Economia e Inovação

Por: Sudanês B. Pereira

Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.

Inovação e Localização. Isso importa?

11/11/2021

Há alguns meses, a MIT Sloan School of Management divulgou um artigo onde se enfatizava a importância dos ecossistemas locais de inovação, menores e inclusivos, em contraponto aos grandes sistemas como os do Vale do Silício e Nova York. Eu diria que é o retorno e reconhecimento das abordagens dos clustres ou arranjos produtivos locais aqui no Brasil. Essas abordagens possuem na proximidade um fator relevante para gerar sinergia e externalidades positivas, oriundas das interações entre os agentes públicos e privados.

Para lembrar: o conceito de arranjos produtivos locais (APL) possui uma visão sistêmica da atividade produtiva e inovativa, com uma multiplicidade de atores econômicos, políticos e sociais que contribuem para uma nova dinâmica às atividades desenvolvidas no território. É um contraponto ao conceito tradicional de setor industrial.

Um ecossistema de inovação é um conjunto de atores que trabalham para criar um ambiente favorável à inovação, através do compartilhamento de informação e conhecimento.

SBP

Segundo o MIT, os ecossistemas locais de inovação menores e inclusivos, favorecem a produção de novos negócios, a exemplos Shenzhen, China e Cidade do Cabo, África do Sul, considerados novos hotspots, mencionados pelo MIT. Nesses ecossistemas, as ideias se movem com mais facilidade graças à união de cinco grupos principais de partes interessadas: universidades, governo, corporações, empreendedores e capital de risco.

No artigo, os professores do MIT Innovation Initiative apresentaram uma ideia de como esses ecossistemas de inovação podem ser construídos considerando alguns pontos que podem ser relevantes para o sucesso do modelo.

Um Roteiro para Ecossistemas de Inovação

Modelos híbridos.

Considerando os novos modelos de trabalho acelerados e impostos pela pandemia, os ecossistemas de inovação locais irão se utilizar muito de variações que vão combinar equipes presenciais e geograficamente distribuídas, amparadas pelas tecnologias digitais.

O artigo fala em um conceito emergente de uma “rede interecossistêmica” por meio do qual um ecossistema de sucesso sincroniza ou se interliga, com outros ecossistemas. Aqui, se conecta com a ideia de ser global com inovação, mas também pensar localmente e estender esse ecossistema de inovação para além do local. As oportunidades aumentam.

Diversidade e inclusão

Esse é o tempo de ampliar uma pauta já reivindicada há muito tempo. A pauta da diversidade e inclusão deve ser um compromisso, não meramente algo para se cumprir legalmente. A diversidade de perspectivas, origens e experiências é um poderoso impulsionador da inovação. É importante ter um olhar para aproveitar os talentos locais e intensificar os esforços para lidar com as desigualdades por meio de uma ênfase no treinamento, eventos colaborativos como hackathons e fóruns que promovam a conexão e o engajamento de comunidades.

Um ponto relevante apontado pelo MIT, diz respeito ao encorajamento dos investidores do capital de risco para apoiar pessoas e recursos que não estão em seu próprio radar. Em um artigo que escrevi sobre as startups, foi revelador ver que esse universo é ainda masculino e de brancos. É hora de mudanças, de abrir portas com programas de inovação e empreendedorismo, conectar pessoas e ideias.

Desafios e problemas focados

O desenvolvimento de vacinas para Covid-19 se concretizou tão rapidamente porque os principais ecossistemas globais foram direcionados para resolver um conjunto muito específico de problemas. Isso é conexão, trabalho em rede, problema comum, desafios, foco.

Segundo os professores do MIT, as comunidades e os ecossistemas tendem a funcionar melhor quando têm foco. É importante dividir os grandes desafios em problemas mais focados. Porém, é preciso ter clareza dos problemas e articular as comunidades e os agentes.

Utilizar a tecnologia digital como um facilitador

É preciso ter a clareza de que é possível que os ecossistemas de inovação híbridos se desenvolvam onde não há uma governança com todos os atores disponíveis em uma única localidade.

Nesse sentido, o uso inteligente de tecnologias digitais pode fechar lacunas e criar uma base para novas formas de envolvimento de ecossistema e rede. Aproveitar a tecnologia para aumentar um ecossistema, abre portas para que empresas menores participem do processo e fortaleça a rede do ecossistema de inovação.

Finalizando...

Um ecossistema de inovação em uma região, potencializa o desenvolvimento local, promove a interação entre os atores (público e privado), permite dar competitividade às empresas locais, gera oportunidades, fomenta a cultura inovadora, motiva a cooperação entre empresas. O papel do governo na indução de uma política de incentivo à inovação tecnológica é fundamental, assim como na colaboração com universidades, centro de ciência e tecnologia e o setor produtivo. Sim, o local é o território para se construir pontes para a inovação e o desenvolvimento. Location matters!