
Por: Sudanês B. Pereira
Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.
Green Reboot: uma transição verde para economias emergentes

Vários estudos estão demonstrando que a pandemia da Covid-19 desencadeou a pior recessão global desde a grande depressão. Em resposta, governos de todo o mundo realizaram intervenções fiscais sem precedentes para fornecer, de forma emergencial, assistência aos cidadãos e estabilização às suas economias.
Além das consequências econômicas, a pandemia causou um alerta à população mundial em relação às mudanças climáticas, como expôs também as desigualdades entre países, incluindo o acesso aos cuidados de saúde.
Já estamos vendo que alguns países estão trabalhando para além das medidas de curto prazo de alívio à pandemia e elaborando políticas públicas para a recuperação econômica de longo prazo. Segundo a International Finance Corporation (IFC), membro do Banco Mundial e maior instituição financeira de desenvolvimento de apoio ao setor privado em mercados emergentes, as estimativas apontaram que até o final de 2020, as principais economias tinham implementado cerca de US$ 13 trilhões em pacotes de estímulo.
Para a IFC, agora que os países estão mudando o foco de medidas de alívio de curto prazo para a recuperação econômica, há uma oportunidade de enfrentar não somente a crise econômica causada pela pandemia, mas a crise climática e as disparidades econômicas e sociais.
No início de novembro de 2020, a Bloomberg New Energy Finance (BNEF) estimou que os governos nacionais e subnacionais comprometeram US$ 179 bilhões para estimular uma recuperação econômica verde. Um terço dessas medidas de estímulo, foram destinadas a uma combinação de conservação da natureza, biodiversidade e silvicultura e outras áreas. Um quarto do estímulo verde visa o transporte elétrico, seguido por eficiência energética, outras mobilidades verdes, energia limpa e hidrogênio.
Além disso, em dezembro de 2020, a União Europeia aprovou €750 bilhões para o Next Generation EU Recovery Fund, onde cerca de 37%, ou pelo menos €277,5 bilhões, foi destinado à ação climática e sustentabilidade ambiental. Nos mercados emergentes, alguns países incluindo China, Índia, Indonésia, Nigéria e África do Sul, incorporaram medidas verdes em seus pacotes de estímulo, embora seja uma pequena parte do financiamento total.
O fato é que existe uma ideia forte de que futuros recursos de estímulo sejam orientados para um mundo que seja ambiental e economicamente sustentável, mais justo e mais resistente a choques, como pandemias e eventos climáticos extremos.
A IFC lançou em janeiro de 2021, um estudo com sugestões para a reconstrução pós-Covid-19. As sugestões priorizam a descarbonização em mercados emergentes de 21 economias - Rússia, Servia, Turquia, Ucrânia, China, Indonésia, Filipinas, Vietnã, Bangladesh, Índia, Argentina, Brasil, Colômbia, México, Egito, Jordânia, Marrocos, Quênia, Nigéria, África do Sul e Costa do Marfim. Essa abordagem pode abrir caminhos para economias mais sustentáveis, resilientes e equitativas.
Com base nesse propósito, o estudo procurou quantificar as oportunidades de investimento, geração de empregos e a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), associadas às medidas de recuperação verde nessas 21 economias. Esses países representam 62% da população mundial e 48% das emissões globais.
O resultado desse estudo, mostrou que o foco em investimentos verdes pode gerar US$ 10,2 trilhões entre 2020 e 2030. Os investimentos serão direcionados para 10 setores-chave, nos esforços de recuperação econômica pós-Covid, com o objetivo de gerar novos investimentos, criar milhões de empregos e ajudar a atingir a meta de limitar o aumento da temperatura global abaixo de 2 graus Celsius. Ver figura abaixo com o resumo da proposta da IFC.

Essa estratégia tem como base o histórico comprovado de crescimento econômico, demonstrado por países que usaram financiamento de estímulo verde, após a crise financeira global de 2008.[1]
Os 10 setores, nos 21 mercados emergentes que a IFC selecionou, empregam milhões de pessoas e representam indústrias em crescimento, com forte potencial para geração de novos empregos. Oito desses setores estão maduros para investimento do setor privado, e podem gerar projetos em curto período de desenvolvimento e construção; e atrair capital significativo. Isso é particularmente importante em um ambiente de restrição orçamentária pós-Covid, onde o financiamento público limitado deve ser alavancado para criar incentivos fiscais e de política apropriados para estimular o crescimento da economia.
De acordo com o estudo, dois setores (6 e 7) - captura, utilização e armazenamento de carbono e uso da natureza na infraestrutura urbana - estão nos estágios iniciais de comercialização. No entanto, o foco no desenvolvimento desses setores hoje pode levar a reduções significativas de custos de tecnologia, novas oportunidades de investimento e benefícios climáticos a médio e longo prazo. Ver a figura 2 que ilustra os setores-chave para a transição verde, segundo a IFC.

Algumas considerações
A pandemia revelou disparidades agudas na capacidade de lidar com as crises. As perdas humanas e financeiras causadas pela Covid-19 nas comunidades mais pobres e vulneráveis do mundo, são paralelas aos impactos das mudanças climáticas. A mudança climática já está causando sofrimento significativo, como escassez de água, quebra de safras, incêndios florestais, clima extremo em diversas áreas, migração forçada e pandemias. As regiões mais quentes e mais pobres, são afetadas de forma particularmente dura, pois não dispõem de meios para investir em medidas de adaptação e resiliência.
A reconstrução da economia com foco estratégico em abordagens inteligentes para a transição climática verde, pode ajudar governos e empresas a se prepararem para um futuro mais limpo, próspero e justo. Uma recuperação verde também pode ajudar a evitar ou reduzir crises financeiras e econômicas causadas pelo clima.
A parceria entre os setores público e privado será necessária. A ação do governo pode criar o quadro regulamentar e institucional para promover inovação e investimento.
As oportunidades existem. Fica claro que o IFC está pronto para receber propostas governamentais e do setor privado, para fazer a transição das economias para um desenvolvimento econômico mais inclusivo e sustentável.
Até mais!
[1] WRI (2020) Lessons Learned on Green Stimulus: Case Studies from the Global Financial Crisis. Disponível em: https://publications.wri.org/lessons-green-economic-stimulus
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