Hugo Chávez vence referendo e garante reeleição ilimitada

`Venceu a verdade`, diz o presidente, que agora pode tentar novos mandatos indefinidamente na Venezuela

30/09/2015 19h03
Hugo Chávez vence referendo e garante reeleição ilimitada
A8SE

 

Seguidores de Hugo Chávez cantam nas ruas após o resultado do referendo deste domingo (AP)

Os venezuelanos aprovaram, em referendo, a emenda constitucional que permite ao presidente Hugo Chávez disputar um número ilimitado de reeleições consecutivas, informa o primeiro boletim divulgado pela autoridade eleitoral do país. Segundo os números oficiais, votaram pelo "sim" á reeleição ilimitada 6.000.594 eleitores, ou 54,36%. O "não" obteve 45,63%, o que corresponde a 5.040.082 votos. Foram considerados nulos 199.041 votos, ou cerca de 2%. A abstenção foi de 32,95%, considerada baixa para os padrões da Venezuela. "A partir de hoje, me consumirei a vida toda ao serviço do povo venezuelano", disse o presidente, citando uma carta de São Paulo. Chávez anunciou que, com a aprovação da reeleição ilimitada, "começa o terceiro ciclo da revolução, entre 2009 e 2019".

Após o anúncio da vitória, uma multidão de apoiadores do presidente se concentrou diante do palácio do governo, aos gritos de "Uh! Ah! Chávez não se vá!" e em meio á explosão de fogos de artifício, os bolivarianos entoaram o hino nacional venezuelano e aplaudiram o líder, que os saudava de um balcão. "Trata-se de uma vitória da verdade e da dignidade da pátria", disse Chávez, depois de tomar conhecimento do resultado. "É uma vitória clara do povo e da revolução", prosseguiu. "Triunfou a verdade contra a mentira, ganhou a dignidade da pátria contra os que negam a pátria". O presidente afirmou, ainda, que o "sim" "se impôs por uma clara maioria. Abrimos, de par em par, as portas do futuro".

Mais cedo, o ministro das Finanças da Venezuela, Ali Rodriguez, havia dito que há "uma tendência irreversível" de aprovação da reforma constitucional. A oposição, por sua vez, zombou no "triunfalismo" do governo. Eleitores dos dois lados da questão disseram que a decisão é crucial para o futuro da Venezuela, um país profundamente polarizado".

Chávez repetiu que, com o referendo, a Venezuela está "criando uma nova doutrina constitucional" e assumindo a "vanguarda da América Latina". Na sua visão, a limitação da eleição a um ou dois mandatos é uma imposição de fora: "Estamos rompendo paradigmas que nos impuseram como se fossem imutáveis. Estamos num processo revolucionário". O presidente disse que a primeira mensagem de felicitações que recebeu foi a do líder cubano Fidel Castro. "Esta vitória é sua também, Fidel, e do povo cubano e dos povos da América Latina", declarou Chávez.

Pessoas que votaram pelo "sim" disseram que Chávez deu aos mais pobres da Venezuela comida a preços baixos, educação gratuita e atendimento de saúde de qualidade, além de oferecer um discurso de luta de classes a uma população oprimida por décadas de governos alinhados com os ricos. Como nenhum sucessor surgiu nas fileiras chavistas, eles temem por um retrocesso quando o presidente deixar o poder. "Se Chávez perder, suas conquistas sociais desaparecerão", disse o secretário Richard Mijares, de 40 anos.

Já os que optaram pelo "não" dizem que Chávez já acumula poder demais, controlando os tribunais, o legislativo e o conselho eleitoral. A remoção do limite de 12 anos consecutivos de governo para o presidente, dizem, fará com que ele se torne incontrolável. "Se vencer, ele vai ficar sem limites e nos fará ficar como Cuba, porque é o que realmente quer", acusou a estudante universitária Adriana Hernandez, de 19 anos. "vai baixar leis por decreto e perseguir a propriedade privada".

Os dois lados alegaram que pesquisas de boca-de-urna, cuja divulgação é ilegal, garantiam-lhes a vitória. Liderada por um movimento estudantil, a oposição, fragmentada, fez campanha com o slogan "Não é Não", numa referência ao plebiscito de 2007 que já buscava ampliar o tempo do presidente no cargo, e que foi derrotado.

Na sua primeira tentativa de introduzir a reeleição ilimitada, em dezembro de 2007, Chávez foi derrotado por 50,71% a 49,29%. Ele declarou, no sábado, que perdeu o referendo de 2007 porque nos meses que o antecederam se dedicou muito mais à sua intermediação para a libertação de reféns da guerrilha colombiana do que à campanha pela reforma constitucional. "Dessa vez, me meti de cabeça nessa campanha." Em seu estilo literário-filosófico, Chávez citou no domingo o personagem Hamlet, de William Shakespeare: "Aqui, estamos jogando o ser ou não ser, um velho dilema", disse o presidente. "Nós, bolivarianos, patriotas, temos um projeto que está devolvendo a essência à Venezuela, que lhe haviam tirado."

 

Fonte: Estadão

 

 

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