Economia e Inovação

Por: Sudanês B. Pereira

Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.

As Startups Urban Techs devem captar US$ 31 bilhões em 2023

07/12/2023
Freepik

Edifícios verdes, matéria-prima sustentável, materiais que capturam carbono, mobilidade, energia sustentável. Esses são os focos das Urban Techs que se propõem a resolver os problemas das cidades.

As empresas, 2150 Urban Tech Sustainability Fund - empresa de capital de risco que investe em empresas de tecnologia que buscam reimaginar e remodelar de forma sustentável o ambiente urbano, e a Dealroom.co - plataforma global de informação sobre startups, capital de risco e principal fornecedor de dados sobre os ecossistemas de startups na Europa e em todo o mundo, lançaram em novembro o “Urban Tech 2023”. O objetivo do relatório é mostrar que as tecnologias urbanas podem ajudar a repensar e renovar os modos de construir e viver nas cidades, assim como disponibilizar informações e dados sobre os investimentos que estão sendo direcionados para startups urban techs.

O que é uma Urban Tech?

Urban tech é uma tecnologia que melhora os ambientes urbanos para torná-los mais sustentáveis, resilientes e eficientes. Embora governos e regulamentações possam estar envolvidos, o urban tech tem como alvo principal o setor privado, vendendo diretamente para empresas e consumidores.

Segundo a ONU-HABITAT, permanecendo o ritmo atual, a população urbana global deve alcançar 68% em 2050. Certamente não estamos preparados para a pressão adicional sobre nossa infraestrutura, recursos naturais e habitação.

As cidades consomem 3/4 da energia do mundo e produzem 70% dos gases de efeito estufa. Reduzir as emissões com tecnologia, em um prazo acelerado, é um dos desafios do setor, que se envolve em quatro diferentes aspectos das cidades: infraestrutura, construção, operação e qualidade de vida. Tornar as cidades mais sustentáveis, resilientes e eficientes, preparar os centros urbanos para, até 2050, abrigar 68% da população global, esse é o maior desafio.

Highlights do Relatório Urban Tech 2023

[1] Tendências de Investimento e Unicórnios

Segundo a Dealroom, o financiamento para startups de tecnologia urbana (urban tech) já alcançou US$26.6 bilhões arrecadados até 01 de novembro, e devem somar uma captação global de US$ 31 bilhões em 2023, um valor inferior ao ano de 2022, quando os investimentos alcançaram US$ 51 bilhões. Ver o gráfico abaixo.

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Investimento de VC em startups de tecnologia urbana (Urban Tech) (2011-2023)

Startups de Construção Sustentável

Segundo o relatório, o financiamento de venture capital (VC) para startups de construção sustentável já ultrapassou o nível recorde de 2022. Até novembro deste ano, os investimentos alcançaram US$5.3 bilhões.

Startups de construção sustentável refere-se a startups que trabalham para tornar os edifícios mais sustentáveis, por exemplo, produzindo materiais sustentáveis (cimento, aço, biomateriais etc.), processos de construção (modulares etc.), descarbonizando sistemas de aquecimento, refrigeração e iluminação (painéis solares, bombas de calor etc.) -, startups de eficiência energética e software para desenvolvedores imobiliários ou proprietários visando a descarbonização dos edifícios. Ver o gráfico abaixo com os dados para 2023 até 01 de novembro.

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Investimento de VC em startups de construção sustentável (2011-2023)

As Startups Unicórnios de Urban Tech

O relatório revela que dos 157 unicórnios de tecnologia urbana, 138 estão operando em energia limpa ou mobilidade, mas outras categorias têm surgido desde 2020. Observe o gráfico abaixo, ele mostra que a partir de 2017 as startups unicórnios de mobilidade urbana e logística, ultrapassam as startups unicórnios de tecnologias limpas e tecnologias de rede, mantendo a liderança até 2022, quando ocorre o ponto de inflexão e as startups unicórnios de energias limpas ultrapassam as de mobilidade urbana e tecnologias de redes.

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Número de unicórnios de tecnologia urbana por segmento (2014-2023)

Segundo o relatório, as maiores subcategorias de unicórnios de tecnologia urbana são empresas de construção sustentável e eficiência energética em edifícios.

As cidades desempenharão um papel fundamental para atingir as metas de sustentabilidade. Desde os edifícios que habitamos até os carros que dirigimos, cada elemento urbano pode ser abordado de forma significativa para avançar na transição climática, e as novas tecnologias podem ter um papel fundamental nessa direção.

[2] Tecnologias e Plataformas de Infraestrutura

O relatório é assertivo ao dizer que “a construção está ficando para trás”, com produtividade em declínio, custos crescentes e ferramentas tradicionais, carecendo de transformação digital. Isso abre espaço e oportunidades para as startups.

De acordo com a pesquisa da LetsBuild, “Excel spreadsheets in construction: It’s time to let them go”, de outubro de 2023, impressionantes 85% dos entrevistados no setor europeu da construção, ainda dependem do Excel para planejamento a curto prazo. O estudo da ING (2022) mostra que de 2012 a 2020, o aumento médio de preço da produção (participação do valor agregado) na construção europeia foi de 2,3% ao ano, em comparação com 1,0% na indústria manufatureira. O gráfico abaixo mostra que, desde 1995 a produtividade da mão de obra na construção, na União Europeia, estagnou, enquanto quase dobrou para a indústria manufatureira.

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Declínio na produtividade da mão de obra da construção na União Europeia

Para enfrentar essa lacuna de produtividade, uma onda de startups surgiu no cenário da tecnologia de construção, visando interromper as práticas tradicionais. A Construction Tech envolve a aplicação de novas tecnologias digitais em três principais fases da construção: desenvolvimento, planejamento e construção. As empresas de tecnologia da construção, normalmente baseadas em software, têm como objetivo a inovação na digitalização e sustentabilidade do setor.

Sob o ponto de vista da sustentabilidade, o carbono incorporado representa quase um terço das emissões do setor da construção, principalmente impulsionado pelos materiais de construção (principalmente cimento e aço), segundo o World Green Building Council. Globalmente, o carbono incorporado é responsável por 11% das emissões anuais de gases de efeito estufa (GEE).

A menos que nossos métodos de construção mudem, os materiais de construção causarão emissões superiores a 150 GtCO2 entre 2020 e 2050, consumindo 30% do nosso orçamento restante de CO2 compatível com uma meta de aquecimento global limitada a 1,5°C.

Segundo o relatório, as startups de construção sustentável levantaram US$2,5 bilhões em 2023. O aumento do financiamento para a construção sustentável de edifícios está, principalmente, vindo da inovação em materiais, como aço sustentável, cimento e biomateriais.

O investimento na descarbonização da operação de edifícios já arrecadou US$2,6 bilhões em 2023, caminhando para um recorde de mais de US$3 bilhões.

Os incêndios florestais também podem tornar as cidades inabitáveis, piorando a qualidade do ar. De acordo com o relatório, os investimentos em startups de combate a incêndios florestais cresceram 7 vezes desde 2018, saindo de US$ 7 milhões para US$ 107 milhões em 2023, somente até 01 de novembro. Espera-se que o ano de 2023 supere os investimentos totais de 2021, maior pico de investimento nessa área. Ver o gráfico abaixo.

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Investimento em startups de gestão de incêndios florestais (2016-2023)

A tecnologia de detecção de incêndios florestais atraiu o maior financiamento entre as startups de combate a incêndios florestais. Foi possível detectar também, que muito financiamento tem sido direcionado para seguros contra catástrofes climáticas e qualidade do ar.

Pensando alto

E as empresas da construção no Brasil? como estão fazendo essa transição? não somente sobre digitalização de processos, mas, principalmente, a transição para empresas mais sustentáveis – circularidade, eficiência energética, sustentabilidade social, diversidade, equidade........etc etc. Para refletir.