Caso Battisti: Itália ameaça barrar Brasil no G-8
A Itália convocou seu embaixador em Brasília de volta a Roma e afirmou que vai continuar a pressionar por uma revisão da decisão do Brasil de dar status de refugiado político ao ex-ativista de extrema-esquerda, Cesare Battist.

Em um claro sinal de protesto e de agravamento da crise, a Itália convocou seu embaixador em Brasília de volta a Roma e afirmou que vai continuar a pressionar por uma revisão da decisão do Brasil de dar status de refugiado político ao ex-ativista de extrema-esquerda, Cesare Battisti. Os italianos, que presidem o G-8 (grupo dos países ricos) ainda insinuaram que podem dificultar um convite ao Brasil para participar da próxima reunião do grupo de elite das grandes potências. O embaixador da Itália no Brasil, Michele Valensise, já regressou a Roma.
"Estávamos prontos para acolher o Brasil e escoltá-lo para o G8", afirmou o vice-ministro de Relações Exteriores da Itália, Alfredo Mantica. "Mas agora vivemos uma desilusão profunda", disse Mantica, à Radio3 Mondo.
Em plena crise mundial, o G8 estuda uma nova participação dos países emergentes. Lula, assim como os presidentes da China, Índia e outros, eram sempre convidados aos encontros, mas não tinham voto nas decisões. Em 2009, porém, a Itália queria aproveitar sua presidência no grupo para oficializar a entrada dos países emergentes no
O vice-ministro se disse "indignado" com o Brasil. "Lula coloca em discussão a democracia e o sistema jurídico italiano", afirmou. "Francamente, não podemos aceitar receber uma lição do Brasil ou de Lula", atacou.
Tensão
A decisão de chamar o embaixador foi tomada pela cúpula do governo italiano, com o envolvimento direto do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. A situação era tão tensa que, durante o dia, o governo italiano ameaçou impôr mais uma retaliação: pedir o à Azzura para cancelar a partida amistosa entre as seleções da Itália e do Brasil, que ocorre em Londres dia 10 de fevereiro. No final da tarde, o governo admitiu que isso era "apenas uma provocação".
A parte mais grave da resposta italiana foi mesmo na área diplomática. Oficialmente, o embaixador será chamado apenas para consultas na chancelaria italiana e a decisão não representa o rompimento nas relações entre os dois países. Mas, na linguagem diplomática, a convocação de um embaixador é considerada como um ato de protesto e o último passo de um governo antes do rompimento de relações diplomáticas.
Roma admitiu que a convocação de seu embaixador é a primeira em décadas e justifica a decisão: o Brasil está dando refúgio a uma pessoa condenada à prisão perpétua pela Justiça italiana.
A decisão foi tomada depois que a Procuradoria Geral da República recomendou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que facilitasse a concessão de refúgio político e liberdade a Battisti. A Itália considerou "um escândalo" a decisão do procurador brasileiro, Antonio Fernando de Souza, de pedir o arquivamento do pedido de extradição." Após uma consulta com o primeiro-ministro (Berlusconi) sobre a grave decisão do procurador-geral Antonio Fernando de Souza, o Ministro das Relações Exteriores, Franco Frattini, convocou o embaixador italiano no Brasil, Michele Valensise, para consultas em Roma", afirmou a nota do governo italiano.
"Foi uma decisão muito grave e francamente inaceitável", disse o ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, em relação o arquivamento do processo. Na semana passada, o governo italiano havia solicitado ao STF vista do processo de extradição do ex-ativista. "A resposta saiu em apenas 48 horas sem objetivamente ter uma avaliação com aquela profundidade que esperávamos. Nos parece que simplesmente acataram a decisão política do ministro da Justiça brasileiro ", disse o ministro. "Esperávamos uma reflexão mais aprofundada", disse Frattini sobre a resposta do procurador.
Frattini insitiu que convocou o embaixador para consultas diante da decisão do procurador. "Vamos discutir quais serão as novas diretrizes", disse. Para o chanceler italiano, o Brasil é "um grande país amigo da Itália". "Mas exatamente por isso não esperávamos que fizessem algo tão grave". "Battisti é um terrorista e não merece o status de refugiado político", atacou.
O ministro italiano para Assuntos Europeus, Andrea Ronchi, considerou "vergonhosa" a postura do Brasil. "É intolerável que o assassino de quatro cidadãos italianos possa ficar em liberdade e viver tranquilo no Brasil. Estamos drasticamente indignados. É um escândalo moral, uma vergonha que ainda se justifiquem os assassinatos", disse o ministro.
Fontes do Ministério das Relações Exteriores da Itália admitiram ao Estado que o caso está tendo "enorme repercussão" na cúpula do governo de Silvio Berlusconi, que também é presidente do Milan. "Há muita sensibilidade em relação ao tema, em especialmente nesse governo", afirmou a fonte diplomática.
Em Roma, o gabinete de Mantica insistiu que o governo Berlusconi se sentiu "traído" pela decisão do Brasil. Em dezembro, Lula havia estado em Roma para uma visita oficial e Berlusconi não economizou esforços para tentar agradar o brasileiro.
As promessas de investimentos no País também se multiplicavam, pelo menos antes da crise financeira mundial. Em Roma, a embaixada brasileira recebeu até mesmo empresários interesses nos projetos do PAC, em especial na construção do trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Protestos
Já a embaixada do Brasil em Roma está observando nos últimos dias um novo fenômeno: a avalanche de e-mails e cartas que está recebendo, com críticas à decisão brasileira em relação a Cesare Battisti. A embaixada não está sequer dando conta de responder os e-mails.
"São dezenas de mensagens por dia", informou um funcionário da embaixada. Alguns dos e-mails chegam a usar palavrões para atacar o Brasil e insultos pesados. O jornal Il Tempo, de Roma, ainda iniciou uma campanha para pressionar pela extradição de Battisti. O jornal pede a adesão de Italianos e mesmo de brasileiros que vivem no país.
Após pronunciamento do governo brasileiro, o STF deve julgar a causa de Battisti, que aguarda em uma penitenciária de Brasília uma possível libertação, depois de ser detido no Rio de Janeiro em 2007 e de ser condenado na Itália por quatro assassinatos. O caso envolveu até a primeira-dama francesa, Carla Bruni, acusada por uma associação de vítimas italianas de influenciar a decisão de Lula durante sua visita ao Brasil, em dezembro.
Fonte: Estadão
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