Por: Sudanês B. Pereira
Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.
Indústria de Telecomunicações em Transformação - infraestrutura, serviços e transformação digital
Sabemos que o segmento de telecomunicações fornece serviços vitais para a economia digital. Deles dependem bilhões de consumidores e praticamente todas as empresas. Estudos setoriais indicam que as receitas provenientes de serviços de acesso estão crescendo a um ritmo muito lento comparado ao volume de investimento necessário para continuar ampliando a infraestrutura. Até 2027, o consumo global de dados via redes de telecomunicações quase triplicará, de 3,4 milhões de petabytes em 2022 para 9,7 milhões, é o que sinaliza o relatório “Perspectives from the Global Telecom Outlook 2023–2027”, da PricewaterhouseCoopers (PwC).
O estudo abrangeu cinco segmentos de telecomunicações em 53 países, representados por: América do Norte, Europa Ocidental, Europa Central, Médio Oriente e África, América Latina e Ásia-Pacífico, além da região do MENA (Oriente Médio e Norte da África).
PRINCIPAIS DESTAQUES
Consumo Global de Dados
Globalmente o tráfego de dados pela rede de telecomunicações é impressionante. Impulsionado em grande parte pelo tráfego de vídeo, o consumo global de dados através de redes de telecomunicações quase triplicará, de 3,4 milhões de petabytes (PB) em 2022 para 9,7 milhões de PB em 2027.
Receita Global
Segundo o estudo, como os provedores parecem ter pouco ou nenhum poder de precificação em serviços de conectividade e dados, cada vez mais comoditizados, as receitas provenientes do acesso à Internet - o proxy para gastos na atividade de banda larga - aumentarão a uma taxa de apenas 4% ao ano. Em 2022 essa receita foi de US$ 757,7 bilhões, deve alcançar US$ 921,6 bilhões até 2027.
O Consumidor é o Centro da Demanda por Dados
No espaço business-to-consumer (B2C), as empresas de telecomunicações estão atentas aos serviços, impulsionados pela evolução das preferências dos consumidores, à medida que surgem novos dispositivos com requisitos cada vez mais elevados por dados.
O relatório mostra que, dos 9,7 milhões de petabytes de dados que serão consumidos em 2027, quase 7,7 milhões (ou 79%) consistirão em conteúdo de vídeo digitalizado. Isto é mais do que o triplo de todas as outras categorias combinadas. A quantidade de dados adicionais que serão consumidos por vídeo, entre 2023 e 2027, excederá a quantidade total de dados consumidos em todas as categorias em 2022. Um aumento maciço no consumo de vídeo impulsionará o crescimento dos dados.
Dados tradicionais de comunicações, que subiram 104% entre 2018 e 2022; em parte resultante das restrições da era COVID e do home office, aumentará apenas 26,8% no período até 2027.
Jogos
Os jogos, um importante vetor de crescimento para as indústrias de E&M e telecomunicações, também desempenharão um papel cada vez mais importante. O consumo de dados associado aos jogos aumentará a uma taxa anual de crescimento de 21% entre 2022 e 2027, refletindo a mudança para jogos online e em nuvem. Em relação à realidade virtual (RV), impulsionada pelo crescimento do metaverso, o relatório sugere que esta continuará em desenvolvimento. Espera-se que sua taxa de crescimento na participação no consumo total de dados chegue a 5% até 2027.
Celular
O relatório revela que os dados via celulares serão uma das categorias de crescimento mais rápido para o uso de dados, com um crescimento anual de 27% entre 2022 e 2027.
Novos Mercados - Um Ecossistemas a Explorar
As empresas de telecomunicações desejam trabalhar nos novos ecossistemas que estão transformando a indústria. De acordo com o relatório, as telcos pretendem manter seu foco na redução de custos, otimização e automação. Existe também a procura por novas fontes de crescimento, que incluem: soluções para a Internet das coisas (IOT); redes 5G privadas para clientes empresariais; banda larga doméstica fixa sem fios; e, em alguns mercados, a prestação de serviços de infraestruturas digitais, dados, conteúdos e plataformas adaptados às necessidades de setores como o entretenimento e mídia (E&M), indústria de transformação e mobilidade.
O relatório sinaliza também que as empresas de telecomunicações estão determinadas a não depender apenas das receitas de conectividade. Elas estão buscando novos fluxos de receitas como assinaturas de conteúdo e aplicativos IoT. Várias operadoras estão avançando em direção a diversificação de conteúdo. O exemplo da Coreia do Sul é revelador - as três principais operadoras de telefonia móvel (SK Telecom, KT e LG Uplus (LGU+)) se expandiram para produzir e distribuir seu próprio conteúdo de mídia.
O relatório revela que o número total de dispositivos instalados deve aumentar de 16,4 bilhões em 2022 para 25,1 bilhões em 2027 – cerca de três dispositivos para cada pessoa no planeta. Ver o gráfico abaixo.
Evolução da Rede e o Futuro da Indústria de Telecomunicações
Segundo a PwC, o 5G se tornará o principal tipo de conexão de smartphones em 2025, com pouco mais de 50% do total – e deve subir para mais de dois terços em 2027 (ver o gráfico abaixo). As conexões globais de 5G deverão aumentar com a implantação agressiva de infraestruturas de fibra ótica, chegando a 3,8 bilhões até 2027. Até o início de 2023, cerca de 200 telcos haviam lançado redes 5G.
Investimentos
De acordo com o relatório, historicamente, as ondas de gastos de capital em sucessivas gerações de tecnologia de rede móvel - 4G e 5G - vieram em ciclos de dez anos. Entre 2021 e 2022, as despesas de capital (capex) cresceram acentuadamente à medida que a indústria investia na construção do 5G. De acordo com a PwC, as despesas de capital (capex) total de telecomunicações subiu 4,2% em 2022, para US$ 319,1 bilhões, maior do que qualquer ano histórico ou previsto no período de dez anos.
Espera-se que a taxa de crescimento tanto no investimento em banda larga fixa quanto em banda larga móvel diminua a cada ano até 2027 (veja gráfico, próxima página). Importante destacar que, em 2026, o capex da rede móvel ultrapassará o investimento em banda larga fixa. O crescimento do capex de telecomunicações está sendo impulsionado por operadoras nos EUA, Europa e Japão lançando o 5G, expandindo sua infraestrutura de fibra fixa, migrando sistemas para a nuvem e explorando soluções de rede de código aberto.
Alguns comentários finais
A indústria de telecomunicações é fundamental para o desenvolvimento e disseminação das tecnologias de transformação digital, atuando como provedora de infraestrutura de comunicação, transmissão de dados e conectividade. É uma indústria estratégica, tanto do ponto de vista econômico como tecnológico.
O relatório revela a própria transformação digital do segmento de telecomunicações, assumindo novos elementos competitivos relacionados à sinergia com outros tipos de serviços e tecnologias digitais.
De fato, a indústria de telecomunicações é hoje provedora de infraestrutura e provedora de serviços digitais, potencializando a transformação digital de diversos outros segmentos de negócio, e passando pela sua própria transformação digital.
Excelente semana!