Mel do Sertão muda a vida de famílias assentadas em SE

O zumbido forte, que pode ser ouvido a metros de distância, rompe o silêncio do sertão e anuncia a chegada a um lugar diferente. Protegidas pela vegetação seca, característica da Caatinga sergipana, dezenas de caixas de madeira dispostas em pequenas fileiras compõem um cenário inusitado em uma região onde predominam áreas de pastagens e culturas mais resistentes.
A novidade, guardada com muito zelo e dividida somente com os vizinhos, inicialmente, causou espanto, mas hoje representa verdadeira guinada na vida de Jociel Ferreira da Silva, de 29 anos. "No início, o pessoal sempre me dizia: ‘você é doido de mexer com esse negócio de abelha`. Mas o tempo passou e hoje muita gente já descobriu que o negócio é bom mesmo. E eu te falo que foi a melhor coisa que eu já fiz", conta.
Silva é assentado há mais de uma década na unidade cinco da maior área de reforma agrária de Sergipe, o Complexo Jacaré-Curituba, entre os municípios de Canindé do São Francisco e Poço Redondo, no Território da Cidadania Alto Sertão. No local, lidando com abelhas Europa, ele descobriu na apicultura uma atividade econômica promissora, capaz de garantir o sustento da sua família, até durante os longos períodos de estiagem. "A seca também interfere na produção das abelhas. Mas nesse período sem chuvas, se não dá para coletar muito mel, fazendo tudo direitinho, a gente ganha dinheiro extraindo a cera que a colméia produz", explica o apicultor.
O trabalho, iniciado há quase três anos no assentamento, começou depois do contato de Silva com outro agricultor da região. A criação de abelhas da pequena propriedade vizinha ao assentamento despertou o interesse do assentado, que decidiu se inscrever em um curso promovido pelo Sebrae e iniciar a sua própria criação. "No começo, tudo o que eu conseguia ganhar eu investia comprando mais caixas. Com o tempo, a criação foi crescendo, a renda foi melhorando e hoje eu já nem preciso plantar mais. Graças a Deus, sustento minha família com o que tiro das abelhas. A vida melhorou muito", analisa o assentado.
A busca por mais técnicas e conhecimentos levou Jociel a participar de diversos cursos e eventos sobre apicultura. O aprendizado, somado à dedicação no trabalho com as colméias, em pouco tempo resultou em ganho real, assegurando à família do apicultor renda mensal de cerca de R$1.300,00 durante todo o ano. Um sucesso que encheu o trabalhador de alegria e de gratidão em relação às abelhas. "Tudo isso eu devo ao trabalho com as abelhas", comentou.
Gratidão tamanha, que agora ficará marcada para sempre na vida da família. Segurando no colo a filha de apenas nove meses, ele brinca: "Advinha o nome dela? (risos) É Ana Mel", completa.
O sistema produtivo
Os bons resultados obtidos por Jociel fizeram nascer em diversos companheiros de assentamento o interesse pela apicultura, mudando a realidade de várias famílias no local. "O pessoal, vendo que o negócio é bom, resolveu tentar também. Há uns três anos, só eu mexia com abelhas no assentamento. Hoje, o grupo já tem 22 trabalhadores", conta Silva.
Depois de participar de diversos cursos promovidos no assentamento pelo Sebrae e a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), os apicultores do Jacaré-Curituba, auxiliados pelo próprio Jociel, esperam agora alavancar a produção de mel e cera no local. "O pessoal está querendo trabalhar. Nós já recebemos 40 caixas do Incra e temos a previsão de receber uma doação de mais 80 caixas de outra instituição. Estamos tentando, também um financiamento pelo Banco do Brasil", comentou Silva.
Em 2008, outro assentado, que atualmente conta com 220 caixas de abelhas, produziu cerca de quatro toneladas de mel. Ligados a uma Cooperativa de Apicultores do município de Frei Paulo, no Sertão Ocidental de Sergipe, os assentados enviam os baldes de mel para o local, onde a produção é embalada e preparada para a comercialização.
No ano passado, a maior parte da produção foi comercializada para uma empresa do município de Picos, no estado do Piauí, e o restante do produto, disposto em embalagens de vidro ou pequenos saquinhos, vendido em diversas cidades do interior sergipano. Um bom resultado, que estimula o trabalho e gera boas expectativas para os apicultores. "Queremos aumentar o que a gente produz. Eu mesmo já tenho 120 caixas e só vou sossegar quando chegar a 200. Fazendo tudo direitinho dá para aumentar a produção e tirar de 35 quilos a 40 quilos de mel por caixa. Isso, fora a cera, que também ajuda demais na renda da gente", avalia o líder dos apicultores.
O cuidado com o meio ambiente
Cientes da importância da preservação do meio ambiente para o sucesso da apicultura, os assentados do Jacaré-Curituba têm se tornado guardiões da natureza. Eles mantêm preservada a vegetação nativa nas áreas onde foram instaladas as caixas e não permitem o desmatamento e as queimadas nesses locais. "A gente sabe que as abelhas precisam de mato. É dele que elas tiram o alimento, para depois produzir. Então, a gente precisa garantir um pouco de sombra e sol e um clima adequado para elas. Por isso, a gente não vê aqui queimadas, nem desmate", explica Jociel.
Para assegurar a continuidade e a expansão das criações de abelhas, os assentados têm ampliado as ações de preservação da mata. Capacitados e auxiliados pelo Projeto Dom Helder Câmara, eles realizam diversas ações para o manejo da Caatinga e planejam, ainda, realizar o reflorestamento em uma área degradada. "Nós vamos receber uma doação de mudas e plantar tudo numa área do assentamento. A gente vai recuperar o lugar para depois poder usá-lo direitinho", contou Silva.
Apoio ao projeto
Além do apoio de instituições como o Sebrae, a Emdagro e o Projeto Dom Helder Câmara, que oferecem cursos de capacitação e desenvolvem diversas ações no assentamento, os apicultores do Jacaré-Curituba receberam do Incra, nos últimos meses, caixas para a criação de abelhas e kits de apicultura com macacões, luvas, botas, defumadores e outros equipamentos.
A autarquia estimula o desenvolvimento da apicultura em outro assentamento da região, o projeto Modelo, também situado em Canindé do São Francisco. No local, os assentados receberam 40 caixas para criação de abelhas, além dos kits de proteção. Apoio que deverá impulsionar os trabalhos realizados no local e incentivar a adesão de novas famílias à atividade.
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