento de VC por Categoria de Produto da Economia Azul

[2] Startups da Economia Azul - Investimentos por Região

O relatório revelou que a Europa é a região líder na produção de startups de Economia Azul, com 39% da participação global. A Europa também produziu o maior número de negócios em estágio inicial a cada ano, desde 2020. O sucesso relativo da Europa pode estar vinculado às políticas dedicadas à Economia Azul da região.

Em maio de 2021, a Comissão Europeia publicou sua estratégia para uma Economia Azul Sustentável, que inclui o objetivo de fechar as lacunas de conhecimento e estimular a inovação para aumentar a resiliência climática nas áreas costeiras. A estratégia também se compromete a ajudar startups de tecnologia da Economia Azul e empresas em estágio inicial a acessar capital privado. A América do Norte ocupa o segundo lugar com 31% das startups de economia azul, a Ásia em terceiro lugar com 15%. Ver o gráfico logo abaixo.

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Gráfico 2. Participação Global das Startups da Economia Azul por Região (2022)

[3] Análise global de startups por subsetor

O relatório revela que as startups da Economia Azul que garantem investimento antecipado têm uma chance muito maior de sucesso em comparação com outros subsetores. A análise mostra que 17% das startups da Economia Azul financiadas por capital de risco que recebem investimento semente, vão para a Série B e 6% saem com mais de US$ 50 milhões.

Embora o número de negócios em estágio inicial seja baixo em comparação com outros subsetores, a Economia Azul registra crescimento do financiamento em estágio inicial desde 2016.

O gráfico de bolhas logo abaixo, mostra o crescimento dos negócios da Série A como proxy para o financiamento em estágio inicial e o crescimento das saídas. Juntos, eles indicam a fase do ciclo de vida em que um subsetor se encontra.

O tamanho da bolha no gráfico indica a participação do subsetor em startups globais em todos os setores. AI&BD, Fintech e Blockchain são exemplos de subsetores que estão na fase de crescimento, o que significa que estão recebendo uma boa quantidade de investimento em estágio inicial e vendo uma boa quantidade de crescimento nas saídas. Como alguns dos primeiros subsetores de tecnologia a se desenvolver, Mídia Digital e Adtech agora estão recebendo menos rodadas de investimento.

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Gráfico 3. Startup da Economia Azul Cresce em Financiamento em Estágio Inicial

À medida que um ecossistema se desenvolve, o financiamento em estágio inicial cresce rapidamente enquanto as saídas - um indicador de atraso - seguem alguns anos depois, fazendo com que o subsetor suba no gráfico, movendo-se posteriormente para a direita ao receber mais saídas após um ciclo de vida normal. Isso está acontecendo com o subsetor da Economia Azul.

[4] Ranking de Startup da Economia Azul por Região

A Europa e a América do Norte representam, cada uma, 37% dos ecossistemas nos 35 principais ecossistemas classificados, seguidas pela Ásia, que detém 17% da participação. A Europa e a Oceania têm mais ecossistemas líderes na Economia Azul do que na tecnologia em geral, e a América do Norte e a Ásia têm menos. Ver o gráfico 4.

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Gráfico 4. Ranking de Startups da Economia Azul por Região

[5] Classificação Global do Ecossistema de Startups da Economia Azul – Top 20

Pela primeira vez em um ranking global do Startup Genome, o Vale do Silício não está em primeiro lugar. Cingapura tem a liderança com as melhores pontuações - Desempenho, Financiamento e Experiência.

Embora o Vale do Silício não esteja em primeiro lugar no ranking da Economia Azul, o ecossistema de tecnologia líder mundial mostra um desempenho forte em Financiamento e Talento.

A Europa produziu três dos cinco principais ecossistemas: Oslo, Amsterdam-Delta e Londres. Oslo tem a classificação mais alta em Desempenho, Experiência de Startup e Foco, enquanto Amsterdam-Delta tem uma pontuação alta em Desempenho, Experiência de Startup e Talento. Londres é líder em Financiamento, Experiência de Startup, Conhecimento e Talento. Ver a figura abaixo com a classificação global do top 20 de startups da economia azul.

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Fig. 1 Classificação Global de Startups da Economia Azul – Top 20

Alguns comentários

[1] No limite, a Economia Azul pode ser entendida como a exploração, preservação e regeneração dos nossos oceanos e dos seus recursos. Nesse sentido, não podemos apoiar a transição energética, satisfazer o crescente apetite mundial por proteínas, movimentar mercadorias internacionalmente e mudar atitudes em relação ao uso dos oceanos sem gerar respeito pela forma como interagimos e tratamos esse recurso importante.

[2] Segundo os dados da OCDE, pelo menos 80% de todos os produtos que compramos cruzaram o oceano. Metade do ar que respiramos é criado por plantas oceânicas. Bilhões de pessoas no mundo obtêm suas proteínas do oceano.

[3] Mais do que nunca, o mundo está olhando para a Economia Azul para ajudar a impulsionar um futuro mais sustentável para o planeta. Não estamos apenas abordando o futuro da energia, segurança alimentar, transporte marítimo e outros desafios, mas também gerando valor econômico significativo e fazendo contribuições importantes para a neutralidade do carbono (net-zero). Penso que as startups da economia azul são fundamentais para esse processo.

[*] OCDE. Trade and environmenT review 2023. Building a sustainable and resilient ocean economy beyond 2030.

Excelente semana!