Serviço de Apoio Psicológico Remoto oferta reforço à saúde mental em tempos de pandemia

Por Agência Aracaju de Notícias 20/04/2020 14h05
Serviço de Apoio Psicológico Remoto oferta reforço à saúde mental em tempos de pandemia
Marcelle Cristinne

Em tempos de epidemia, pandemia e outras crises, a necessidade de manter a saúde mental fica ainda mais evidente. É o que apontam os estudos da área, a expertise de profissionais e o feedback de pacientes como Jéssica Maria Araújo, de 29 anos, formada em Audiovisual. No início da semana, em meio a um momento de ansiedade, ela encontrou no Serviço de Apoio Psicológico Remoto um canal de atendimento que fez bastante diferença em sua rotina.

 

“O atendimento foi muito bom, o profissional foi bem solícito e me passou informações que reforçaram muita coisa do que eu já sabia, como a necessidade do isolamento e de tentar lidar bem com esse cenário que pode gerar angústia e medo”, ressalta. O atendimento de Jéssica foi um dos 468 realizados até a quinta-feira, dia 16 de abril.

 

Disponibilizado pela Prefeitura de Aracaju, por meio da Rede de Atenção Psicossocial (Reap), desde o dia 6 de abril, O atendimento psicológico conta com 34 psicólogos divididos em turnos, de domingo a domingo, a fim de dar o suporte psíquico necessário às demandas da população nesse momento. 

 

“O serviço foi criado visando ampliar os cuidados de saúde mental, já que, nesse momento de pandemia, a população em geral está passando por situações geradoras de estresse”, afirma a secretária municipal da saúde, Waneska Barboza. Com a ferramenta, a população de Aracaju pode contar com esse apoio qualquer dia e a qualquer hora. 

 

“Devido aos fatores da pandemia, as pessoas têm reações como ansiedade, pânico, preocupação intensa com a sua própria saúde e com a de familiares”, afirma. Essas reações, segundo a coordenadora, já têm gerado mudanças de padrões. “Como no sono e na alimentação e no consumo de álcool e outras drogas, por causa da ansiedade intensa devido ao isolamento. Tudo isso são fatores estressores, que causam fatores físicos e psicossomáticos”, explica a enfermeira Chenya Coutinho, coordenadora do serviço. 

 

De acordo com Chenya, os profissionais que atuam no serviço são os psicólogos das Unidades Básicas de Saúde (UBS), cujo atendimento está suspenso por decreto municipal e por recomendação do próprio Conselho de Psicologia. “Os atendimentos presenciais não estão sendo recomendados, então criamos o serviço para que a população continuasse sendo assistida”, destaca.

 

Para isso, basta ligar para o número (79) 3304-3599. A partir daí, o sistema de atendimento direciona as ligações para um aplicativo utilizado pelos profissionais da área. “Embora não seja uma terapia e sim um serviço de apoio, já que o atendimento não é contínuo, a pessoa pode ligar quantas vezes quiser. Mas ela será direcionada para outro profissional pelo próprio sistema”, esclarece a coordenadora. 

 

A conversa também não tem um tempo limite. “A única restrição é ser residente em Aracaju, já que é um serviço para a população local”, ressalta. Durante o atendimento, a equipe preenche um questionário, a partir do qual,  até agora, já se constatou que 26,7% das ligações tiveram como queixa principal a ansiedade relacionada ao isolamento social. 

 

Em segundo lugar, com 17,9% das ligações registradas, a principal motivação foi o medo relacionado à covid-19. “Até o momento, já foram 468 atendimentos, sendo que 84% das ligações foram realizadas por pessoas com 41 anos ou mais e 74,6% por mulheres”, revela Chenya Coutinho. A maioria das ligações veio dos bairros Grageru, Farolândia, São Conrado, Jabotiana e Santa Maria. 

 

Usuários

No caso de Jéssica Maria Araújo, o novo serviço, visto nas redes sociais da Prefeitura, significou uma possibilidade de conversar sobre seus medos e angústias com alguém de fora do clico familiar e, assim, ter uma nova visão acerca deles. “Eu estava ansiosa por causa de toda essa situação. Já estamos há mais de um mês em reclusão e isso assusta, causa receio. Eu precisava conversar”, afirma Jéssica.

 

De acordo com ela, a conversa com a psicóloga que a atendeu foi sobre se comportar nesse período, manter a calma e lidar com a situação. “Considerando que precisamos ser afetivos com a gente mesmo e não se cobrar tanto”, destaca. Nesse sentido, ligar para o serviço acaba sendo um autocuidado essencial nesse momento. 

 

Um bancário aposentado, de 77 anos, que prefere não ser identificado, também utilizou o serviço num momento de angústia por todo esse cenário de preocupação com a saúde. “Eu sou atendente do CVV (Centro de Valorização da Vida) e nunca tinha estado do lado de cá do atendimento. Resolvi inverter os papéis e aprovei o atendimento. Foi muito bom, a psicóloga foi bem atenciosa, batemos um papo importante”, resume o aposentado.

 

Com três filhos trabalhando fora de casa, inclusive um deles na área de saúde, o aposentado admite que sua maior motivação para utilizar o serviço foi a preocupação com eles. “Mas saí satisfeito, com o objetivo alcançado. Achei uma iniciativa muito interessante, que faz a diferença nesse período de quarentena e pandemia”, reforça.

 

A psicóloga Manuela Araújo Melo é uma das que atendem no serviço da Prefeitura. Para ela, o momento difícil requer atenção também à saúde mental. “E essa é a grande finalidade do serviço. A ideia é que os psicólogos da rede, que estão com o atendimento ambulatorial suspenso por conta das restrições, possam exercer esse trabalho de alguma forma e possam ajudar a quem está em adoecimento psíquico em virtude da covid”, destaca.

 

Segundo a psicóloga, os profissionais já começaram a perceber o surgimento de uma demanda devido ao isolamento. Em geral, segundo Manuela, são pessoas que estão demonstrando sintomas depressivos e de ansiedade por estarem sem poder ver familiares e amigos. “É uma demanda variada, mas que gira em torno das angústias que surgem diante desse momento de pandemia”, resume.

 

Ela acredita que, para os profissionais da área, tem sido o momento de mostrar a importância da psicologia e poder ajudar as pessoas. “Essa é nossa missão, atender e dar suporte a quem precisa, a quem apresenta essas dificuldades emocionais. O intuito é mesmo fazer uma escuta qualificada, de apoio a quem nos procura, assim como possíveis encaminhamentos e orientações. Tudo de acordo com cada caso”, reitera.

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