
Por: Sudanês B. Pereira
Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.
Transformar a indústria que transforma o mundo

A Accenture divulgou este ano um documento interessante, Transforming the industry that transformed the world. Segundo o documento, a evolução das necessidades do cliente e as mudanças de nível macro na esfera mundial, estimulam a evolução tecnológica e a reinvenção do modelo operacional da indústria de alta tecnologia. A Accenture mostra uma lógica da mudança amparada na 1. evolução tecnológica, 2. reinvenção do modelo de operação de negócios e 3. macro transformação mundial. Como isso se apresenta?
A indústria de alta tecnologia está mudando a forma como as pessoas vivem e consomem, e modernizando o mundo por meio de novos modelos de negócios, novos produtos e refazendo os mercados.
De acordo com o estudo, a evolução tecnológica está sendo impulsionada por algumas forças que deverão produzir mudanças na indústria de alta tecnologia, algumas delas estão na figura 1.

Seguindo a lógica do estudo, a reinvenção do modelo de operação de negócios é impulsionada por duas forças:
1) Mudança para um modelo de negócio ‘as a service’ (AAS) - ou seja, um modelo que explora a computação em nuvem para realizar serviços, entregar valor aos clientes e melhorar a lucratividade e a sustentabilidade da empresa.
Penso que essa será, talvez, uma grande transformação de negócios, necessária para mudar processos, sistemas e cultura da empresa.
2) Cadeia de suprimentos flexível e resiliente - os riscos recentes apontam para uma variabilidade no fornecimento, que requer recursos mais dinâmicos. Isso implica em digitalização da cadeia de suprimentos, planejamento e serviços.
Todas as mudanças citadas acima convergem para uma macro-transformação, guiada por dois impulsos:
1) Convergência da indústria - a tecnologia muda o foco para experiências intersetoriais.
Isso é interessante, pois cria oportunidades de crescimento em novos mercados e segmentos de clientes, mas será um desafio para a indústria de alta tecnologia.
2) Geopolítica e políticas comerciais - tensões EUA-China, bem como o aumento da politização de dados e tecnologia.
Nesse sentido, o estudo aponta para a importância de criar cadeias de abastecimento segmentadas e a necessidade de novos recursos regulatórios e de planejamento.
Segundo a Accenture, as mudanças analisadas acima são os “gatilhos para um novo paradigma da indústria de alta tecnologia”. Para tanto, será necessário pensar com base em cinco imperativos-chaves, que podem ser vistos na figura abaixo.

Repensar os negócios significa, no limite, repensar as receitas. Nesse sentido, os modelos “as a service”, com software e plataformas voltados para serviços, abre a caixa de Pandora, como cita a Accenture.
Os CEOs de alta tecnologia reconhecem que a adoção de um modelo de negócios as a service não é uma questão de se, mas de quando. Em meio à crescente demanda dos clientes por soluções com curadoria de Produto + Serviço + Plataforma, estão levando as empresas a adotar modelos financeiros, cadeias de suprimentos e organizações de vendas para habilitar o AAS.
Os Cinco Imperativos e as Empresas de Alta Tecnologia
1) Shift to as-a-service (AAS)
Parte de um modelo de negócio tradicional de apenas produto, para um modelo de negócio baseado em plataforma, orientado para assinatura, produto + serviço + pacote.
O estudo sugere avaliar o potencial de integração vertical em toda a empresa, explorando o agrupamento de Produto + Plataforma + Serviço + Experiência, para se diferenciar em um mercado cada vez mais dinâmico.
Segundo o estudo, as empresas que adotaram modelos baseados em assinatura criaram 5x mais valor empresarial por dólar de receita obtida. O mercado global de AAS está crescendo com uma taxa anual projetada de 24% ou US$ 344,3 bilhões em 2024.
Relevância de alta tecnologia
Aqui a Accenture coloca como exemplo a Apple, empresa pioneira de alta tecnologia como serviço. Na última década, a Apple cultivou uma lealdade à marca por meio de avanços sustentados em ofertas de hardware e software baseado em assinatura. Nenhuma outra empresa exemplifica melhor a adoção do AAS como um veículo de lucratividade e experiência revolucionária para o cliente. Os negócios de serviços da Apple (incluindo Fitness +, News +, iCloud) devem chegar a US$ 50 bilhões de lucro em 2025. Ver abaixo os números da Apple na tabela e a figura com as inovações da empresa.

Para adotar efetivamente o modelo “as a service”, as empresas de alta tecnologia devem tomar cinco decisões fundamentais, ilustradas na figura abaixo.

2) Expandir os Limites da Indústria
Aqui, o termo usado pela Accenture é Pivotar, mudar significativamente o negócio, da área de competência central (por exemplo, componente de hardware) para a criação de experiências de alto valor entre setores (por exemplo, solução baseada em hardware que inclui software e serviços).
Relevância de alta tecnologia
Segundo a Accenture, os players de alta tecnologia são os líderes de hoje em transporte de ecossistema (ecosystem carryover), alavancando sua base existente - base de clientes leais e canais de distribuição - para garantir uma posição competitiva em novos setores. Do setor automotivo à saúde, as empresas de alta tecnologia estão rapidamente se tornando rivais respeitados em setores adjacentes.
O exemplo citado aqui é a Nvidia, pioneira na fronteira de alta tecnologia. Desde o início, como uma startup de chip gráfico de soluções ponta a ponta, a Nvidia está redefinindo o que significa ser um player de alta tecnologia. A empresa está aproveitando sua experiência para reescrever as fronteiras da indústria e co-projetar o que chama de ecossistema smart-X. Ver abaixo a evolução do valor de mercado da Nvidia.

O documento diz que o paradigma Empresa + Cliente continua mudando à medida que os players de alta tecnologia enfrentam a convergência interna e externa, orientada para a tecnologia, e investindo fora de seus setores para crescer. Com base nesses elementos, chama atenção para explorar oportunidades de expansão entre setores para aumentar as economias de escala, otimizar a eficiência, acelerar a produtividade, e investir em P&D.
Ainda, os players de alta tecnologia têm quatro caminhos para expandir os limites da indústria e desbravar novos ecossistemas. Ver a figura 4.

Por último, mas não menos importante, é fundamental para as empresas adquirir novos conjuntos de capacidade - propriedade intelectual, talento, apostas estratégicas em mercados em crescimento - para expandir novas possibilidades e oportunidades.
3) Reinvenção do Portfólio
Com a disseminação da nuvem, 5G, IoT, IA, aprendizado da máquina (ML), as empresas de alta tecnologia precisam repensar o portfólio de produtos para capturar as oportunidades de mercado e atender às demandas dos clientes.
Segundo a Accenture, o 5G renderá aproximadamente US$13,2 tri em valor econômico global em 2035. Projeta-se que o mercado de computação de ponta global alcance US$ 251 bilhões até 2024, com uma taxa de crescimento de 12,5% de 2019–2024. Em 2025, haverá cerca de 56 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo, 75% dos quais serão conectados a uma plataforma IoT.
Relevância de alta tecnologia
De acordo com o relatório, dado o crescimento dessas tecnologias, as empresas de alta tecnologia são forçadas a redefinir o que construir, reavaliar quais ativos podem ser monetizados (a exemplo dos dados) e reconfigurar como entrar no mercado.
O exemplo aqui é a Johnson Controls. A empresa oferece produtos e serviços para otimizar a energia e a eficiência operacional de edifícios. Os investimentos crescentes da JC em tecnologias emergentes tornaram a empresa uma pioneira em soluções de construção inteligente. O uso de computação de ponta, análises avançadas e ecossistema conectado, deram competitividade a JC, que se reposicionou no mercado e ampliou seu portfólio de serviços. Ver abaixo a evolução do valor de mercado da Johnson Controls.

O que vemos de recorrente é que as empresas de alta tecnologia começaram a adquirir startups, desenvolver alianças e integrar IoT e recursos de ponta em seus portfólios. O estudo sugere atualizar produtos e tecnologia para abranger ‘capacitadores’ digitais estratégicos, integrar um ecossistema conectado à cadeia de valor, avaliar as oportunidades de mercado e o potencial para testar tecnologias de ponta por meio de parcerias estratégicas.
4) Modernização da Empresa
Como se trata de transformação das empresas de alta tecnologia, o relatório é bem direto nesse quesito e sugere a reinvenção dos principais sistemas de tecnologia, arquiteturas de dados, modelos operacionais e processos operacionais, para se adaptar ao novo modelo de negócios. Sem investir na transformação da empresa, as empresas de alta tecnologia correm o risco de perder bilhões em recursos.
Relevância de alta tecnologia
O relatório informa que os players de alta tecnologia começaram a modernizar seus negócios como uma resposta reativa a pandemia da Covid-19. Aperfeiçoar modelos operacionais suportados pela nuvem para impulsionar o crescimento, analisar as lacunas de habilidades da força de trabalho e criar planos de desenvolvimento de talentos, é fundamental segundo a Accenture.
Sendo assim, os players de alta tecnologia devem adotar uma abordagem com cinco frentes para modernizar o núcleo de sua empresa, como mostra a figura abaixo.

5) Construir Cadeias de Abastecimento Resilientes
Vimos no primeiro ano da pandemia da Covid-19 o quanto as cadeias de suprimentos mais importantes eram fundamentais, mas também demos conta que a maioria delas estava concentrada em poucos países. As tensões geopolíticas aumentaram, criando uma necessidade urgente de abordar a crise e, ao mesmo tempo, construir uma maior resiliência da cadeia de abastecimento para o futuro.
Relevância de alta tecnologia
O relatório aponta que as empresas de alta tecnologia estão buscando novas maneiras de suscitar agilidade e inteligência nas cadeias de suprimentos para melhor resistir a crises futuras. As cadeias de abastecimento flexíveis e integradas do futuro ajudarão a sustentar a vantagem competitiva e acelerar o crescimento.
As empresas de alta tecnologia que puderem se fortalecer rapidamente estariam mais preparadas para adotar modelos de negócios AAS, gerenciar crises imediatas e prever futuras interrupções.
O relatório cita o exemplo da Samsung, pioneira da cadeia de suprimentos de alta tecnologia. A Samsung é uma das empresas dominante na cadeia global de suprimentos de semicondutores, garantindo uma vantagem competitiva em custo, entrega e tecnologia. Uma visão geral do valor de mercado da Samsung pode ser vista na tabela abaixo.

Vimos que durante a pandemia da Covid-19, houve interrupções de várias cadeias de abastecimento, de vários segmentos, em especial a de semicondutores. Até o momento, a crise global de fornecimento de chips continua.
O estudo mostra que 94% das empresas Fortune 1000 continuam a experimentar interrupções na cadeia de abastecimento devido à pandemia da Covid-19. Dez de 12 grandes empresas em 10 de 12 setores globais declaram a necessidade de deslocar uma parte de suas cadeias de abastecimento das localizações atuais, devido a tarifas, automação e questões de segurança nacional.
O relatório da Accenture sugere que para construir cadeias de abastecimento mais resilientes, as organizações de alta tecnologia devem mudar seu foco para as cinco atividades listadas na figura abaixo.

O estudo da Accenture utilizou uma pesquisa com 149 executivos C-Level, abrangendo empresas globais de alta tecnologia, distribuídas pelos segmentos: 34% tecnologia de consumo, 28% semicondutor, 26% tecnologia empresarial, equipamentos de rede e comunicações, 11% tecnologia médica. Em torno de 34% das empresas eram da América do Norte, 22% da Ásia (Japão), 19% da Europa Ocidental, 10% Ásia (China), 8% Ásia (Taiwan), 4% Ásia (Coreia do Sul), 3% África Subsaariana.
Desejo um excelente 2022!
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