Promotoria pede prisão perpétua para Fritzl

Austríaco que trancou e estruprou a filha no porão por 24 anos terá a sentença decretada nesta quinta-feira

30/09/2015 19h06
Promotoria pede prisão perpétua para Fritzl
A8SE

No último dia do julgamento, Fritzl entrou no tribunal com o rosto descoberto (Reuters)

O último dia do julgamento de Josef Fritzl começou nesta quinta-feira, 19, e a promotoria da pediu a prisão perpétua do austríaco acusado de ter prendido em um porão e estuprado por 24 anos. Falando ao júri, Fritzl disse: "Eu lamento do fundo do meu coração o que fiz a minha família. Infelizmente, não posso desfazer o que fiz. Posso apenas tentar limitar o dano da melhor forma que puder".

A promotora Christiane Burkheiser pediu prisão perpétua pela acusação de assassinato por omissão de socorro. Um dos sete filhos nascidos fruto da relação incestuosa de Fritzl com Elisabeth no porão de sua casa morreu em 1996 aos dois dias de vida. As acusações de Burkheiser duraram apenas 20 minutos, já que a promotora considerou que não há dúvida sobre a culpabilidade do acusado em todas as acusações - assassinato, estupro, escravidão, coação, incesto e privação de liberdade.

A advogada que representa Elisabeth, Eva Plaz, voltou a solicitar que Fritzl seja responsabilizado pela morte do recém-nascido. De acordo com as leis austríacas, Fritzl deverá cumprir a pena mais alta dentre as que recebeu pelos crimes cometidos. Neste caso, a sentença seria estabelecida com base no crime de homicídio por negligência, que de acordo com a lei prevê de dez a vinte anos de prisão, com possibilidade de prisão perpétua dependendo da gravidade do caso. Juridicamente, uma confissão pode ajudar a diminuir a severidade da pena.

O veredicto será emitido por um júri no quarto dia do polêmico julgamento e cerca de 11 meses depois que foi revelado que ele manteve sua filha Elisabeth, com quem teve sete crianças, por quase um quarto de século no porão de sua casa na cidade de Amstetten, a 80 quilômetros de Viena.

Os três juízes que conduzem o caso formularão aos oito membros do júri um questionário sobre cada um dos seis delitos de que Fritzl é acusado, entre eles assassinato por omissão de socorro a um bebê recém-nascido fruto da relação incestuosa que teve com Elisabeth. Depois, o júri se retirará para deliberar e, já à tarde, emitirá o veredicto e ditará, junto aos juízes, a condenação correspondente, que pode variar entre um ano de reclusão e prisão perpétua.

O acusado entrou no tribunal da cidade de Sankt Pölten com o rosto descoberto e acompanhado por vários policiais perto das 9 horas (5 horas, Brasília), após ter se declarado na quarta-feira culpado de todas as acusações, incluindo a de assassinato, o que pode facilitar a tarefa do tribunal de sentenciá-lo à prisão perpétua. Segundo o réu, o depoimento na terça-feira de sua filha, Elisabeth, aprisionada quando tinha 18 anos, levou-o a admitir os crimes.

Segundo a BBC, Adelheid Kastner, a psiquiatra que traçou o perfil psicológico de Josef Fritzl, sugeriu que ele fosse confinado numa instituição para pacientes com demências anormais. Num depoimento à TV local ORF, a profissional que passou um total de 25 horas entrevistando o acusado afirmou que é grande a possibilidade de ele tentar cometer suicídio. "Quando ele confessou seus crimes, chegou o momento que seu castelo de cartas desmoronou. Ele terá problemas para conviver com sua nova realidade", afirmou Kastner.

A polícia austríaca agora está investigando se existe a ligação de Josef Fritzl com outros quatro casos de homicídios ligados à violência sexual que ocorreram na Áustria em locais perto de onde ele morou. Os delitos ocorreram entre 1966 e 2007. A polícia já fez buscas na casa de Fritzl atrás de objetos destas vítimas, mas não encontrou nada. Como suspeito, ele pode ser submetido a interrogatórios sobre cada um dos casos.


"Playground" do horror

A confissão foi feita na sessão de quarta do julgamento, após a juíza Andrea Humer perguntar se Fritzl desejava acrescentar alguma informação ao caso. "Reconheço que sou culpado", disse. "E me arrependo por meu comportamento doentio", Andrea, então, o questionou sobre o motivo da súbita confissão. "Confesso por causa do depoimento (de terça-feira) de minha filha", respondeu. Elisabeth depôs no segundo dia de julgamento por meio de vídeo - porque não queria ver novamente o pai. Seu testemunho durou cerca de 11 horas.

Engenheiro aposentado de 73 anos, Fritzl manteve a filha em cativeiro entre 1984 e 2008. O austríaco, entretanto, havia negado responsabilidade pela morte de um dos gêmeos que teve com a filha em 1996. Ontem, ele voltou atrás e admitiu não ter prestado socorro à criança. "Você não reparou que ele (o bebê) estava gravemente doente?", perguntou a juíza. Fritzl respondeu calmamente: "Eu apenas o olhei de relance. Pensei que a criança sobreviveria. Só ontem (anteontem) percebi pela primeira vez como fui cruel com Elisabeth. "

Também na quarta, o réu admitiu culpa integral nas acusações de estupro e escravidão. Até então, ele tinha dito que era apenas "parcialmente culpado" por violentar e escravizar a filha. Segundo a acusação da promotoria, Fritzl prendeu Elisabeth em 29 de agosto de 1984, após amordaçá-la e levá-la ao porão de sua casa, em Amstetten. A filha foi acorrentada a uma cadeira, para que não pudesse fugir do cativeiro. No dia seguinte, ele começou a estuprá-la, prática que manteria nos 24 anos seguintes, até mesmo diante dos filhos.

Segundo a promotora Christiane Burkheiser, "a cela era o playground de Fritzl e sua filha, seu brinquedo". O cativeiro foi descoberto no ano passado, quando uma das filhas que ali vivia, de 19 anos, ficou doente. Fritlz levou-a a um hospital e os médicos desconfiaram de seu aspecto - ela era pálida demais, pois nunca tinha visto a luz do dia. Em seguida, o engenheiro foi preso.

Fonte: Estadão

 

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