Para guerrilha, soltar Dilma não era prioridade
Documento da Marinha reproduz texto atribuído à VPR em que ela é excluída de lista preferencial de trocas

Documento atribuído pelo Centro de Informações da Marinha (Cenimar) à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organização de resistência armada à ditadura (1964-1985), exclui a hoje ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, das prioridades centrais da guerrilha urbana para libertação de presos políticos em 1970.
Encaminhado pelo órgão de repressão oito dias antes do sequestro do embaixador alemão ocidental Enfried Von Holleben, o texto lista 28 ativistas cuja liberdade deveria ser priorizada nas ações, mas destaca 19 com um "X" para ter "preferência em função de suas implicações". Presa por integrar a direção da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), Dilma não estava entre os marcados para liberdade imediata.
O texto foi obtido pelo Estado no Arquivo Nacional, no acervo da extinta Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça, e se chama "Considerações sobre os objetivos de uma operação de sequestro". É apresentado pelo Cenimar sob o título de "Informação", de 3 de junho de 1970, número 278. "O documento em anexo foi elaborado pela VPR. Devemos estar preparados (...) para este aspecto da guerra revolucionária", diz. "Com as recentes quedas de militantes importantes, acreditamos que o risco dos sequestros aumenta dia a dia."
Em abril de 1970, ocorreram mais de 70 prisões, a partir de infiltração da Marinha na Frente de Libertação Nacional, que tinha contatos com a VPR e o MR-8. O texto diz que as trocas de presos por diplomatas causavam "profunda irritação" na oficialidade jovem e poderiam gerar "sérios problemas".
O Cenimar afirma que o documento de seis páginas é uma "cópia". No fim, traz os 28 nomes, distribuídos em quatro grupos, cada um por processo: dez para o da "VPR do começo de 69"; dez para o da ALN (Ação Libertadora Nacional); cinco para o da Ala Vermelha (dissidência do Partido Comunista do Brasil); e três para o da VAR-Palmares.
Quatorze dos 28 foram soltos nos sete meses seguintes: sete trocados pelo embaixador da então Alemanha Ocidental, Enfried Von Holleben (outros 33 foram libertados), e sete pelo embaixador da Suíça, Giovanni Enrico Bucher (outros 63 ativistas foram liberados) . Apenas 4 dos 14 não tinham o "X" ao lado do respectivo nome.
"Após discussão entre companheiros das várias organizações obedecendo ao critério de importância política, em termos de contribuição imediata no processo, combinado com a implicação jurídica dos companheiros, relacionamos que devem ser prioritariamente libertados", diz o texto, antes de apresentar as quatro listas. Depois dos nomes, vem a observação: "(X - estes companheiros deve-se dar preferência em função de suas implicações)."
Nenhum dos três nomes da lista da VAR-Palmares - incluindo Dilma - foi incluído nas listas de troca. Dos dez da VPR, organização que participou dos dois sequestros, só dois não foram trocados pelos diplomatas. Pelo menos um, Antonio Roberto Espinosa, fora para a VAR-Palmares. Três dos dez listados pela ALN, que participou da ação contra Holleben, também foram trocados. Dos cinco listados do processo da Ala Vermelha, três foram incluídos em listagens para libertação. Curiosamente, elas incluíram só uma das quatro mulheres mencionadas. Nenhum dos três ativistas da VAR foi trocado.
O DOCUMENTO
O texto começa por constatar a "insuficiência de quadros que possam desenvolver as tarefas que a revolução coloca a cada momento" e por dizer que era preciso superar essa insuficiência não só pela formação, mas também "indo buscá-los onde existem em grande número: nas prisões da ditadura". Também afirma que os presos políticos "se colocaram na linha de frente" e, nas mãos da repressão, "sustentaram um tipo de luta que os amadureceram contribuindo para a elevação do seu nível técnico ideológico".
Lembra a "importância que se dá aos revolucionários presos enquanto quadros (...) e uma acumulação do movimento revolucionário internacional quando considera a cadeia como uma escola de revolucionários".
No documento em questão, a VPR argumenta que os meios tradicionais de propaganda da esquerda têm "alcance muito limitado" e afirma que os sequestros colocavam nas mãos da oposição "revolucionária", durante certo tempo, o que chama de "todos os instrumentos de propaganda da ditadura". "Dessa maneira, coloca-se rádio, TV e a imprensa a serviço da revolução", destaca o documento.
O texto dá instruções sobre como os sequestradores deveriam se comunicar com a ditadura, a população, a comunidade estrangeira e a família do sequestrado, além de ensinar como proceder na negociação. E lista o perfil dos "sequestráveis": diplomatas dos EUA, Inglaterra, Alemanha Ocidental, Japão e Israel; dirigente de grupos econômico internacional; político brasileiro.
Para elaborar a lista de presos para trocas, segundo o documento, os critérios a serem obedecidos eram: "I) importância política do quadro; II) implicação jurídica." O texto diz ainda que o número de presos cuja libertação deveria ser exigida poderia variar de acordo com a importância do sequestrado e com a conjuntura política.
Reclama, porém, da "subestimação" da importância da ação nos sequestros do embaixador dos EUA, Charles Burke Elbrick, trocado por 11 presos, e do cônsul japonês Nobuo Oguchi, libertado em troca de cinco ativistas. "As ações possibilitavam a libertação de 25 revolucionários, cada uma."
As listas dos dois outros sequestros foram maiores. Um dos trocados pelo alemão foi o hoje ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. "Abraços a todos os companheiros dos presos da VPR. Até breve, juntos de armas nas mãos. VENCEREMOS", encerra o texto.
MILITARISMO
Outro documento arquivado na DSI-MJ indica, porém, que a VAR não abria mão do aspecto "militar". Um texto atribuído à organização, sem data, sob o título "Resoluções do Comando Nacional", determinava que fosse acrescido ao artigo 20 de seus estatutos um parágrafo único. "No caso de pena de justiçamento (assassinato), expulsão ou desligamento, o militante deverá ser ouvido anteriormente à sua aplicação, exceto quando a Organização estiver absolutamente impossibilitada de fazê-lo", diz o documento.
Fonte: Estadão
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