Juventude sergipana enfrenta tabus e inseguranças sobre saúde sexual

Especialistas defendem diálogo, acolhimento e escuta ativa para lidar com uma sexualidade mais consciente e saudável

Por Jennifer Nyrla e Moisés Gomes 30/12/2025 14h04
Juventude sergipana enfrenta tabus e inseguranças sobre saúde sexual
Reprodução/Internet

Mesmo com acesso à informação, jovens em Aracaju ainda enfrentam desinformação, cobrança por performance e culpa. Especialistas defendem diálogo, acolhimento e escuta ativa para lidar com uma sexualidade mais consciente e saudável.

Na capital sergipana, a brisa do mar pode até aliviar o calor das tardes, mas não refresca os silêncios que ainda pairam sobre os corpos e desejos da juventude. Em pleno 2025, falar sobre saúde sexual ainda parece um campo minado para muitos jovens em Aracaju. Entre desinformação, julgamentos e inseguranças, o que era para ser natural se torna fonte de ansiedade, culpa e medo.

É comum ouvir histórias de jovens que não conseguem conversar sobre seus desejos nem mesmo durante consultas médicas; de adolescentes que acreditam em mitos sobre prevenção; e de universitários que enfrentam crises de autoestima ligadas ao desempenho sexual. Ao lado deles, especialistas tentam romper as barreiras do silêncio com empatia e escuta ativa.

A maioria dos jovens relata sentir pressão para ter experiências sexuais, mesmo sem saber o que isso significa para si mesmos. A comparação constante com os padrões das redes sociais e a falta de espaços seguros para tirar dúvidas fazem com que muitos vivam uma sexualidade marcada pela insegurança.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde sexual como um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social relacionado à sexualidade ,não apenas a ausência de doenças. Isso significa que autoconhecimento, prazer, consentimento e respeito também fazem parte da equação.

Em Aracaju, iniciativas como rodas de conversa promovidas por coletivos estudantis e oficinas em escolas têm tentado ocupar esse vácuo. Mas, segundo especialistas, o avanço depende também de uma mudança de postura entre profissionais da saúde.

Para a psicóloga Mayra Santos Figueirôa, formada pela Universidade Federal de Sergipe e pós-graduada em Psicologia do Desenvolvimento e em Psicologia Escolar e Educacional, a cobrança por performance e os padrões idealizados impactam diretamente a saúde emocional dos jovens e sua forma de se relacionar.

“Essa cobrança por performance expõe os jovens a uma vivência superficial e midiática da sexualidade. Falta paciência para conhecer o próprio corpo, para entender o corpo do outro. Com isso, surgem frustrações por não corresponder ao que se imagina ser o ‘certo’, muitas vezes idealizado a partir de um vídeo na internet”,

explica.

“Essa cobrança por performance expõe os jovens a uma vivência superficial e midiática da sexualidade. Falta paciência para conhecer o próprio corpo, para entender o corpo do outro. Com isso, surgem frustrações por não corresponder ao que se imagina ser o ‘certo’, muitas vezes idealizado a partir de um vídeo na internet”, explica.

Segundo ela, o sexo acaba se tornando um ato com foco apenas no resultado, e não na experiência de conexão. A influência da internet, da pornografia e de músicas com mensagens padronizadas sobre o comportamento sexual também contribui para essa visão distorcida.

A comparação com padrões irreais, comuns nas redes sociais, é outro fator que contribui para esse cenário. Mayra reforça a importância de um olhar crítico no trabalho clínico com jovens “Essas expectativas 'irreais' nascem do que é mostrado como realidade para aquela pessoa. Na clínica, o importante é compreender o que levou aquele jovem a enxergar algo como certo, errado, desejável ou rejeitável. É olhar com estranheza o que parece natural e com gentileza o que nos parece estranho. Nesse movimento, despadronizados e desidealizamos, até construirmos algo mais saudável para lidar com a vida”.

Quando o assunto envolve jovens que internalizaram julgamentos morais ou religiosos rígidos, o acolhimento também é essencial. “ O primeiro passo é normalizar esse conflito. Vivemos cercados por instituições normatizadoras ,família, escola, religião, Estado, entre outras que moldam nossa formação e estrutura psíquica. O processo clínico busca justamente compreender o sentido que esses julgamentos têm para aquele jovem e ajudá-lo a reformular esses desejos e culpas com mais leveza e consciência”, completa.

ONDE BUSCAR APOIO EM ARACAJU:

  • Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS)
  • Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA)
  • Atendimento Psicológico Gratuito para Estudantes da Universidade Federal de Sergipe

*Matéria produzida pelos estágiarios do Portal A8SE, com supervisão de Laura Marcelino - Drt: 0002961/SE

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