Economia e Inovação

Por: Sudanês B. Pereira

Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.

Brasil perde Competitividade Global (Economia, Digital e Talentos)

21/06/2021

O World Competitiveness Yearbook (WCY) é um relatório anual abrangente e um ponto de referência mundial sobre a competitividade dos países. A publicação é realizada pelo IMD World Competitiveness Center, abrange 64 economias, com base em 334 critérios.

O Ranking de Competitividade analisa e classifica os países de acordo com a forma como estes gerenciam suas competências para gerar valor no longo prazo, analisando a economia, os talentos e a competitividade digital do país. Já é consenso que a competitividade de uma economia não pode ser reduzida apenas ao PIB e à produtividade, outras dimensões como as culturais, de inovação, ambiental, políticas e sociais, são igualmente importantes. Com base nessa perspectiva, os governos precisam viabilizar um ambiente caracterizado por infraestruturas, instituições e políticas eficientes que incentivem a criação de valor sustentável pelas empresas. Este ano, a classificação expõe o impacto econômico da pandemia em todo o mundo.

No fundo, o ranking avalia até que ponto um país promove a prosperidade de sua população.

SBP

Resultados do Ranking de Competitividade Mundial de 2021

Inovação, digitalização, benefícios de bem-estar e coesão social são fundamentais para o desempenho econômico no ranking de 2021, liderado pela Suíça (1ª), Suécia (2ª), Dinamarca (3ª), Holanda (4ª) e Cingapura (5ª). Segundo o IMD, as economias de alto desempenho são caracterizadas por vários graus de investimento em inovação, atividades econômicas diversificadas e políticas públicas de apoio.

Competitividade tem a ver com prosperidade, não necessariamente crescimento.

SBP

Considerando a crise da saúde (embora séria, porém temporária), e a competitividade (que mede o impacto no longo prazo), a publicação mostrou as seguintes tendências em todo o mundo:

  1. A inovação é a base do desempenho de longo prazo, com a educação e a pesquisa, além de outros fatores que impulsionam uma força de trabalho produtiva - Suíça, as Economias nórdicas e Cingapura ocupam as primeiras posições neste quesito.
  2. Economias digitalmente avançadas que fizeram uma transição para o “work-from-home” prosperaram em comparação com seus pares - Cingapura lidera, seguida pela Holanda, Suécia, Finlândia e EUA.
  3. As economias com eficiência governamental, que possuem uma forte rede de segurança social, incluindo benefícios para o desemprego, se recuperaram mais rapidamente na crise.
  4. A infraestrutura de saúde, dominada por economias ricas como uma forte rede social, tem um impacto na prosperidade de um país - Suíça, Economias nórdicas e Cingapura, ocupam as primeiras posições.

O Brasil no Ranking de Competitividade Mundial (WCY)

Entre os 64 países, o Brasil ocupou a 57ª posição no relatório deste ano. Por que essa posição? Bem, somos o 62º em eficiência governamental, 52º em infraestrutura, 51º em desempenho econômico, e 49º em eficiência empresarial. Ou seja, estamos bem longe de ser um país de competitividade global. Ver a figura 1 com a evolução anual do Brasil no ranking de competitividade.

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Figura 1. Desempenho Anual do Brasil no Ranking de Competitividade (2017-2021).jpg

Além do ranking de competitividade mundial, o país precisa melhorar também em dois outros: o ranking de competitividade digital e o ranking de talentos mundiais.

O Ranking de Competitividade Digital (WDC)

O World Digital Competitiveness (WDC), mede a capacidade e a rapidez/facilidade das economias para adotar e explorar tecnologias digitais, e fazer a transformação econômica e social. Ou seja, até que ponto os países adotam e exploram tecnologias digitais que levam à transformação das práticas governamentais, modelos de negócios e da sociedade em geral.

Para o IMD, a transformação digital ocorre principalmente no nível empresarial, mas também ocorre nos níveis governamental e social. A metodologia do ranking WDC define a competitividade digital em três fatores principais: Conhecimento, Tecnologia e Prontidão para o Futuro. Por sua vez, cada um desses fatores é dividido em 3 subfatores. Os Fatores e subfatores de competitividade digital são os seguintes:

  1. Conhecimento: Know-how necessário para descobrir, compreender e construir novas tecnologias. Subfatores: Talento, Treino e educação, Concentração Científica.
  2. Tecnologia: Contexto geral que permite o desenvolvimento de tecnologias digitais. Subfatores: Estrutura regulatória, Capital, Estrutura Tecnológica.
  3. Prontidão/agilidade para o Futuro (future readiness): Nível de preparação do país para explorar a transformação digital. Subfatores: Atitudes Adaptativas, Agilidade de Negócios, Integração de TI.

No ranking WDC 2020, os Estados Unidos ficaram em 1º lugar, Cingapura (2º), Dinamarca (3º) e a Suécia em 4º lugar.

E o Brasil no Ranking de Competitividade Digital?

Em 2020, o país teve a melhor performance em cinco anos, ocupando a 51ª posição, entre 64 países. A figura 2 ilustra o desempenho anual do Brasil no ranking.

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Figura 2. Desempenho Anual do Brasil no Ranking de Digital (2016-2020).jpg

Para ilustrar melhor o desempenho do país nesse ranking, é importante conhecer a posição do país nos seus respectivos fatores de competitividade digital. Segundo o relatório, o país ocupa a 43ª posição em agilidades para o futuro (futures readiness), e a 57ª posição em tecnologia e conhecimento. A figura abaixo, ilustra as posições que o país ocupa no desempenho relacionado aos subfatores que compõem a competitividade digital do país.

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Figura 3. Classificação do Brasil nos Fatores do Ranking de Competitividade Digital (2020).jpg

O Ranking Mundial de Talentos (WRT)

O IMD World Talent Ranking (WTR), avalia o status e o desenvolvimento de competências necessárias para que as empresas e a economia atinjam a criação de valor a longo prazo. Esse esforço, é feito através de um conjunto de indicadores que medem o desenvolvimento, retenção e atração de mão-de-obra altamente qualificada, seja nacional ou internacional.

O Ranking Mundial de Talentos define a Competitividade do Talento em três fatores principais: Investimento e Desenvolvimento (analisa o investimento e desenvolvimento de talentos locais), Atração (analisa até que ponto um país entra no pool de talentos no exterior – retém talentos locais e atrai estrangeiros), e Disposição (a disponibilidade de habilidades e competências que estão disponíveis no pool de talentos de um país)

A Suíça lidera pelo quarto ano consecutivo, a Dinamarca está em 2º lugar e Luxemburgo em 3º no Ranking Mundial de Talentos de 2020.

O Brasil no Ranking Mundial de Talentos (WRT)

Em 2020, o Brasil ocupou a 59ª posição entre 64 países. A ilustração abaixo mostra o desempenho anual do país no período de 2016-2020.

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Figura 4. Desempenho Anual do Brasil no Ranking Mundial de Talentos (2016-2020).jpg

De maneira geral, não estamos muito bem. Em 2020, o componente “investimento e desenvolvimento”, extremamente importante para melhorar o desenvolvimento do nosso capital humano, ocupou a 56ª posição, entre 64 países. Ocupamos a posição 63 quando se trata de dispormos de capital humano com as habilidades e competências necessárias para as exigências futuras, das quais o país certamente precisará para potencializar a sua competitividade. E por último, mas não menos importante, ocupamos a 45ª posição em relação à capacidade de reter talentos locais e atrair estrangeiros.

Conclusões

Considerando a crise da pandemia em 2020 e os desafios para 2021, o relatório sugere ao Brasil:

  1. Garantir o acesso nacional às vacinas COVID-19.
  2. Promover o emprego inclusivo e medidas no mercado de trabalho, com foco na formação e requalificação para se integrar na economia digital.
  3. Alavancar os investimentos públicos e privados para desenvolver os ecossistemas nacionais de ciência, tecnologia e inovação.
  4. Recuperar a estabilidade política e socioeconômica interna e externamente, aprovando projetos de reforma tributária e administrativa.
  5. Incentivar os investimentos nacionais e estrangeiros na infraestrutura produtiva e de serviços, para melhor se adaptar aos mercados do amanhã/do futuro.

Claro que são necessários projetos em diversas áreas, mas capital humano e tecnologia estão na fronteira da competitividade, e essas duas áreas nós estamos perdendo competitividade há alguns anos.

Até mais!.