Caso Genivaldo Santos: método de asfixiar prisioneiros em veículo era usado por nazistas e União Soviética

Fato histórico foi levantado nas redes sociais após homem morrer asfixiado com gás em viatura da Polícia Rodoviária Federal de Sergipe.

Por Diego Alejandro, do R7* 31/05/2022 05h52
Caso Genivaldo Santos: método de asfixiar prisioneiros em veículo era usado por nazistas e União Soviética
O caminhão usado pelos nazistas asfixiava com os gases produzidos pelo próprio veículo Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

Após Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, portador de transtorno mental, morrer asfixiado em uma viatura em decorrência de uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal em Sergipe, diversas postagens nas redes sociais relembraram que a Alemanha nazista tinha um caminhão modificado que usava gás para matar inimigos do Estado ou alemães que, na concepção do regime, não seriam úteis ao sistema.

Checamos e vimos que não somente os nazistas, mas também os comunistas soviéticos já utilizaram essa prática para assassinar seres humanos.

A invenção macabra nasceu na União Soviética em 1936, de acordo com o site americano War History Online, que traz notícias históricas sobre guerras e operações militares.

A criação, segundo reportagem de 2015, é atribuída a Isay Berg, uma das autoridades do Ministério do Interior do país. "Camuflada como van de panificadora, ele a usava para sufocar lotes de prisioneiros com fumaça de motor, enquanto se dirigia para as valas comuns em Butovo, local de execução da polícia secreta soviética no interior de Moscou, onde os corpos eram posteriormente enterrados."

Aceleração das mortes

O site Facing History and Ourselves reproduziu em inglês uma carta de 1942 na qual um segundo-tenente da SS alemã (a polícia nazista), doutor August Becker, relatava um problema surgido em uma dessas câmaras de gás nos automóveis.

Em seu relato, dirigido a uma autoridade do país, a instrução de pisar forte no acelerador para descarregar mais monóxido de carbono nas vítimas deu bom resultado:

"A gaseificação geralmente não é realizada corretamente. Para terminar a ação de forma rápida, o motorista pressiona o acelerador o máximo possível. Como resultado, as pessoas a serem executadas morrem sufocadas e não cochilam como planejado. Ficou provado que, se as minhas instruções forem seguidas e as alavancas estiverem devidamente ajustadas, a morte chega logo, e os prisioneiros adormecem pacificamente. Faces distorcidas e excreções, como as observadas antes, não ocorrem mais", afirmou o segundo-tenente.

August Becker citava na mesma carta que os alemães envolvidos na operação reclamavam de dores de cabeça, por isso recomandava que eles ficassem o mais distante possível durante o processo de intoxicação.

Usando como base reportagens que citaram os veículos mortais soviéticos e nazistas, é possível recolher alguns detalhes de como a operação era feita.

O site War History Online contou que, além de assassinados, os prisioneiros eram roubados e ficavam nus.

Antes do passeio, as vítimas eram obrigadas a entregar seus objetos de valor e a se despir. As duas portas no baú, na parte de trás do caminhão, ficavam trancadas, e uma mangueira era presa ao escapamento. Para acalmar os ocupantes por alguns minutos, a lâmpada do interior do carro era acesa. Em seguida, o motorista ligava o motor e o deixava em marcha lenta por cerca de 10 minutos.

Durante esse tempo, o motor produzia tanto monóxido de carbono que as vítimas sufocavam. Isso era ajudado pela falta geral de ar no porão superlotado.

De acordo com Aleksandr Solzhenitsyn, preso político do regime soviético e historiador russo cujas obras revelaram ao mundo as atrocidades cometidas nos campos de concentração da União Soviética, o método de execução móvel foi inicialmente aplicado para evitar o impacto negativo das execuções de civis e para reduzir as longas filas de condenados.

No livro só lançado em russo e que, em tradução livre, se chamaria "Duzentos Anos Juntos", Solzhenitsyn diz que, como "os carrascos não sabiam o que fazer com a carga, encontraram uma solução: despir as vítimas, amarrá-las, tapar suas bocas e jogá-las em um caminhão fechado". Assim, elas já estariam mortas no momento de entregá-las à vala [de execução], mais distante.

Berg nunca assumiu a autoria do furgão de gás.

A Alemanha nazista iniciou experimentos com gases venenosos um pouco depois. Procurando um método adequado de matar, o alto-gabinete alemão decidiu gaseificar as vítimas com monóxido de carbono. Em outubro de 1939, o método foi aplicado no Forte VII, perto de Posen, Polônia. As primeiras vítimas foram poloneses e judeus internos de asilos para doentes mentais. Os nazistas chamavam de “eutanásia”, referindo-se ao assassinato sistemático de prisioneiros “indignos da vida”.

Documentos do Instituto de História Contemporânea de Munique e testemunhas relatam que, a partir de dezembro de 39, câmaras de gás móveis foram usadas para matar os internos de asilos e manicômios na Pomerânia, Prússia Oriental e Polônia.

Nazistas usaram método em vários momentos

As vans ou pequenos caminhões foram construídos para o destacamento SS-Sonderkommando, e seu uso deveria acelerar os assassinatos. De 21 de maio a 8 de junho de 1940, Herbert Lange, comandante da tropa e de vários campos de concentração, matou 1.558 prisioneiros em Soldau, na Polônia.

No campo de concentração de Chelmno, havia três "vans de gás", informa a Jewish Virtual Library (Biblioteca Virtual Judaica). A entidade conta que os judeus levados ao extermínio eram espancados antes de entrar no veículo. 

Em outro texto, a Jewish Virtual cita também que, em agosto de 1941, numa de suas viagens à Rússia, Himmler participou de uma demonstração de um fuzilamento em massa de judeus em Minsk que o fez vomitar. Recuperando a compostura, o chefe nazista decidiu que métodos alternativos de matar deveriam ser encontrados, e que fossem menos estressantes para os assassinos.

Harry Wentritt, mecânico encarregado de produzir os veículos, registrou o pedido feito pelo regime alemão em um depoimento prestado em 1961, coletado pela Jewish Virtual Library. "Ainda em 1941, fui levado ao chefe do departamento de polícia, major Pradel. Ele me disse que os fuziladores sofriam muitas vezes de colapso nervoso ou estavam próximo disso, de modo que deveria ser criado um método de abate humanitário. Precisávamos, portanto, como disse Pradel, de vans/veículos motorizados fechados e lacrados."

Assim, observando o êxito em Soldau, os automóveis começaram a ser mais empregados por campos de concentração. Em Chełmno, o primeiro campo de extermínio dos nazistas e comandado por Lange na época, estima-se que milhares de pacientes de asilos, poloneses, ciganos, judeus e prisioneiros de guerra perderam a vida, sufocando na traseira dos caminhões de gás.

As vans pararam de ser usadas após a invenção das câmaras de gás, por ser um método ainda mais eficiente. Até o fim da Segunda Guerra, todas as vans foram destruídas ou reutilizadas.

O War History Online diz que a existência dos caminhões de gás veio à tona em 1943, durante o julgamento de colaboradores nazistas envolvidos no assassinato de civis em Krasnodar, na Rússia. De 30 a 60 civis foram executados entre 21 e 22 de agosto de 1942 por membros do Sonderkommando.

O número total de assassinatos cometidos nos caminhões de gás é desconhecido.

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