Economia e Inovação

Por: Sudanês B. Pereira

Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.

Brasil Perde Competitividade Verde

07/12/2021
Flor foto criado por jcomp - br.freepik.com

A Universidade de Oxford e o grupo Lombard Odier lançaram este mês o relatório “Predictors of Successin a Greening World”. O relatório faz uso de pesquisas para identificar quais países estão se especializando em indústrias verdes de alto crescimento; quais estão atrasados, e em que medida usou a pandemia da Covid-19 para induzir uma “recuperação verde”. Segundo os dados do relatório, Estados Unidos, Alemanha e China direcionaram até 1% de seu PIB para investimentos focados em recuperação sustentável.

Para os pesquisadores, as regiões que conseguem participar do mercado de alto valor e de cadeias de abastecimento relevantes, provavelmente estarão em melhor posição para se beneficiar economicamente da transição para um desenvolvimento mais verde, enquanto aquelas que continuam a se concentrar e se especializar em setores sujos em declínio, correm o risco de ficar com ativos improdutivos.

Para definir um conjunto de produtos “verdes” comercializados globalmente, a pesquisa usou uma lista de 295 produtos, com base nas listas de bens ambientais compiladas pela OMC, OCDE e APEC. O relatório usa o Índice de Complexidade Verde (GCI) para medir o número e a complexidade (uma representação da sofisticação tecnológica) dos produtos verdes que um país exportou competitivamente.

A análise foi construída através dos perfis de competitividade verde da Austrália, Brasil, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, China, Suíça e Cingapura.

Principais conceitos

Índice de Complexidade Verde (GCI)

É o índice que captura o número e a complexidade de produtos verdes que um país está exportando competitivamente. Mede a competitividade verde dos países.

Índice de Complexidade Econômica (ICE)

O ICE classifica os países de acordo com a similaridade dos produtos nos quais são competitivos. Os países com um ICE alto têm vantagens competitivas semelhantes a outros países com um ICE alto, esses países tendem a ser economias avançadas que são capazes de exportar produtos tecnologicamente sofisticado de forma competitiva.

Índice de Complexidade do Produto (PCI)

O PCI classifica os produtos de acordo com a semelhança dos países que os exportam competitivamente. Os produtos de alto PCI, que são exportados competitivamente por países com alto ICE, tendem a refletir produtos mais sofisticados tecnologicamente e vice-versa para produtos com baixo ICE.

Potencial de Complexidade Verde (GCP)

O Índice de Potencial de Complexidade Verde (GCP), mede quanto potencial um país tem para diversificar em produtos verdes e complexos no futuro, com base na proximidade e complexidade dos produtos nos quais ainda não é competitivo.

Principais Destaques do Relatório

De acordo com o relatório, o mundo está no meio de uma nova revolução industrial verde, impulsionada por megatendências que apontam na direção de uma economia mais inteligente, mais verde, mais eficiente e potencialmente mais barata. As indústrias, investidores e governos que investem e promovem indústrias de alto crescimento, compatíveis com o clima, têm muito a ganhar. Nesse sentido, o relatório coloca algumas questões-chaves: quais países, regiões e ativos econômicos estão prestes a se valorizar e quais devem cair?

O relatório mostrou que a competitividade verde se apresenta de forma desigual pelo mundo (ver a figura 1). Europa, América do Norte, China, Japão e Índia estão entre as regiões mais bem classificadas em complexidade verde; enquanto África, Austrália e partes da América do Sul têm a classificação mais baixa.

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Fig. 1. Mapa mundial com os países coloridos de acordo com seu Índice de Complexidade Verde (GCI)..png

De acordo com o relatório, as oportunidades de se beneficiar da transição para a economia verde, são inúmeras e variadas entre os países. Enquanto os países que desenvolveram fortes capacidades tecnológicas e de manufatura, como Alemanha, Estados Unidos e China, estão atualmente bem posicionados para se beneficiar da transição verde, Brasil, Austrália e Suíça perderam competitividade verde nos últimos 25 anos. Cabe observar o salto da China no ranking de complexidade verde (CGI), demonstrando que o país está competindo de forma agressiva em todos os segmentos de atividade econômica, refletindo em seus indicadores, ao mesmo tempo, o Brasil apresenta dinâmica de queda do seu índice de complexidade verde (CGI) ao longo do período analisado. Ver o gráfico 1 abaixo com a evolução dos índices de complexidade verde

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Gráfico 1. Índice de Complexidade Verde (GCI) Países Pesquisados.png

Quais países têm o maior potencial de crescimento de produtos verdes?

Segundo os pesquisadores, um produto pode ser considerado verde se fornecer benefícios ambientais em seu uso. Ou seja, a fabricação de um produto pode envolver energias não renováveis e resíduos, mas se o produto em si é um insumo de entrada que será de uso ambiental, como redução da poluição ou fornecimento de energia renovável, este produto provavelmente, dará maior potencial de receitas de exportação em um mundo cada vez mais verde. Na lista de 295 produtos “verdes” da pesquisa, 62 estão relacionados à energia renovável. A análise mostra que a energia renovável foi a que mais ganhou em termos de participação nos valores do comércio global nas últimas décadas.

O relatório mostra que os três primeiros colocados em relação ao índice Potencial de complexidade verde (GCP), que mede quanto potencial um país tem para diversificar em produtos verdes e complexos no futuro, são China, Itália, e Espanha, respectivamente. Assim como a classificação do GCI, o GCP diminuiu para Brasil, Austrália (bem significativo) e Suíça. Na visão dos pesquisadores, na ausência de uma ação política para reagir a essas tendências, esses três países podem experimentar novas quedas no futuro. Ver o gráfico abaixo.

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Gráfico 2. Índice Potencial de Complexidade Verde (GCP) Países Pesquisados.png

O Brasil no Relatório Predictors

O relatório lembra que o Brasil teve e tem uma história de progresso tecnológico - principalmente na aviação -, possui um forte potencial de energia verde, e a capacidade de energias renováveis aumentou significativamente na última década. Outros aspectos do país são mencionados como positivos, como a alavancagem dos recursos hídricos, eólicos e solares para desenvolver uma indústria local de fabricação de turbinas eólicas e vantagens competitivas na exportação de turbinas hidráulicas.

No entanto, o país se destaca negativamente por seu investimento relativamente baixo em P&D, combinado com volatilidade econômica e política, altos níveis de corrupção e baixa capacidade das indústrias de gerar inovação. Esses problemas sem dúvida contribuíram para o declínio das classificações dos índices de complexidade econômica (ICE), complexidade verde (GCI) e índice de potencial de complexidade verde (GCP). O GCI do país caiu da posição 48 para a 93 e o GCP caiu da posição 43 para a 72, sugerindo que o GCI provavelmente cairá ainda mais no futuro. Os índices do país caíram muito nos últimos anos, tanto a competitividade verde do Brasil, seu potencial de competitividade verde, a economia, enfim, apresentou uma tendência de declínio ao longo do período de estudo. Ver os gráficos com a evolução dos índices.

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Gráfico 3. Brasil: Índices de Complexidade Econômica (ICE) e de Complexidade Verde (GCI) .png

Além disso, o relatório também mostra que o país apresentou um crescimento na participação das exportações globais de produtos verdes no período de 2003-2009, mas após 2009 o movimento foi de declínio. Ainda, entre o período de 2015-2019, os volumes de comércio total caíram nas 5 principais categorias do Brasil: Consumo Eficiente de Tecnologias Energéticas e Captura e Armazenamento de Carbono, Energia Renovável, Gestão de Águas Residuais e Tratamento de Água Potável, Controle da Poluição do Ar e Redução de Ruído e Vibrações. Ver os gráficos abaixo.

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Gráfico 4. Brasil: Índices de Potencial de Complexidade Verde (GCP) e Participação do país nas exportações globais de produtos dentro da categoria "todos os produtos verdes".png

Um Resumo do Brasil no Relatório

  1. A competitividade verde do Brasil tem apresentado uma tendência de declínio nas últimas décadas: sua classificação global no Índice de Complexidade Verde caiu de 48 para 93, enquanto sua classificação no Potencial de Complexidade Verde caiu de 43 para 72.
  2. O declínio no Potencial de Complexidade Verde sugere que reverter essa tendência negativa na competitividade verde se tornará cada vez mais difícil.
  3. Os valores absolutos de exportação de produtos verdes aumentaram entre 1995 e 2011-2015, mas diminuíram desde então.
  4. O governo do Brasil tem sido alvo de críticas internacionais por sua incapacidade de combater o desmatamento na região amazônica, que aumentou extremamente desde 2019.
  5. O Brasil tem um potencial considerável de energia verde e a capacidade de energia renovável cresceu significativamente na última década, principalmente no setor eólico.
  6. Segundo o relatório, o financiamento do banco de desenvolvimento do Brasil (BNDES) para projetos de energia renovável tem sido contingente aos Requisitos de Conteúdo Local, que se acredita terem contribuído para o estabelecimento de uma base de manufatura local para equipamentos de geração renovável. Isso levou a um aumento da manufatura e empregos locais, mas na análise do relatório indica que o Brasil perdeu, ao invés de ganhar, competitividade internacional nesses componentes.