Economia e Inovação

Por: Sudanês B. Pereira

Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.

Crescimento Global deve alcançar 3% em 2023

19/09/2023
Imagem de kjpargeter no Freepik

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgou o relatório parcial “OECD Economic Outlook, Interim Report September 2023” mostrando que a economia mundial se revelou mais resiliente do que o esperado no primeiro semestre de 2023, mas as perspectivas de crescimento permanecem fracas. Com uma recuperação mais fraca do que o esperado na China, prevê-se que o crescimento global em 2024 seja inferior ao de 2023.

Principais pontos abordados no Relatório

O crescimento global deverá permanecer fraco

Espera-se que a economia mundial cresça 3,0% em 2023, antes de desacelerar para 2,7% em 2024. Uma parte desproporcional do crescimento global em 2023-24 continue a vir da Ásia, apesar da recuperação mais fraca do que o esperado na China.

A OCDE prevê que a inflação seja moderada ao longo de 2023 e 2024, mas permaneça acima dos objetivos dos bancos centrais na maioria das economias. A inflação global nas economias do G20 deverá ser de 6% em 2023 e 4,8% em 2024. O relatório coloca que uma desaceleração mais acentuada do que o esperado na China é um risco adicional importante que afetaria o crescimento da produção em todo o mundo. A projeção para o Brasil aponta crescimento de 3,2% em 2023. Ver o gráfico abaixo.

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Taxas de crescimento anual projetadas do PIB para 2023 e 2024 (%)

A recuperação do crescimento global no 1o semestre de 2023 pode ter vida curta

O relatório revela que o PIB global avançou a um ritmo anual de 3,2% no primeiro semestre de 2023 em comparação com o segundo semestre de 2022, um pouco mais forte do que o esperado pela agência. O crescimento foi significativo nos Estados Unidos e no Japão, porém, fraco na maior parte da Europa, especialmente na Alemanha. Entre as economias de mercado emergentes do G20, as surpresas de crescimento têm sido na sua maioria positivas, especialmente no Brasil, ajudadas por resultados agrícolas favoráveis, na Índia e na África do Sul. No entanto, o crescimento na China perdeu dinamismo.

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Crescimento do PIB global (%)

Sinais recentes, especialmente provenientes de indicadores de manufatura e serviços, apontam para uma perda de dinamismo global

Os indicadores de atividade da OCDE sinalizam, no geral, uma perda de dinamismo no segundo semestre de 2023.

A nível global, os indicadores da produção e das novas encomendas na indústria de transformação situam-se em níveis com a estagnação ou contração do setor. Os indicadores do setor de serviços são mais fortes, muito embora tenham enfraquecido recentemente. 

A Índia mostra crescimento dos indicadores de manufatura e serviços com uma força significativa, mas os indicadores de atividade econômica são mais moderados no Japão e China, e fracos na área do euro e nos Estados Unidos. Ver a figura abaixo.

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Indicadores de Atividade (PMI) apresentam queda em várias Economias

A Inflação Global deve Cair

O relatório mostra que a inflação global dos preços ao consumidor caiu mais do que o esperado na maioria das economias do G20, ajudada pela inversão do aumento de energia e alimentos em 2022, desencadeado pela invasão da Ucrânia pela Rússia. 

A inflação média do G20 em 2023 e 2024 está com projeção entre 6% e 4,8%, respectivamente, abaixo dos 7,8% em 2022. 

Para as economias avançadas do G20, a inflação global caiu quase pela metade, desde os picos observados em 2022 até o último mês. O Japão é uma exceção, com uma desvalorização superior a 20% do iene face ao dólar desde o início de 2022, aumentando a inflação dos preços de importação. A inflação global japonesa deverá ser superior à do ano passado, em contraste com todas as outras economias avançadas do G20. 

Para este ano, as maiores taxas de inflação estão na Argentina, Grã-Bretanha, Alemanha e Itália. Para 2024, as maiores taxas de inflação estarão na África do Sul, Índia e México. Ver o gráfico abaixo.

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Projeção da Inflação Global (2023-2024)

Os Riscos apontados pela OCDE

Um dos riscos relacionado é a possibilidade de ocorrência de choques adversos de oferta nos mercados globais de matérias-primas. Os preços dos alimentos e da energia têm um grande peso nos índices de preços ao consumidor de muitos países e são um importante determinante das expectativas de inflação das famílias. 

Os preços de energia estão longe dos seus picos em 2022, na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, mas os mercados de energias continuam em alerta devido ao potencial de perturbações de fornecimento nos mercados de petróleo, carvão e gás. Um novo aumento nos preços da energia daria um novo impulso à inflação global e prejudicaria o crescimento nas economias importadoras de matérias-primas. 

Existe também o risco de que o ressurgimento dos preços e da escassez de alimentos possa agravar a segurança alimentar numa série de economias emergentes e em desenvolvimento. O evento El Niño poderá afectar negativamente algumas culturas alimentares no próximo ano, e as restrições à exportação impostas por alguns dos principais produtores pode limitar a oferta nos mercados globais, especialmente o arroz, onde os preços globais estão no nível mais elevado dos últimos 15 anos. 

A guerra na Ucrânia também mantém o potencial para gerar pressões renovadas sobre os preços do trigo, milho, óleos comestíveis e fertilizantes. Ver os gráficos abaixo.

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Riscos podem Alterar os Mercados de Energia e Alimentos

O que os Governos precisam fazer

1.A política monetária precisa permanecer restritiva

Para enfrentar a inflação, a OCDE sugere que a política monetária deve permanecer restritiva até que haja sinais claros de que as pressões inflacionárias estão a diminuindo de forma duradoura.

2.A política fiscal precisa se preparar para futuras pressões sobre despesas

Os governos precisam conceber e implementar planos orçamentários de médio prazo que reconheçam e respondam às crescentes necessidades futuras de despesas relacionadas com o envelhecimento da população, a defesa, a transição climática e os encargos da dívida.

3.A redução das restrições comerciais aumentaria a produtividade e o crescimento

Segundo o relatório, a integração comercial precisa continuar. A integração é uma importante fonte de prosperidade a longo prazo tanto para as economias avançadas como para as economias emergentes. As preocupações com a segurança econômica não devem impedir os governos de aproveitarem as oportunidades para reduzir as barreiras comerciais, especialmente nos setores de serviços.

Para melhorar as perspectivas de produtividade seria importante reforçar o investimento da força de trabalho, como o desenvolvimento de competências, permitindo um crescimento mais inclusivo.

Aumentar o investimento em infraestruturas verdes e digitais e o apoio à inovação, são prioridades fundamentais para a maioria das economias.

Excelente semana!