Por: Sudanês B. Pereira
Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.
Tecnologias Verdes, Inovação e Desenvolvimento
A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), lançou o relatório “Technology and Innovation Report 2023” no dia 16 de março. O relatório adverte que as desigualdades econômicas correm o risco de crescer à medida que os países desenvolvidos colhem a maioria dos benefícios de novas tecnologias como inteligência artificial, Internet das Coisas e tecnologias verdes, como Veículos Elétricos. Segundo a Secretária-Geral da UNCTAD, a revolução tecnológica baseada em “tecnologias verdes" causará um impacto enorme na economia global.
A edição de 2023 do Relatório de Tecnologia e Inovação foca especificamente no que pode ser alcançado com a inovação tecnológica, abrindo ‘janelas verdes de oportunidades’. O relatório é construído em torno do conceito de inovação verde - criar ou introduzir bens e serviços novos ou aprimorados que deixam pegadas de carbono mais leves e abrem janelas de oportunidades verdes.
No entanto, para os países em desenvolvimento, mudar seu modelo em direção ao “desenvolvimento verde” requer mais do que uma simples imitação; exige adaptação, criatividade e inovação. Nessa caminhada, é provável que os caminhos sejam substancialmente diferentes daqueles adotados pelas economias avançadas, mas será necessário iniciar o caminho.
Segundo o relatório, o ponto de partida é experimentar novas ideias e tecnologias, e adaptá-las às circunstâncias, valores e prioridades locais. Para aproveitar esse momento, os países precisarão de infraestrutura apropriada na forma de bens públicos - por meio de intervenção direta do governo, apoiando novos setores verdes, por exemplo, ou introduzindo regulamentações como de poluição do ar ou da água.
Tecnologias de Fronteira: mercado crescente movendo-se rapidamente
O relatório examina 17 “tecnologias de fronteira” - de inteligência artificial (IA) a hidrogênio verde e biocombustíveis - destacando seus potenciais benefícios econômicos e avaliando as capacidades dos países para usar, adotar e adaptar essas inovações.
A UNCTAD estima que as 17 tecnologias de fronteira analisadas no relatório podem criar um mercado de mais de US$ 9,5 trilhões até 2030. Cerca de metade é para a Internet das coisas (IoT), que abrange uma vasta gama de dispositivos em vários setores. Essas tecnologias são fornecidas principalmente por alguns países, principalmente Estados Unidos, China e países da Europa Ocidental. Em 2020, o valor total de mercado dessas tecnologias era de US$ 1,5 trilhão.
Outros dados interessantes são apresentados no relatório. As exportações totais de tecnologias verdes dos países desenvolvidos saltaram de cerca de US$ 60 bilhões em 2018 para mais de US$ 156 bilhões em 2021. No mesmo período, as exportações dos países em desenvolvimento subiram de US$ 57 bilhões para apenas cerca de US$ 75 bilhões. Em três anos, a participação dos países em desenvolvimento nas exportações mundiais caiu de mais de 48% para menos de 33%.
Espera-se que as tecnologias de fronteira verde, como veículos elétricos, energia solar e eólica e hidrogênio verde, atinjam um valor de mercado de US$ 2,1 trilhões em 2030 - quatro vezes maior do que seu valor hoje. Segundo o relatório, o mercado para veículos elétricos pode aumentar cinco vezes - do valor atual de US$ 163 bilhões para atingir US$ 824 bilhões até 2030.
A UNCTAD sugere que os países em desenvolvimento precisam agir rapidamente para se beneficiar dessa oportunidade e avançar para uma trajetória de desenvolvimento que leve a economias mais diversificadas, produtivas e competitivas. É bom lembrar que revoluções tecnológicas anteriores mostraram que os primeiros usuários podem avançar mais rápido e criar vantagens duradouras.
Tecnologias Verdes e Desenvolvimento
Para os países em desenvolvimento, as oportunidades verdes podem mudar seu cenário tecnológico. Para a UNCTAD esse é o momento, caso contrário, esses países podem ficar presos aos caminhos dos combustíveis fósseis e do velho desenvolvimento
O relatório da UNCTAD é enfático: para os países em desenvolvimento se beneficiar da revolução das tecnologias verdes, serão necessárias políticas industriais proativas, de inovação e de energia voltadas para as tecnologias verdes. Orienta os governos dos países em desenvolvimento para que alinhem as políticas ambientais, científicas, tecnológicas, de inovação e industriais. Eles devem dar prioridade ao investimento em setores mais ecológicos e de maior conteúdo tecnológico, fornecer incentivos para o consumo de bens mais ecológicos e impulsionar o investimento em pesquisa e desenvolvimento.
Em indústrias onde a tecnologia é mais madura, como a eólica e a solar, pode ser difícil para os países em desenvolvimento produzir componentes essenciais. Mas pode haver oportunidades mais adiante na cadeia de valor relacionadas à implantação, como desenvolvimento de projetos, engenharia, aquisição e construção.
Para além das tecnologias de fronteiras e verdes, os países em desenvolvimento devem também reforçar urgentemente as competências técnicas e aumentar os investimentos em infraestruturas de TIC, eliminando as lacunas de conectividade entre as pequenas e grandes empresas e entre as áreas urbanas e rurais.
INSIGHTS RELEVANTES
O relatório sugere algumas recomendações que servem de inspiração para países ou mesmo localidades - cidades ou regiões. Ver a seguir.
Definir a Direção
Alinhar políticas ambientais e industriais
Os governos precisam de agendas para mitigar as mudanças climáticas, comprometer-se com a produção e consumo de energia renovável, eletrificar as comunidades rurais e aumentar a segurança energética. As políticas precisam ser co-criadas nas esferas energético-ambientais e industriais. Isso requer uma abordagem de todo o governo envolvendo educação, indústria, e comércio, para potencializar as capacidades e preparar a economia e as empresas para responder as mudanças em curso.
Investir em setores mais complexos e mais verdes
O governo, o setor privado e outras partes interessadas devem desenvolver as capacidades e construir as instituições para identificar, contínua e estrategicamente, novas tecnologias e setores para diversificação da economia, que sejam mais complexos e mais verdes.
Os setores prioritários devem ser apoiados por meio de instrumentos de política vertical, como clusters, iniciativas de especialização inteligente, projetos e áreas-piloto e de demonstração e o financiamento associado.
Mais ainda, o governo e o setor privado também devem expandir as oportunidades de financiamento para desenvolver e comercializar tecnologias verdes. Estes podem incluir fundos de investimento para tecnologia verde, assistência técnica em inovação e tecnologia e serviços de consultoria. Para encorajar o setor privado, tanto o governo quanto as agências devem apresentar-se como primeiros investidores. Essas atividades podem ser complementadas por investimento estrangeiro direto.
Induzir a demanda do consumidor
Os governos podem oferecer incentivos e infraestrutura que ajudem a mudar a demanda do consumidor para incentivar a reciclagem e a economia circular. Isso pode ser apoiado por compras verdes para criar um efeito cascata no resto da economia.
Invistir em P&D
As tecnologias verdes nascentes geralmente requerem investimentos significativos em P&D. Os governos podem oferecer subsídios para o desenvolvimento da pesquisa, com a colaboração de universidades e indústrias - nacionais e estrangeiras. Também são necessários investimentos públicos de P&D em melhorias de processos e tecnologias complementares.
Ademais, quando as tecnologias estão evoluindo rapidamente, como na indústria eólica, esse investimento precisará ser contínuo. Nos estágios iniciais, quando o mercado interno não consegue sustentar uma indústria competitiva, os governos podem estabelecer projetos de demonstração de tecnologia.
Desenvolver infraestrutura e habilidades digitais
À medida que as tecnologias avançam, todos os países precisarão de infraestrutura digital, em particular conexões de Internet de alta velocidade e alta qualidade. Isso significará investimentos públicos e privados em infraestrutura de TIC.
Os governos também devem abordar as lacunas de conectividade entre pequenas e grandes empresas e entre regiões urbanas e rurais. É importante apoiar as empresas, incluindo as PME, para ajudá-las a desenvolver habilidades digitais em áreas como pesquisa de mercado, desenvolvimento de produtos, fornecimento, produção, vendas e serviços pós-venda. Atenção especial deve ser dada às mulheres em pequenos e microempreendimentos, mesmo informais e artesanais.
Finalizando.......essas são algumas informações resumidas que considerei relevantes para conhecimento geral. Outros artigos serão elaborados tendo em vista a importância do conteúdo do relatório, rico em insights para governos e setor empresarial.
Boa semana!
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