Complexo e ousado, 'Barbie' é considerado grande filme do ano

Live-action assinado por Greta Gerwig põe a boneca mais famosa do mundo para lidar com assuntos profundos, mas também entrega humor de sobra e muita emoção.

Por Felipe Gladiador, R7 20/07/2023 07h23
Complexo e ousado, 'Barbie' é considerado grande filme do ano

A poderosa campanha de divulgação do livre-action da Barbie, considerada boneca mais famosa do mundo, ganhou proporções gigantescas. Nas últimas semanas, a sensação era que você iria "esbarrar" com o mundo cor-de-rosa da personagem em qualquer lugar que olhasse.

Além dos materiais de promoção do filme, que estreia oficialmente nesta quinta-feira (20), uma infinidade de produtos tomou conta das prateleiras dos mais variados tipos de loja. A turnê do elenco por vários países também rendeu cenas que viralizaram na web. Tudo foi ampliado quando especialistas em cinema deram suas primeiras impressões, quase todas extremamente positivas.

As expectativas foram criadas, mas não há dúvida de que todas são superadas facilmente. Com um roteiro ousado e complexo, Barbie é mesmo o grande filme do ano até aqui.

Estrela do longa, Margot Robbie revelou em uma entrevista que ficou empolgada ao ler o roteiro pela primeira vez, mas foi sincera, confessando que não imaginava que o filme um dia seria feito. Agora é possível entender exatamente o que a protagonista da superprodução quis dizer.

A trama de Barbie parte de uma ideia que, na teoria, é bem simples. No entanto, conforme tudo se desenrola, as coisas vão ficando mais e mais profundas.

Este é um daqueles filmes em que, dependendo do clima, o resultado poderia ter dado completamente errado, mas as mãos talentosas da cineasta Greta Gerwig conduzem a história para lugares inesperados e muito ricos. A diretora de Lady Bird e Adoráveis Mulheres comprova mais uma vez por que é um dos nomes mais interessantes de Hollywood dos últimos anos.

Não dá para revelar muito da trama, porque é mesmo o fator surpresa que intensifica as sensações de quem assiste: das risadas às lágrimas, das reflexões aos comentários sociais. Além de dirigir o filme, Greta assina o roteiro ao lado do amado, o também cineasta Noah Baumbach, de Frances Ha, História de um Casamento e Ruído Branco. E o casal se mostra afiadíssimo ao criar diálogos potentes. Foi realmente preciso coragem de todos os envolvidos para dar a esse universo um tom em que tudo fizesse sentido. E faz.

Entre a ironia e o humor sem filtros, Barbie não perde a chance de fazer críticas e lançar inúmeras alfinetadas, algo que os mais conservadores podem até enxergar como "lacração", termo que ganhou contexto pejorativo nos últimos tempos. Acontece que o filme não poupa ninguém, sabendo fazer piada com inúmeros temas, incluindo as polêmicas que envolvem a boneca ou a Mattel, empresa que tem os direitos da personagem. Nem mesmo Margot Robbie, que também trabalha como produtora-executiva, escapa das brincadeiras. 

O maior acerto do filme está em balancear perfeitamente todos esses elementos, fazendo com que nada pareça caminhar para o destino errado. Até mesmo os exageros são propositais, calculados para se encaixar no todo da produção.

A escolha de Margot Robbie já era tida por muita gente como um daqueles casos em que a escalação do artista é inerente ao projeto. Margot casa não somente com o visual clássico do brinquedo, mas traz a energia que você espera de uma personagem como essa. A atriz entrega aqui a performance mais forte da carreira, impressionando com as nuances que explora enquanto Barbie vai questionando o mundo e tentando entender tudo o que está sentindo.

Margot tem excelente timing cômico, que se funde ao humor perspicaz do filme, mas, além de arrancar gargalhadas, ela encanta o público. Há uma cena específica em que a estrela consegue passar uma gama de emoções sem dizer uma única palavra. Um momento tocante e poderoso.

A habilidade de Greta Gerwig de captar sentimentos é belíssima e rende cenas como essa acima, que prometem ficar gravadas na mente de muitos dos espectadores. A diretora também impressiona aqui com a preferência por usar muitos cenários reais e efeitos práticos, decisão que dá ainda mais charme a um filme que já tem isso de sobra, em todas as frentes.

O elenco certamente é um dos maiores destaques. Além de Margot, Ryan Gosling brilha como Ken. Sem medo do ridículo, item essencial para o personagem, o ator também consegue se superar e entregar uma atuação que merece ser aclamada. Talvez seja cedo para prever indicações, mas os dois artistas apresentam trabalhos dignos de premiações. E o filme como um todo também tem chance de bombar nos eventos de cinema do próximo ano.

Quem também arrasa em cena é America Ferrera, com um papel menor, mas de muita importância para a história. Um discurso da personagem rende um dos melhores momentos do filme. 

Outro ponto alto é a trilha sonora, assinada por Mark Ronson e Andrew Wyatt, nomes por trás de um dos maiores fenômenos musicais dos últimos anos, a versão com Lady Gaga de Nasce Uma Estrela. Canções de artistas como Lizzo, Charli XCX, Ava Max, Karol G, Fifty Fifty e Kaliii, Nicki Minaj e Ice Spice, Sam Smith, Dua Lipa e Billie Eilish são selecionadas a dedo para os momentos em que são tocadas na projeção. 

Talvez Barbie não seja o filme que você esperava, mas eu garanto que isso é a melhor coisa que poderia acontecer. Greta Gerwig desenvolve uma trama intensa, cheia de camadas, e nos guia por uma jornada que pode não ser fácil, mas é linda e muito gratificante.

A boneca teve um grande impacto em diversos momentos da cultura pop, e eu arrisco dizer que o filme também vai entrar para a história. Tenho a sensação de que estamos diante de um daqueles clássicos instantâneos.

Assim como o rosa não sai de moda, a Barbie promete continuar se transformando constantemente e se mantendo relevante. Se depender deste filmaço, ela terá vida longa.

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