Fungos comestíveis e resíduos da agroindústria podem virar embalagens biodegradáveis
O uso e o descarte indevido do plástico têm causado grandes problemas ao meio ambiente, principalmente para a vida marinha. Segundo dados do Fórum Econômico Mundial em Davos, realizado em 2019, estima-se que cerca de 8 milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos todos os anos. Até 2050, a previsão é de que haja mais plástico que peixes nos mares. Além disso, até lá, 99% das aves marinhas já terão ingerido algum tipo de plástico.
Parte desses resíduos que chegam à natureza é de embalagens que, mesmo possuindo potencial de reutilização, não é reciclada. No Brasil, de acordo como o Fundo Mundial para Natureza (WWF), das 11,3 milhões de toneladas de lixo produzidos por ano no país, somente 1,2% é reciclado.
Todos esses dados e projeções têm chamado a atenção de cientistas e pesquisadores no mundo todo. Encontrar alternativas ao uso do plástico e substituí-lo por algo ecologicamente viável têm sido um desafio urgente e cada vez mais necessário. Pensando nisso, a professora Regina Helena Marino e o aluno Maxwell Paca Matos, do departamento de Engenharia Agronômica, desenvolveram uma bioembalagem utilizando micélio (ramificação formada por conjunto de filamentos de células emaranhadas) de fungos comestíveis e resíduos da agroindústria (palha e pó de coco, bagaço, polpa de fruta e papel).
“A vantagem desse produto é que ele é totalmente biodegradável. Enquanto o plástico dura em média de 100 a 150 anos para se decompor, a embalagem produzida com micélio leva em torno 50 dias a depender do tamanho”, afirma Regina.
Diferente das embalagens derivadas do petróleo (plástico e isopor), a produção da bioembalagem com micélios utiliza materiais que normalmente seriam descartados pela agroindústria. É o caso do bagaço da cana e o pó de coco.
“Se pensarmos em termos de aproveitamento, é uma alternativa para qualquer tipo de agroindústria. Por exemplo, na usina [cana de açúcar] tem muito bagaço sem destino. Parte desse material pode ser usado tanto para a produção de energia, quanto para produção de bioembalagens”, conta.
De acordo com os dados do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE, do Banco do Nordeste, Sergipe ultrapassou o Ceará e se tornou o segundo o maior produtor de cocos do país com 234 milhões frutos em 2018. Em relação à cana de açúcar, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para a safra 2018/2019, a estimativa no estado é de crescimento 11,2% da área a ser cultivada em relação à da safra anterior, alcançando um plantio de 41,1 hectares.
Produção da embalagem
Enquanto outros métodos que também utilizam fungos para produzir bioembalagens duram em torno de 180 dias, a produção desenvolvida na UFS leva cerca de 70 dias. É menos da metade do tempo. Essa otimização na produção é graças a um processo que utiliza temperatura e pressão elevada para a assepsia do material.
“Com esse processo você reduz o tempo de produção da bioembalagem, porque não é utilizado o método de compostagem, como em outras pesquisas”, diz Maxwell.
O método de compostagem, citado pelo estudante, consiste em um conjunto de técnicas que estimulam o processo de decomposição de materiais orgânicos. Porém, mesmo proporcionando um destino útil aos resíduos, esse modelo não aproveita todo o material.
“Durante o processo de compostagem, dois terços [do material usado na compostagem] são perdidos na forma de CO². Ou seja, do total, só um terço de composto permanecerá para a produção dessa bioembalagem”, diz Regina.
Dos produtos que podem ser fabricados com esse material, além das embalagens, estão também recipientes e até revestimento acústico. Isso porque o fungo se adapta bem à diferentes formatos de embalagens e ainda é resistente ao fogo, a água e ao impacto.
“A depender do fungo e do tempo, eu tenho uma utilização diferente para essa bioembalagem. Por exemplo, com 30 dias eu posso produzir uma APS de embalagem. Já com 45 dias eu posso utilizá-lo como revestimento acústico”, conta Maxwell.
Após ser utilizado e descartado no meio ambiente, esse produto ainda atua como fertilizante, contribuindo com os microorganismos que habitam um ecossistema. "Além de acelerar o processo de degradação e reduzir a poluição, o produto serve ainda como adubo para o solo, favorecendo assim as suas características físicas, químicas e biológicas", diz Maxwell
Além da professora Regina Helena Marino e do estudante Maxwell Paca Matos, colaboraram também com a pesquisa o professor Marcos Cabral de Vasconcellos Barretto e os estudantes Juan Lopes Teixeira, Larissa de Souza Gois e Mariana da Silva Teixeira - todos do Departamento de Engenharia Agronômica -, e o professor Sandro Griza, do Departamento de Ciência e Engenharia de Materiais.
A pesquisa foi patenteada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e pode ser consultada através do número de pedido BR 10 2017 008495 7.
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