Mais de 500 tartarugas adultas são mortas por semestre na costa de Sergipe
Segundo o biólogo Fábio Lira, executor da base de pesquisa em Abais, tal fato tem sido motivo de preocupação por parte da equipe do Projeto Tamar. A pesca de arrasto, por exemplo, é um determinante para esse número preocupante de morte.
De mil filhotes de tartarugas apenas um ou dois chegam à idade adulta. Na costa sergipana, mensalmente são mortas mais 60 tartarugas adultas. Na última segunda-feira (28/04), o Projeto Tamar promoveu a soltura de 600 tartaruguinhas. O momento serviu para comemorar a soltura de 600 mil tartarugas realizada nos 32 anos de atuação do Tamar em Sergipe. No início dos trabalhos do Projeto no estado, a primeira soltura, resultante da temporada 1981/1982, foram apenas de 600 filhotes. Naquele ano, houve o registro de apenas 200 ninhos, hoje são cerca de oito mil ninhos somente nas praias de Pirambu, Abais e Ponta dos Mangues.
Segundo César Coelho, coordenador do Projeto Tamar, tal realidade não estaria se dando se não fosse o envolvimento das comunidades pesqueiras, das prefeituras, da sociedade e de parceiros do Projeto. “Hoje vemos um evento como esse, em que todas as pessoas querem pegar uma tartaruga e levá-la ao mar, o que mostra essa relação de consciência quanto à importância do processo de recuperação das tartarugas. Estamos comemorando muito. Estamos orgulhosos. Sergipe passa a ser o estado brasileiro que mais solta tartarugas ao mar. Antes era Salvador, agora somos nós”. Mas nem tudo vai tão bem assim.
Os números provam o sucesso do projeto. No entanto, se por um lado cresce o número de ninhos e tartarugas libertadas ao mar, cresce também o número de tartarugas adultas mortas todos os meses. Nós últimos oito, mais de 500 tartarugas, sendo 300 delas da principal espécie na costa sergipana: a tartaruga Oliva.
Segundo o biólogo Fábio Lira, executor da base de pesquisa em Abais, tal fato tem sido motivo de preocupação por parte da equipe do Projeto Tamar. A pesca de arrasto, por exemplo, é um determinante para esse número preocupante de morte. O biólogo destaca o fato de que o maior percentual de mortes, inclusive, ocorre no período reprodutivo, entre os meses de setembro a março.Só esse ano, após o período do defeso do camarão, cujo retorno à pesca se deu no dia 16 de janeiro, em um único dia no estado foram encontradas mais de 30 tartarugas mortas.
“Mais de 100% que o mesmo período do ano passado, o que tem nos assustado muito, até porque a maioria desses animais é fêmea, com ovos formados ou em formação, animais em atividade sexual e de reprodução. O fato de apenas uma ou duas tartarugas chegarem à fase adulta, é um processo natural que faz parte da biologia dos répteis, por exemplo, que não tem esse cuidado parental, filhotes vão pro mar e esse processo faz parte da cadeia alimentar natural. O problema é que esse animal, que passa 30 anos para atingir a idade adulta, vem sendo facilmente morto”.
Questionado se não é uma contradição o fato de Sergipe ser agora o estado que promove o maior número de soltura de tartarugas marinhas e ao mesmo tempo matar essa quantidade enorme de adultas, Fábio Lira é contundente: “Nós realizamos um trabalho permanente inclusive com o público alvo, já que o Tamar está nas comunidades onde os pescadores estão. Mas o problema ainda é sócio- econômico. Os pescadores precisam pescar para retirar o sustento dele e de sua família. O problema é que as tartarugas marinhas estão na mesma área em que esses pescadores estão operando. Esse encontro acaba gerando a morte das tartarugas. Fazemos um trabalho na praia e no mar diretamente com esses pescadores para que eles não operem na área que é considerada irregular. Eles entram nas duas milhas, para pegar o camarão, nosso trabalho é no sentido de que eles não operem de maneira irregular”, afirma Lira.
Estoque de camarão em Sergipe está acabando
Outro ponto apresentado pelo biólogo Fábio Lira como causa para o crescimento do número de mortes de tartarugas adultas em Sergipe é a maneira como vem se dando o período de defeso do camarão. “É preciso ver a questão da legislação. Há alguns anos, o defeso do camarão era de 50 dias, do início de maio até 16 de junho.
Muitos armadores tem nos procurado para dizer que não há mais camarão. O banco de camarão do estado não suporta o número de embarcações e o período que elas ficam operando”. Filho de pescador, Fábio conta que o pai dele, antigamente, passava um dia no mar e voltava com a embarcação cheia de camarão. Depois passaram para 48 horas. Hoje em dia as embarcações passas 15 dias no mar e mesmo assim não conseguem há mesma produção de antes. “O estoque de camarão de Sergipe está acabando”, alerta Lira.
O Ecos em Debate esteve conversando com pescadores para saber o que pensam sobre o defeso. O período de defeso é fundamental para a reprodução do camarão e os pescadores tem plena consciência disso. Alguns deles, em recente matéria produzidas pelo Ecos em Debate, manifestaram preocupação quanto à redução do banco de estoque de camarão na costa sergipana.
Alguns armadores, os donos das embarcações, tem procurado o Projeto Tamar para dizer que não há mais camarão. O fato é que o período de defeso tem que ser aumentado. E aqui a preocupação deve ser também com o pagamento, por parte do estado, do seguro pesca a que o pescador tem direito a receber durante o período em que fica sem ir ao mar, sofrem um bocado para receber, afirmam, e sempre recebem já depois do defeso.
Enquanto essa questão não é resolvida, muitos continuam pescando há duas milhas náuticas um camarão menor, jovem e que não vai se reproduzir, lembra o biólogo Fábio Lira. “A quantidade de camarão vai diminuindo à medida que se afasta da costa, mas é um camarão de melhor qualidade, um camarão maior. O que nós defendemos é que o período do defeso seja contínuo. Precisamos dialogar com os pescadores”. O estado também! Os números conquistados pelo Projeto Tamar mostram que trabalho de conscientização traz resultado real.
O número de tartarugas mortas nas três praias citadas nessa matéria mostra que ainda falta muito para ser feito. O evento na tarde de ontem revela o quanto a sociedade espera ver a natureza sendo preservada. É preciso, agora, que o estado também faça melhor a sua parte e dialogue com os pescadores para encontrar uma maneira de garantir uma pesca sustentável do camarão e a vida das tartarugas marinhas.
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