Especialistas afirmam que Brasil pouco tem a perder caso Milei corte relações políticas

O Brasil é um dos principais parceiros comerciais da Argentina, mas Milei diz que não quer manter relações com Lula

Por redação Portal A8SE e R7 21/11/2023 18h48
Especialistas afirmam que Brasil pouco tem a perder caso Milei corte relações políticas
Foto: Natacha Pisarenko/AP

A vitória de Javier Milei como o novo presidente da Argentina, eleito no último domingo (19), tem gerado polêmica, sobretudo nas redes sociais. Internautas brasileiros apontaram as semelhanças do discurso do argentino com as ideias que Jair Bolsonaro, ex-presidente brasileiro, defende.

Para além do jeito excêntrico e discurso conservador, o que também chamou a atenção é que Milei disse que não irá manter boas relações com o presidente Lula, e chegou a chamá-lo de corrupto, ladrão, comunista e presidiário. Durante a campanha eleitoral, Milei adotou uma postura radical, conservadora e de extrema-direita, definindo-se como ultraliberal, o oposto de Lula.

Porém, segundo especialistas, caso as relações com o Brasil sejam balançadas, quem tem mais a perder é a Argentina, mesmo se forem considerados apenas os aspectos comerciais. Isso porque o Brasil é o maior comprador de produtos argentinos, mas a Argentina está apenas em terceiro lugar entre os maiores fornecedores do mercado brasileiro, atrás da China e dos Estados Unidos, segundo dados da CAC (Câmara Argentina de Comércio e Serviços).

Ainda, isso não significa que Milei vá cortar relações com o Brasil. "Pode haver um esfriamento das relações, exatamente pela falta de proximidade ideológica, como aconteceu no período em que o presidente era Jair Bolsonaro, que não tinha afinidade com Alberto Fernández [o atual líder do governo argentino]", analisa o cientista político Leandro Consentino, professor do Insper.

Leandro acredita que muita coisa do que Milei falou enquanto era candidato foi dita apenas para ganhar o voto dos eleitores, e pode ficar só em nível discursivo. "Lideranças populistas verbalizam muito, mas não realizam, têm uma retórica forte, que não costuma passar para a ação", salientou o cientista.

Já para Victor Missiato, analista político, doutor em história política e professor do Colégio Presbiteriano Mackenzie, o rompimento total das relações entre os dois países é improvável. "É importante lembrar que Milei não vai poder fazer tudo o que quiser, porque a maioria do Congresso é mais peronista [alinhado com Fernández e sua antecessora, Cristina Kirchner, ambos apoiados por Lula]", disse Victor.

Conheça Milei:

Milei se elegeu pela coligação La Libertad Avanza, e durante todo o período anterior ao pleito. Com formação em economia, o político tem apenas dois anos de experiência nessa carreira, estreando como deputado de la Nación em 2021.

Ele é contra o aborto, mesmo que seja decorrente de abuso sexual, e quer proibir a educação sexual nas escolas. Também nega a existência do aquecimento global, a eficácia das vacinas e a veracidade da pandemia da covid-19, além de defender o livre porte de armas, ideias que o aproximam do ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Não é raro ele também ser comparado com Donald Trump, o ex-presidente do Estados Unidos, já que, além do pensamento conservador, construiu sua carreira na iniciativa privada.

Entre as propostas de Milei para a economia da Argentina, estão a eliminação do Banco Central e a dolarização da economia. Em relação ao comércio exterior, ele diz que os empresários e produtores devem ter liberdade para conduzir as negociações livremente, sem regulação ou interferência do Estado.

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