Economia e Inovação

Por: Sudanês B. Pereira

Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.

Recursos Financeiros Limitados Impede a Inovação Aberta e a Conexão com Startups no Brasil

25/10/2023

Estudo da Ace Cortex e Sling Hub, “Open Innovation e a Conexão com Startups”, traz um panorama da inovação aberta no Brasil. O relatório é um resultado da pesquisa com 126 profissionais de empresas de pequeno, médio e grande porte das regiões Nordeste (7%), Sudeste (70%) e Sul do Brasil (20%). A região Centro-Oeste tem pouca representatividade e o Norte do país não possui representantes. O fato da concentração de entrevistados nas regiões sudeste e sul sugere que essas regiões lideram a adoção de práticas de inovação aberta.

A maioria dos entrevistados ocupam cargos de liderança e trabalham em áreas como inovação (31%), tecnologia (21%), novos negócios (14%), marketing (7%), e outras áreas (23%).

O Que Revelou a Pesquisa

(1) Maturidade com Programas Formais de Inovação Aberta

Os resultados mostraram que as empresas estão cada vez mais recorrendo à Inovação Aberta. Por ser um formato de inovação ainda em amadurecimento, o estudo revelou que 32% dos profissionais que trabalham com Inovação Aberta iniciaram esse movimento entre 2 a 5 anos, com 50% tendo experiência de até 2 anos. Metade dos entrevistados (50%) atualmente não possuem um programa estruturado de Inovação Aberta, ao passo que a maioria dos respondentes citou que os relacionamentos são ocasionais (44%).

(2) Geração de Resultados com Open Innovation

A pesquisa apontou que as empresas estão alinhando suas expectativas com resultados concretos, como desenvolver novos produtos e melhorar o core business. Nesse sentido, a principal expectativa das empresas é desenvolver novos produtos e serviços, representando 36% dos respondentes, com foco em criar novas fontes de receita.

Acesso a novas tecnologias é o segundo aspecto mais comum, com 19% dos entrevistados buscando essa oportunidade. A ampliação da visibilidade no mercado é a menos citada, com apenas 7%, indicando que os programas de open innovation estão se tornando mais estratégicos e menos experimentais.

(3) Principais Desafios

O estudo revela que os principais desafios estão relacionados à cultura interna, alinhamento de expectativas e identificação de parceiros adequados, destacando a necessidade de trabalhar na integração da Inovação Aberta com a governança, os processos e a cultura corporativa. Nesse sentido, a integração com a cultura interna é o principal desafio enfrentado, mencionado por 51% dos entrevistados. A integração também está conectada com outros entraves, como gerenciamento de expectativas (48%) e identificação de startups adequadas (39%).

Uma informação importante é a de que a avaliação de resultados (27%) também é um entrave, sugerindo que muitas empresas têm dificuldade de mensurar o impacto das ações de Inovação Aberta.

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Principais Desafios das Empresas e a com a Integração da Inovação Aberta

(4) As Empresas, a Inovação Aberta e o Relacionamento com Startups

Esse é um quesito fundamental para as empresas que consideram se envolver com a Inovação Aberta e relacionamento com startups. O estudo sugere que as empresas devem considerar critérios mais claros ao escolher parceiros de startups, como considerar o alinhamento com as metas estratégicas. Considera, também, que o envolvimento de áreas como Jurídico e Operações pode ser desafiador, fundamental para o sucesso da Inovação Aberta.

Sendo assim, a pesquisa mostrou que a maioria dos entrevistados (34%) não determinou, por exemplo, critérios de maturidade/nível das startups para uma parceria com startups, sugerindo que a maioria das empresas não está focada em startups maduras. Porém, 21% mencionaram o critério de startups no estágio inicial. Ver a figura abaixo com os demais critérios para um relacionamentos-parceria com startups.

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Critérios para Relacionamentos de Empresas com Startups e Inovação Aberta

Fato interessante da pesquisa foi revelar que mais da metade das empresas (61%) já fez negócios com startups, enquanto 55% ainda não investiram em startups, indicando uma preferência por relacionamentos de parceria em vez de se tornarem sócios.

Com relação às áreas dentro da empresa que tinha mais relacionamentos com startups, a pesquisa mostrou que a área de Inovação foi citada por 51% dos entrevistados como a que

mais colabora e se relaciona com startups, já P&D foi citada por 43%. Cerca de 68% dos entrevistados citaram uma ou outra neste quesito. A área menos próxima das startups, segundo os entrevistados, é a de Recursos Humanos, com apenas 2% de representatividade. Ver a figura abaixo.

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Áreas da Empresa e Interação-Relacionamento com Startups

Por outro lado, os setores Jurídico (40%) e de Operações (33%) são as áreas com maior resistência ao envolvimento com startups, possivelmente devido a processos e modelos operacionais particularmente estabelecidos, não obstante a importância do envolvimento dessas áreas para alavancar a viabilização da relação com startups. A área de recursos humanos (23%) foi outro setor que também apresenta resistência ao envolvimento com startups, assim como vendas (21%), tech (15%), marketing (13%), P&D (10%), novos negócios (4%) e inovação (3%) apresentaram menos resistência.

(5) Investimento em Inovação Aberta

O estudo revelou que as empresas no Brasil justificam a falta de recursos financeiros como o principal motivo para não investir em inovação Aberta. Para as empresas que já possuem programas de Inovação Aberta, cerca de 30% dos entrevistados indicaram essa barreira, 16% mencionaram a cultura interna pouco favorável à colaboração externa, como também a falta de compreensão dos benefícios potenciais (16%). Ver o gráfico abaixo com as demais barreiras.

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Barreiras ao Investimento em Inovação Aberta (Empresas com Programas de Inovação Aberta)

Esse motivo não é diferente entre empresas que ainda não possuem programas de Inovação Aberta, com 17% alegando falta de recursos financeiros, 11% alegaram a falta de compreensão dos benefícios potenciais, 10% mencionaram dificuldade de encontrar parceiros externos adequados. Ver o gráfico abaixo.

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Barreiras ao Investimento em Inovação Aberta (Empresas que não possuem Programas de Inovação Aberta)

Por Fim…

Para finalizar, o estudo mostra que o Brasil possui 16.921 startups ativas, é líder na América Latina em empreendedorismo e tecnologia. Em 2023 (até agosto), as startups brasileiras foram responsáveis por 54% do volume captado no mercado de inovação latino-americano, 57% do número de rodadas e 80% das startups adquiridas na região. Além disso, o Brasil também tem hoje 28 unicórnios, mais da metade do total LatAm, que soma 53 startups com o status.

No que se refere ao tema do relatório especificamente, a pesquisa enfatiza a importância da Inovação Aberta para o Brasil e os diferentes caminhos que as empresas podem trilhar com base no próprio ecossistema de startups do país, em seus diversos setores, com destaque para as Fintechs, com 13% das startups ativas no país, Edtech (9%), Healthtech (8%), Agritech (6%) e retailtech (6%). O que o relatório sugere:

[1] Investir em programas formais de inovação aberta

[2] Trabalhar na integração da cultura interna

[3] Estabelecer critérios claros para parcerias com startups

[4] Superar barreiras internas, como resistência jurídica e operacional

[5] Educar sobre os benefícios estratégicos da Inovação Aberta.

Mas o fato é que a inovação aberta traz vários benefícios para as empresas, podemos citar pelo menos três deles:

[1] Reduz o custo de projeto, prototipagem, produção e distribuição

[2] Encurta o tempo de entrada no mercado

[3] Aumenta a diferenciação, abrindo novos pontos de venda e criando novas fontes de receita para as empresas.

Mais que tudo, a inovação aberta é uma oportunidade de criar valor de forma compartilhada com parceiros inovadores, em especial com as startups.

Boa semana!