Artesãs de Sergipe celebram a continuidade do modo de fazer renda irlandesa
As rendeiras sergipanas estão em festa. A fabricação do lacê, peça fundamental para a confecção da Renda Irlandesa, está garantida! Concluindo um longo caminho, que envolveu muita negociação e vários testes de qualidade, elas receberão, no próximo dia 2 de outubro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que celebra a chegada de dez máquinas trançadeiras. Os equipamentos possibilitarão sua autonomia e a continuidade da produção deste tradicional tipo de renda, cujo modo de fazer é considerado Patrimônio Imaterial do Brasil desde 2009. A grande festividade será no Museu da Gente Sergipana, em Aracaju (SE), a partir das 14h. Contará com a presença da presidente do Iphan, Katia Bogéa; do Diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Hermano Fabrício Oliveira Guanais e Queiroz; da superintendente do Iphan-SE, Katarina Aragão, além de representantes dos municípios envolvidos.
O lacê é um cordão achatado, sedoso e flexível que é matéria-prima essencial para as rendeiras. Sem ele, o resultado do trabalho fica comprometido. Por isso, a aquisição das máquinas já é uma importante ação de salvaguarda para garantir a transmissão do Modo de Fazer Renda Irlandesa. A cerimônia inclui apresentação de grupos culturais, música e exibição de um documentário sobre o bem registrado. As máquinas serão destinadas a três associações e uma cooperativa, localizadas entre as cidades de Divina Pastora, Maruim, Laranjeiras e Nossa Senhora do Socorro com o Povoado Estiva. São elas: Associação de Renda Irlandesa, Arte e Talentos de Maruim (Ariaim); Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora (Asderen); Cooperativa dos Artesões de Laranjeiras (Cooperlar); e Centro de Atividade e Desenvolvimento do Povoado Estiva.
Um diferencial
A presença do lacê é o que diferencia, de forma mais visível, a renda irlandesa de outras formas de renda produzida no Brasil. Nos últimos anos, a obtenção desse material pelas rendeiras sergipanas, vinha se tornando cada vez mais difícil no mercado e a qualidade do produto vinha diminuindo, de forma que o nível de compressão do traçado do fio e da fina aba que permite a cobertura do lacê, entre outros aspectos, estava influenciando diretamente na qualidade da renda.
O famoso artesanato sofreu por muito tempo com a dificuldade de se obter o material, gerando constante preocupação das rendeiras. A falta do lacê no mercado foi agravada com a crise da fábrica que produzia e fornecia o lacê na época. Conhecendo os problemas enfrentados para continuidade da prática, o Iphan deu início a uma busca nacional por maquinário que produzisse o lacê. Após várias tentativas, o equipamento que atenderia as exigências técnicas foi finalmente identificado em uma fábrica de São Paulo, e, utilizando um Termo de Ajustamento de Conduta, o Iphan conseguiu adquirir as dez máquinas que serão entregues às detentoras. A renda irlandesa, executada com base no cordão de lacê, deu visibilidade às rendeiras sergipanas, principalmente de Divina Pastora, e passou a ser um dos itens mais destacados do rico artesanato. O lacê tornou-se a marca específica dessa renda.
O caminho das linhas, que resulta em desenhos complexos, ressalta a prática e saberes passados de geração a geração, numa referência cultural. É também elemento de diferenciação e identidade. A atividade delicada que exige atenção minuciosa é traçada por mãos firmes. Atualmente, mais de uma centena de mulheres dedica-se à renda irlandesa, melhorando as condições de vida de suas famílias.
Para as rendeiras dos quatro núcleos de produção, a renda irlandesa é recurso nos seus diversos sentidos. Econômico, pois várias delas conseguiram construir ou mobiliar suas casas com a venda de peças de renda e, além disso, puderam ascender socialmente por meio da educação formal, custeada também pelos ganhos com comércio da renda.
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