Economia e Inovação

Por: Sudanês B. Pereira

Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.

Os Governos estão prontos para a Inteligência Artificial?

10/02/2022
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A inteligência artificial (IA) é uma tecnologia/ferramenta que pode ajudar não somente o setor privado, mas cidadãos e governos, não obstante às contradições ainda relacionadas ao seu funcionamento, regulação e aplicações. O interesse ocorre em meio a uma virada abrupta para o modelo de governo digital, estimulada em grande parte pelas medidas do distanciamento social implementadas em resposta à pandemia do coronavírus. Percebe-se que as estratégias nacionais de IA, no entanto, permanecem concentradas em poucos países, demonstrando uma divisão cada vez maior na implantação global da Inteligência Artificial.

Dada as possibilidades de usos da inteligência artificial, os governos de todo o mundo estão começando a ver seu enorme potencial: para as economias e serviços públicos.

A Oxford Insights, divulga desde 2017 o relatório “Government AI Readiness Index”, algo como “Índice de Prontidão de IA do Governo”, onde procura responder o quão pronto um determinado governo está para implementar a IA na prestação de serviços públicos aos cidadãos.

O índice classifica os países com base em 42 indicadores em 10 dimensões, considerando três pilares: Governo; Setor de Tecnologia; e Dados e Infraestrutura. A ideia é pontuar os governos em sua prontidão para implementar a IA na prestação de serviços públicos. A figura abaixo ilustra a ideia.

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Figura 1. Os Pilares do Índice de Prontidão de IA do Governo.png

O índice de 2021 mede 10 dimensões nesses três pilares, conforme resumido pelo diagrama abaixo.

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Figura 2. Os Pilares e as Dimensões do Government AI Readiness Index.png

Em 2021, o índice classifica 160 países, divididos em 9 regiões: América do Norte, América Latina e Caribe, Europa Ocidental, Europa Oriental, África Subsaariana, Oriente Médio e Norte da África, Ásia do Sul e Central, e o Pacífico.

As Descobertas Globais

Os pesquisadores descobriram que:

  1. Os EUA lideram o ranking, seguidos por Cingapura em segundo lugar e Reino Unido em terceiro;
  2. Quase 40% dos países incluídos no índice publicaram ou estão elaborando estratégias nacionais de IA; e
  3. Os países do Leste Asiático mostraram uma força particular, representando um quarto dos 20 primeiros classificados.

De acordo com o relatório, a posição dos EUA no índice é, em grande parte, consequência de seu setor de tecnologia, que impulsiona grande parte da pesquisa e comercialização de IA no mundo. Os EUA abrigam a maioria dos unicórnios de tecnologia e a maioria das grandes empresas de tecnologia pública de maior valor. O país também pontua mais alto nos indicadores que medem os gastos com software e o investimento de empresas em tecnologias emergentes. Além disso, a inteligência artificial está sendo comercializada e adotada em toda a economia.

Cingapura ocupa o 2º lugar no ranking e o primeiro no pilar Governo. As pontuações de Cingapura na dimensão da capacidade digital se destacam, sendo as melhores nos indicadores que medem a promoção governamental de investimento em tecnologias emergentes e o uso de TIC (o uso das TIC melhora a qualidade dos serviços governamentais), e a eficiência do governo. Segundo o relatório, essas pontuações refletem os esforços do governo para digitalizar os serviços públicos, onde suas ambições foram estabelecidas em seu Digital Government Blueprint. O gráfico 1 ilustra o ranking global com a classificação dos 10 primeiros colocados, com todos acima da média global, que foi de 47,42 pontos.

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Gráfico 1. Ranking Global - Government AI Readiness Index 2021.png

Pela primeira vez, um quarto dos países no top 20 está no leste da Ásia: Cingapura (2º), Coreia do Sul (10º), Japão (12º), China (15º) e Taiwan (18º). Esses países, com exceção de Taiwan, pontuam significativamente acima da média global nas dimensões Capital Humano e Infraestrutura, apontando para o sucesso global da região em pesquisa de IA e seu poder de computação avançado. Ver o gráfico 2.

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Gráfico 2. Ranking Global – Os 20 Colocados no Ranking Global Government AI Readiness Index 2021 .png

A Desigualdade Global em IA

O relatório mostra que o quadro global é altamente desigual, entre e dentro das regiões. Reduzir essas desigualdades exigirá dos governos uma ação política e cooperação nos três pilares.

Os resultados mostram que a maior parte da atividade de negócios, medida pelo pilar Setor de Tecnologia, está ocorrendo no mundo desenvolvido e nas maiores economias. Por exemplo, os EUA e a China hospedam 52 unicórnios de IA, o que é aproximadamente três vezes mais que o resto do mundo. Isso alimenta a desigualdade encontrada no pilar de Dados e Infraestrutura. Os níveis de infraestrutura e disponibilidade de dados, necessários para apoiar o desenvolvimento da IA, estão concentrados nos mesmos países. Os baixos níveis de infraestrutura tecnológica nos países em desenvolvimento, contribuem para o status da Capacidade Digital como uma das dimensões de menor pontuação do pilar Governo nos países em desenvolvimento.

Com os governos de alguns países em desenvolvimento tendo capacidade limitada para construir e disponibilizar IA em seus serviços públicos, poucos estão no estágio de prontidão para publicar sua visão e estratégia de IA.

Análise Regional – América Latina

Em 2021, a América Latina e o Caribe fizeram progressos importantes no desenvolvimento de estratégias e políticas de IA destinadas a promover a inovação. O relatório informa que atualmente há um total de 5 estratégias nacionais de IA em comparação com 3 em 2020. Nesse sentido, o relatório sugere que o lançamento de estruturas nacionais de IA pelos governos do Chile e do Brasil, contribuiu para o impacto no ranking regional. Para os pesquisadores, o Brasil, sendo a maior economia do continente, poderia catalisar a inovação em IA na região.

A América Latina e o Caribe tiveram uma pontuação média regional de 41,26 – a terceira mais baixa do ponto de vista global, depois do Oriente Médio, Norte da África, e da África Subsaariana. Cabe lembrar que a média global foi de 47,42 pontos.

Os quatro principais países da região – Brasil, Chile, Colômbia e Uruguai -, pontuam de maneira semelhante, com o Brasil em 60,64 e o Uruguai em 57,93. Eles também aparecem no ranking geral, com o Brasil em 40º e o Uruguai em 48º. Ver o gráfico 3 com o ranking da América Latina.

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Gráfico 3. Ranking América Latina – Government AI Readiness Index 2021.png

O Brasil no Government AI Readiness Index 2021

O Brasil ocupa a 40a posição no ranking global, com pontuação geral de 60,64, superior à média global, 47,42. O país lidera o ranking da América Latina, mas temos um longo caminho a percorrer. Considerando a média global do pilar Governo [48,65], o país apresentou média superior [65,04], porém, inferior à média da Colombia [73,03], que possui a melhor pontuação entre os países da América Latina. O país tem a melhor média do pilar Setor de Tecnologia na América Latina [42,70], seguido pelo Chile [42,14], assim como para o pilar Dados e Infraestrutura [74,16], seguido pelo Uruguai [72,67]. Ver o gráfico 4.

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Gráfico 4. Brasil - Government AI Readiness Index 2021..png

Não obstante o país apresentar médias superiores globalmente, e nos três pilares, precisamos melhorar muito para sermos mais competitivos globalmente, em especial no pilar Setor de Tecnologia. O Brasil precisa incentivar mais a inovação nas empresas de tecnologia e impulsionar novos ecossistemas de inovação em diversas áreas – govetch, saúde, agro, entre outros. Além disso, é necessário reduzir as disparidades de infraestrutura, acesso a serviços digitais, melhorar o acesso à internet, a qualificação e capacitação do seu capital humano.

Se compararmos os resultados do Brasil com os primeiros colocados no ranking global, é perceptível como o país precisa percorrer um longo caminho para estar apto a trilhar a trajetória que permitirá estar pronto para, de fato, viabilizar a utilização da IA nos serviços públicos e entregar melhores serviços aos cidadãos. Ver o gráfico 5.

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Gráfico 5. Ranking Comparativo - Government AI Readiness Index 2021.png

É importante também que o país tenha uma estratégia mais clara em relação IA no país, em especial ao uso nos Governos, não esquecendo da ética e segurança de dados e informações.

Excelente semana!