Economia e Inovação

Por: Sudanês B. Pereira

Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.

As Fintechs receberam US$ 459,6 bilhões de financiamento em 2022

22/11/2023
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Em outubro, a McKinsey & Company divulgou um relatório no qual examina como as fintechs podem continuar crescendo em relevância para os clientes, o ecossistema financeiro geral e a economia mundial. Com base em pesquisas e entrevistas com mais de 100 fundadores, executivos de fintech, bancos, investidores e partes interessadas do ecossistema, a McKinsey identificou temas-chave que moldam o futuro das fintechs.

Nos últimos anos, as fintechs remodelaram algumas áreas de serviços financeiros com suas propostas de valor inovadoras, diferenciadas e centradas no cliente, modelos de negócios colaborativos e equipes multiqualificadas.

Highlights do Relatório

Segundo a pesquisa, em julho de 2023 as fintechs de capital aberto representaram uma capitalização de mercado de US$ 550 bilhões, um aumento de duas vezes em relação a 2019. Além disso, a partir do mesmo período, havia mais de 272 unicórnios fintech, com uma avaliação combinada de US$ 936 bilhões.

A indústria de fintechs levantou capital recorde na segunda metade da última década. O financiamento de capital de risco (VC) cresceu de US$ 19,4 bilhões em 2015 para US$ 33,3 bilhões em 2020, e continuou crescendo em 2021, desencadeada pela pandemia na digitalização. Em 2021 o financiamento de capital de risco para fintechs alcançou US$ 681,1 bilhões, em 2022 o financiamento caiu para US$ 459,6 bilhões.

A pesquisa mostra que as receitas no setor de fintech devem crescer quase três vezes mais rápido do que as do setor bancário tradicional entre 2022 e 2028. Em comparação com o crescimento anual de 6% da receita para o setor bancário tradicional, as fintechs poderiam apresentar um crescimento anual da receita de 15% nos próximos cinco anos.

Além disso, o relatório revela três temas que moldarão o próximo capítulo do crescimento da fintech. Primeiro, as fintechs continuarão a se beneficiar da transformação radical do setor bancário, da rápida adoção digital e do crescimento do comércio eletrônico em todo o mundo, particularmente nas economias em desenvolvimento. Em segundo lugar, apesar das pressões de curto prazo, as fintechs ainda têm espaço para alcançar mais crescimento em um ecossistema de serviços financeiros em expansão. E, finalmente, as fintechs em certas verticais e em estágios específicos de crescimento são mais resilientes do que seus pares.

A Transformação do Setor Bancário e as Fintechs

De acordo com a McKinsey, o setor bancário está enfrentando um futuro marcado por uma reestruturação sem precedentes. Bancos e não bancos estão competindo para atender às necessidades distintas dos clientes em cinco arenas intersetoriais nesta nova fase: banco diário, consultoria de investimento, financiamento complexo, intermediação por atacado em massa e banco como serviço (BaaS). A adoção digital não é mais uma questão, mas uma realidade: cerca de 73% das interações do mundo com os bancos agora ocorrem através de canais digitais.

Além disso, os consumidores de varejo em todo o mundo agora têm o mesmo nível de satisfação e confiança nas fintechs que têm com os bancos tradicionais. Na verdade, 41% dos consumidores de varejo pesquisados pela McKinsey em 2021 disseram que planejavam aumentar sua exposição a produtos fintech. A demanda por produtos fintech é maior em todas as economias em desenvolvimento. Em 2022, por exemplo, a África tinha quase 800 milhões de contas móveis, quase metade do total mundial.

A demanda das empresas B2B por soluções fintech também está crescendo. Em 2022, 35% das pequenas e médias empresas (PMEs) nos Estados Unidos consideraram o uso de fintechs para empréstimos e integração com suas plataformas existentes. Na Ásia, 20% das PMEs alavancaram fintechs para pagamentos e empréstimos.

A pesquisa revela que o setor bancário gerou mais de US$ 6,5 trilhões em receitas em 2022, com crescimento anual em volume e margens de receita. Dada a dinâmica do mercado de fintech, isso sugere que ainda há muito espaço para um maior crescimento nos mercados público e privado.

Em 2022, as fintechs representaram 5% (ou US$ 150 bilhões a US$ 205 bilhões) da receita líquida do setor bancário global, de acordo com o relatório. Estima-se que essa participação possa aumentar para mais de US$ 400 bilhões até 2028, representando uma taxa de crescimento anual de 15% da receita de fintech entre 2022 e 2028, três vezes a taxa de crescimento geral do setor bancário de aproximadamente 6%.

Os mercados emergentes alimentarão grande parte desse crescimento de receita. As receitas da Fintech na África, Ásia-Pacífico (excluindo a China), América Latina e Oriente Médio representaram 15% das receitas globais da fintech no ano passado. Estima-se que eles aumentarão para 29% no total até 2028. Por outro lado, espera-se que a América do Norte, atualmente respondendo por 48% das receitas mundiais de fintech, diminua sua participação para 41% até 2028. Ver a figura 1.

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Fig 1. Receitas líquidas das fintechs por região (US$ bilhões)

Nem todas as empresas de fintech são criadas (ou financiadas) iguais

O relatório releva que as fintechs no estágio de crescimento (série C e além) mostraram maior sensibilidade à desaceleração do financiamento em 2022, com um declínio de 50% no financiamento ano após ano. Enquanto isso, as fintechs nos estágios iniciais de semente e pré-semente eram mais resilientes e aumentaram o financiamento em 26% ano após ano (figura 2).

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Fig. 2. As fintechs registaram crescimento do financiamento em 2022.

Financiamento Global por Segmento Fintech

O financiamento para os segmentos de fintech business to business (B2B) em 2022 foi mais resiliente do que para aquelas vinculadas ao business to consumer (B2C), com menores declínios de financiamento (Figura 3). As duas verticais B2B menos afetadas foram banking as a servisse (BaaS) e finanças incorporadas; e as pequenas e médias empresas (PMEs) e serviços corporativos de valor agregado. Essas duas verticais registraram declínios de financiamento ano a ano de 24% e 26%, respectivamente. Além disso, o financiamento para fintechs focadas em pagamentos caiu 50%. Mesmo assim, pagamentos e empréstimos receberam as maiores ações do financiamento total da fintech. Ver a figura 3.

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Fig. 3. Financiamento global por segmento fintech, valor total (US$ bilhões)

Segundo o relatório, o financiamento para segmentos B2B cresceu mais de 25% ao ano entre 2018 e 2022, impulsionado por um número crescente de empresas que adotam soluções prontas para uso, fornecidas por empresas nativas digitais (incluindo pagamentos, open banking e tecnologia bancária principal) para enfrentar os desafios decorrentes do uso de infraestrutura bancária legada - por exemplo, flexibilidade limitada, velocidade mais lenta e altos custos.

Para BaaS e finanças incorporadas, a demanda é liderada por empresas voltadas para o cliente que procuram controlar a experiência de ponta a ponta de seus usuários. Nnos países em desenvolvimento, a lacuna financeira para micro, pequenas e médias empresas (MPM) é estimada em aproximadamente US$ 5 trilhões, ou 1,3 vezes o nível atual de empréstimos às MPM. As empresas de fintech atenderam com sucesso às necessidades das PME em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento.

Fintechs e Inovação

O que tornou as fintechs disruptivas ao longo dos anos? A pesquisa mostra que, em grande parte, em sua capacidade de inovar e diferenciar. Como as fintechs não são sobrecarregadas por sistemas e processos tradicionais, elas podem ser mais ágeis no uso de tecnologias emergentes para antecipar e resolver as necessidades dos clientes. Normalmente, eles têm uma abordagem colaborativa e centrada no cliente para oferecer inovação com equipes multiqualificadas. As inovações aconteceram em todas as verticais de fintech.

Para manter sua vantagem competitiva, as fintechs devem continuar inovando. As pesquisas apontam que tecnologias como a IA gerativa revolucionem o cenário competitivo das finanças na próxima década.

Comentário

O relatório é rico em dados e informações que podem contribuir para uma análise mais profunda sobre esse segmento de startups e traçar plano para investimento futuro.