Aracaju coloca 15 ônibus 100% elétricos em operação e se torna a primeira capital do Nordeste com frota desse porte
A chegada de 15 ônibus 100% elétricos marca um novo capítulo na mobilidade urbana de Aracaju. A capital sergipana se torna a primeira do Nordeste a operar uma frota desse porte, em um momento em que cidades brasileiras buscam soluções de baixo impacto ambiental e maior eficiência energética.
A mudança vai além do conforto, embora isso também seja evidente. Usuários relatam viagens mais silenciosas, com ar-condicionado, acessibilidade adequada e tomadas USB. “Eu acho interessante, é confortável, menos poluente e ao contrário desses outros ônibus que a gente é acostumado. E o melhor, ainda tem ar condicionado”, destaca a usuária do serviço, Mariana Max.
Mas a relevância dessa implantação está nos impactos diretos sobre a qualidade do ar, as emissões de gases do efeito estufa e os custos sociais ligados a doenças respiratórias. A operação dos novos veículos deve evitar mais de 1.600 toneladas de CO₂ por ano. Para uma frota inicial de apenas 15 ônibus, esse número revela o peso dos veículos convencionais na poluição urbana.
A bióloga Majane Dias destaca que, se toda a frota superior a 470 ônibus de Aracaju fosse convertida para o sistema elétrico, a mitigação da emissão de gases seria extremamente significativa. O impacto também se estenderia à flora. Árvores que hoje lutam para sobreviver à fuligem acumulada, resultado direto da combustão a diesel , poderiam se desenvolver em um ambiente menos hostil.
“Se fosse dessa forma, onde todos os ônibus convencionais fossem trocados para a frota elétrica, com certeza o impacto seria em médio a longo prazo, justamente porque a poluição precisa se depurada até sentir essa diferença. Como tem muita ônibus com combustão na cidade, talvez a gente não perceba tanto, mas essa já é um avanço com a chegada dessa frota eletrificada”, frisa a ambientalista.
Em termos simples: menos poluentes não significa apenas ar mais limpo, mas também uma cidade mais saudável e ecossistemas urbanos mais equilibrados. A mudança não aconteceu por acaso. A introdução dos ônibus elétricos foi anunciada após estudos de viabilidade comparando custos, modelos de operação e experiências de outras regiões do país. Segundo o superintendente da SMTT, Nelson Felipe, o plano de mobilidade urbana já estabeleceu metas para expandir a tecnologia com pelo menos 20% da frota futura deve ser elétrica.
“A nossa expectativa é que até o final de 2028, mais ônibus desse modal cheguem a capital. Nos também queremos adquirir novos ônibus a diesel, o euro 6, mas a eletrificação da frota será um passo contínuo”, revela o superintendente da Smtt, Nelson Felipe.
A implantação exige mais do que veículos; depende de infraestrutura. Por isso, Aracaju prepara a expansão dos pontos de recarga e prevê novos investimentos em sistemas que garantam a operação contínua, incluindo análises sobre a instalação de uma usina para abastecer os veículos.
Esse cenário coloca a capital sergipana alinhada ao movimento mais amplo observado em cidades da América do Sul, onde políticas públicas de transporte sustentável estão avançando de forma mais acelerada.
Apesar de ainda despertar dúvidas em parte da população, o funcionamento dos ônibus elétricos é simples. Eles contam com autonomia média de 300 km por carga, com processo de recarga que dura cerca de 2h30.
“Esse ônibus tem várias baterias de lítio, com alto poder de armazenamento e que movimentam o motor elétrico, que vai movimentar um eixo diferencial e joga tração nas rodas. Sem falar que os veículos são recarregados com energia elétrica que vem direto da rede pública”, informa o gerente de manutenção, Anderson Vieira.
Na prática, a operação elimina os escapamentos e, com eles, a liberação direta de gases e partículas tóxicas. É a primeira vez que Aracaju circula com uma frota totalmente livre de emissões locais. A poluição atmosférica é apontada há anos como um dos principais agravantes de doenças respiratórias. O pneumologista Saulo Maia D’Ávila Melo destaca que cessar emissões significa reduzir atendimentos, internações e gastos com saúde pública.
“É um efeito imediato e a medida de que você introduz a parte de ônibus elétricos, você está fazendo um verdadeiro controle ambiental. E as repercussões sobre o aparelho respiratório e pela saúde de uma forma geral, traz um retorno imediato”, pontua o pneumologista, Saulo Melo.
Para o Setransp, entidade que representa as concessionárias do transporte coletivo, a chegada dos ônibus elétricos ocorre em um momento estratégico, ja que o investimento em infraestrutura é desafiador, mas necessário. “O setor de transporte recebeu com muita alegria essa iniciativa da prefeitura de adquirir ônibus elétricos, garantindo também o custo e manutenção deles para operar no serviço de transporte. Esses ônibus iriam agregar a frota atual de ônibus, com a chegada da eletrificação e pensando na sustentabilidade”, destaca a presidente do Setransp, Raissa cruz.
Embora o impacto estrutural seja relevante, o cotidiano dos passageiros também muda. Para dona Maria Domingas, de 75 anos, gosto veículo é confortável. Para ela, o desejo é claro: que o avanço se consolide e se expanda.
“Ele é confortável, o piso é baixinho, pra mim que sou idosa né, é muito bom. Viaja bem e a gente fica a vontade no ônibus”, informa Maria.
A mudança tecnológica acendeu expectativas para que as melhorias não se limitem aos 15 veículos atuais.
O uso de energia eólica e solar, amplamente disponível no Nordeste, surge como possibilidade para abastecer os pontos de recarga. A bióloga Majane Dias vê esse movimento como uma consequência natural da transição energética, enquanto o superintendente Nelson Felipe adianta que estudos e licitações relacionados a uma futura usina já estão em análise.
“Nós estamos agora em vias de compra de uma usina fotovoltaica para fornecer energia a concessionária de energia e fazer aquela troca com a empresa. A gente joga energia na rede e eles retornam para a gente aquele crédito”, revela Nelson.
O início da eletrificação da frota coloca Aracaju em uma rota estratégica para reduzir emissões, melhorar a qualidade de vida, modernizar o transporte público e alinhar a cidade a práticas internacionais de sustentabilidade. O desafio daqui para frente será transformar essa primeira etapa em política permanente, consolidando uma mobilidade urbana que seja eficiente, limpa e acessível para todos.
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