No dia da Sergipanidade conheça algumas personalidades artísticas do nosso estado

Dia é marcado pela exaltação da cultura de Sergipe

Por estagiária Yara Lima sob supervisão da jornalista Luciana Gois 24/10/2020 08h46
No dia da Sergipanidade conheça algumas personalidades artísticas do nosso estado
Yara Lima

Comemorado em todo 24 de outubro, o dia da Sergipanidade é uma celebração importante por sinalizar a independência territorial de Sergipe. Embora a carta régia que tornou nosso estado independente da Bahia tenha sido assinada no dia 08 de julho, foi no dia 24 que chegou por aqui o documento que comprovava a independência.

Sergipe, embora seja territorialmente o menor estado do país, abriga enormes manifestações culturais e artísticas que celebram e exibem as histórias de luta e resistência, e é berço de grandes nomes relevantes quando se pensa na importância da cultura de um povo para o povo.

O Portal A8SE selecionou três expressões diferentes que conversam com a cultura de Sergipe, Artes Cênicas, literatura e música:

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Artista sergipano César Leite

César Leite

O artista sergipano César Leite tem uma bagagem cultural que começou em outras gerações de sua família. Seu avô, o artesão Edgar Rosa Leite, deixou de herança lembranças afetivas de momentos artísticos e culturais que serviram de influência para a ligação que ele tem com a arte. O artista passou por diferentes esferas na arte, a exemplo da dança, teatro, pinturas e confecções. César começou sua carreira ainda menino, ajudando nos trabalhos do avô. À media que foi crescendo, foi vendo a arte se manifestar com mais força.

"Eu fazia muitos desenhos, depois veio a fase da pintura e comecei a pintar loucamente, mas o material custava caro e eu precisava das telas então comecei a confeccionar telas com lençóis da minha mãe. Depois comecei a participar de grupos folclóricos de cultura popular, onde também dancei. Inicialmente a intenção era melhorar minha expressão corporal, mas acabei me apaixonando pela dança”, conta o artista.

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César Leite acompanhado de boneca Genoveva

Cultura Popular

César, que nunca soube ficar parado ou se afastar da arte, criou uma das suas maiores parceiras de trabalho, a boneca Genoveva. Ele conta que o interesse em ter uma boneca de pano já vinha de muito tempo, mas a ideia ganhou vida após conhecer um bonequeiro.

“Quando conheci ele, pedi na hora que me fizesse uma boneca de pano e ele fez, assim nasceu a Genoveva que faz parte da minha vida até hoje e me traz muitas alegrias. Sei que é dessa maneira que também consigo passar a alegria para o público, é assim que a cultura popular permanece na minha vida” afirma o ator performático.

Para o artista, a sergipanidade está em todas as manifestações de cultura popular e na alegria em fazer parte de um projeto.

"Fazer minhas performances e apresentações me trazem tanta alegria que quando faço a sensação é indescritível, arrepia a minha alma, sabe aquela alegria que vem de dentro? Fazer isso é chegar um pouco perto de Deus e, para mim, é isso que é a sergipanidade, o jeito que falamos de nossa arte, nossa fé e nossa comida” conclui César.

Beatriz Nascimento

Maria Beatriz Nascimento foi uma historiadora, professora, poeta, intelectual e ativista negra sergipana. Embora não seja um nome falado com frequência dentro do estado, se mantém viva através de movimentos sociais que usam seu nome e seus trabalhos como inspiração. Nascida em Aracaju no ano de 1942, Beatriz era filha de dona de casa e pedreiro. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Teve alguns de seus trabalhos publicados no livro “Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida da Beatriz Nascimento” por Alex Ratts e no livro “Beatriz Nascimento: intelectual e quilombola. Possibilidade nos dias de destruição”, lançado pela União dos Coletivos Pan- Africanistas de São Paulo (UCPA). Em Sergipe, Beatriz dá nome ao Coletivo de estudantes negros Beatriz Nascimento (CNBN) da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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Beatriz Nascimento

A estudante do curso de história da UFS, Maria Conceição, conta que Beatriz, como a intelectual engajada que foi, é por si só a explicação de ter seu nome estampado no CNBN.

"Ela foi escolhida por ser símbolo e ícone do que em 2018 queríamos realizar dentro da UFS, um processo de organização coletiva para que pudéssemos ser reconhecidos dentro do espaço universitário e ocupá-lo. Então o nome dela, que foi uma intelectual negra sergipana e altamente apagada, foi escolhido para ser o nome que carregamos no coletivo, no sentido de legado de construção de uma verdadeira emancipação afro brasileira por meio da academia, da intelectualidade. Porque ela se torna uma intelectual. Ela se engaja no movimento negro através da academia” disse a estudante.

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Beatriz Nascimento

Para Conceição, o legado de Beatriz Nascimento vai se tornar cada vez mais conhecido conforme a cultura de Sergipe continuar sendo falada.

"Ela não é conhecida, mas vai passar a ser porque sempre damos um jeito de relembrar nossos ancestrais, que vieram antes de nós, construíram o presente que vivemos e lançaram luzes para o futuro que queremos viver. O estado de Sergipe é muito rico culturalmente falando porque foi construído por mãos negras, as culturas são afro sergipanas. Nós demos ao Brasil alguém como Beatriz Nascimento, que em 1980 já estava fazendo reflexões que chegam hoje a academia sobre representação cultural, sobre saúde mental, mesmo que o conceito ainda não fosse conhecido”, explica.

Ela encerra afirmando que é preciso honrar o legado de Beatriz.

"Honrar o legado dela é não esquecer que nós somos seres humanos e, portanto, somos dotados de história, de memória, de sentimentos. Choramos, rimos e nos entristecemos e, assim como ela, devemos lutar para que nossa história seja conhecida”, conclui Maria Conceição.

Zé Américo

Quando se pensa em legado, em história do nordeste e de Sergipe é impossível não lembrar no mercado municipal de Aracaju, onde a cultura do estado está presente em cada pedacinho. Seja nas comidas típicas, nos artesanatos da terra ou nos personagens daquele espaço. E é impossível falar do mercado central e não lembrar de Zé Américo.

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Zé Américo tocando tranquilo

Nascido no povoado Caatinga Redonda, da cidade de Campo do Brito, a vida de Zé Américo está interligada com a cultura de Sergipe. Ele, que começou a tocar sanfona em casamentos e reisados, hoje é por si só um ponto turístico dentro do mercado, sendo um dos maiores sanfoneiros da terra. Há 52 anos que Zé trabalha no mercado municipal de Aracaju. Lá, o sanfoneiro tem um pequeno restaurante que ele mesmo gerencia. Entre um atendimento e outro, ele senta na porta do estabelecimento para tocar sua sanfona e foi assim que ele tirou o sustento para criar e formar os três filhos.

Falta Sergipanidade no Sergipano

Zé Américo

Para Zé Américo, um dos maiores problemas é a desvalorização da cultura pelos próprios moradores.

“O Brasil conhece mais o mercado do que os próprios sergipanos, falta muita sergipanidade aqui ainda, falta muita! Todo dia aqui está cheio de turista, entrando, comprando, fazendo foto, mas os moradores daqui estão no shopping. Eles conhecem todas as vitrines e lojas dos shoppings centers mas desconhecem o centro cultural”, desabafa.

Zé Américo fala também sobre a desvalorização e rivalidade criada pelo próprio comerciante, mas declara seu amor pelo nordeste e pelo estado de Sergipe, onde nasceu, se criou e pretende nunca sair.

“Eu amo Aracaju e amo todo o nosso Sergipe. A nossa arquitetura é a mais bonita da América Latina e as autoridades tem que ver isso, tem que valorizar também e fazer isso crescer mais. O mercado está pouco movimentado, dia de sexta-feira era para ele estar cheio e não está mais assim. O sergipano é um povo muito trabalhador. Sergipanidade é também sobre a gente”, finaliza o sanfoneiro.

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Mercado

Ser o menor estado do país é apenas um fato territorial, pois aqui dentro abriga um mundo inteiro em todas as manifestações artísticas, culinárias e visuais que Sergipe pode fornecer. Seja sobre as paisagens mais naturais ou o pôr do sol mais bonito, seja sobre os artistas ou os espectadores, Sergipe é um grito de cultura e resistência em cada comemoração. Viva a Sergipanidade!

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