Economia e Inovação

Por: Sudanês B. Pereira

Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.

A Matriz Global de Investimentos em 2021

09/03/2022
Fundo foto criado por natanaelginting - br.freepik.com

O fDi é um braço do Financial Times que rastreia e monitora os projetos de investimento direto (greenfield) ao redor do mundo. Todos os anos o fDi divulga o “The fDi Report - Global greenfield investment trends”, identificando oportunidades e tendências futuras. A matriz de 2021 mostrou uma mudança de paradigma com o impulso das energias renováveis e da economia digital. Vamos mostrar aqui uma visão geral da matriz de 2020 e logo após a matriz de 2021.

Visão Global Geral

Segundo o relatório The fDi Report, em 2020, tanto o número de projetos de Investimento Estrangeiro Direto (IED) quanto o investimento de capital em IED caíram um terço em relação aos níveis de 2019.

A fDi Markets registrou 11.223 projetos de IED em 2020, foram 16.816 registrados em 2019. Eles mobilizaram um total de US$ 528,2 bilhões, uma queda de 34% em relação ao ano anterior, enquanto o número de empregos criados caiu 40% para 1,36 milhão no período.

Os EUA mantiveram sua posição como o principal país de destino, atraindo US$ 61 bilhões em IED. A China, que ficou em segundo lugar em 2019, caiu para a terceira posição em 2020, atraindo 40% menos investimento de capital.

A Ásia-Pacífico foi a principal região de destino de IED por investimento de capital, com US$ 162,2 bilhões em IED registrado, um declínio de 37% em relação ao ano anterior. A Europa Ocidental atraiu o maior número de projetos de IED com 3.882 anúncios registrados. A Europa Ocidental respondeu por 49% dos projetos de IED globalmente, com US$ 221,5 bilhões em investimento de capital.

Os Principais Destaques em 2020 incluem:

  1. Pela primeira vez desde que a fDi Markets começou a registrar os investimentos, a energia renovável substituiu carvão, petróleo e gás como o principal setor em investimento de capital, respondendo por US$ 87,2 bilhões em 2020.
  2. O setor de comunicações atraiu investimentos de capital de US$ 56 bilhões, um aumento de 41% em relação ao ano anterior.
  3. O Reino Unido foi o principal destino de IED na Europa em 2020, com um total de 868 projetos, enquanto a Califórnia permaneceu o principal estado de destino para projetos de IED na América do Norte, e o Texas ultrapassou Nova York em segundo lugar.
  4. Apesar da diminuição do IED na Ásia-Pacífico, o número de projetos na Nova Zelândia aumentou para 54, um aumento de 32% em relação a 2019, e o investimento externo aumentou 3% no período.

A Matriz de Investimentos em 2020

Como é possível observar no quadro 1 logo abaixo, as energias renováveis lideraram os investimentos de IED em 2020, seguido pelo setor de comunicações, e em terceiro lugar carvão, petróleo e gás, já sinalizando que este setor, apesar da sua importância, já apontava redução de investimentos em IED.

O fato relevante em 2020 foi que o setor global de carvão, petróleo e gás perdeu o primeiro lugar global para investimento de capital, sendo substituído por energia renovável. O setor teve uma queda de 62% em relação a 2019. O setor de energia renovável também teve uma queda de cerca de 13% no período, mas ainda mobilizou mais investimentos em IED que qualquer outro setor.

O relatório revela que o setor de comunicações viu o investimento de capital transfronteiriço crescer 41% em 2020, foram investidos US$ 56 bilhões. O setor de software e serviços de TI atraiu mais projetos em 2020, com os 2.226 investimentos garantidos. Apesar disso, houve uma queda de 28% dos projetos em relação a 2019. O quadro 1 abaixo mostra o top 10 dos projetos de IED global em 2020.

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Quadro 1. Investimento Estrangeiro Direto (IED) Global por Setor (top 10) em 2020.png

O gráfico 1 logo abaixo, ilustra os investimentos aportados em fontes de energias. Percebam que carvão, petróleo e gás dominaram os investimentos no período de 2005 a 2015, mudando radicalmente em 2020, com as fontes de energias renováveis superando os investimentos em carvão, petróleo e gás. As mudanças para as energias verdes estão acelerando.

Segundo o relatório, foram 502 projetos de energias renováveis transfronteiriços em 2020, uma queda de 10% em relação ao ano anterior. Já os projetos de IED no setor de combustíveis fósseis caíram 52%, seu nível mais baixo, foram 90 projetos em 2020.

Na verdade, o relatório revela que tem havido mais investimentos greenfield transfronteiriços feitos em energia renovável do que em combustíveis fósseis todos os anos, desde 2011. Em 2020, havia mais de cinco vezes projetos de IED renovável do que projetos de energia tradicionais.

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Gráfico 1. Mudança de Paradigma: IED Muda de Petróleo e Gás para Renováveis.png

O IED em renováveis nos países da Europa cresceu 67%, um recorde de US$ 41,1 bilhões. O fDi mostra que os investimentos foram impulsionados por um aumento do investimento em seis países em particular – Reino Unido, França, Portugal, Irlanda, Polônia e Itália – que atraiu mais de US$ 1 bilhão em investimentos verdes em 2020. Nesse mesmo ano, as energias renováveis também ultrapassaram os combustíveis fósseis como principal fonte de eletricidade da União Europeia.

Em termos de projetos de IED, os EUA continuaram a ser o principal destino global, atraindo 64 projetos, mais do que o dobro do número verificado em todos os países, com exceção de Espanha e Polônia, que atraíram 35 e 33 projetos, respetivamente.

O relatório mostra que o Chile ultrapassou o Brasil como o principal destino da América Latina para projetos de energias renováveis em 2020. Porém, o Brasil atraiu mais capital (US$ 6,1 bilhões), ocupando o terceiro lugar globalmente, atrás do Reino Unido (US$ 21,0 bilhões) e dos EUA (US$ 10,5 bilhões).

Os projetos de IED anunciados na América Latina e no Caribe alcançaram 973 projetos em 2020, uma queda de 37% em relação a 2019. O México voltou a ser o principal destino de IED na região, com um total de 273 projetos em 2020, o que lhe confere 28% de participação no mercado regional. Brasil (215) e Colômbia (96) ficaram em segundo e terceiro lugar na região em termos de números de projetos.

A Matriz de Investimentos em 2021 - O novo ciclo de investimento: entrada de chips, saída de petróleo e gás

Uma Visão sobre os Investimentos em 2021

O relatório anual de 2021 mostrou que carvão e petróleo e gás, saíram dos 10 principais setores receptores de investimento direto estrangeiro (IDE) pela primeira vez desde que os registros começaram a ser analisados em 2003. A mudança de paradigma da economia se reflete nos investimentos, com a economia digital e as energias renováveis liderando essa tendência.

Um dos setores econômicos mais importantes da economia digital são os semicondutores. Com a pandemia em 2020/2021, a crise global de chips foi revelada, alcançando um problema que, até então, não havia sido tão exacerbado. A crise trouxe problemas para a indústria em geral, porém, a indústria automotiva foi a mais visada pela imprensa internacional. O monitor de investimentos do fDi revelou que, em meio aos reflexos da pandemia, os fabricantes de semicondutores colocaram seus planos de investimento para fora da gaveta.

Por que os investimentos foram colocados para fora da gaveta? a crise mostrou que o setor de semicondutor refletia uma realidade geopolítica de poder, pois cerca de 43% dos discos de cilício no mundo são fabricados em Taiwan, 21% na Coreia do Sul, assim como cerca de 70% dos chips também são fabricados na Coreia do Sul. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, Limited (TSMC), é a maior fabricante de semicondutores do mundo. Eis o problema.

Segundo o fDi Markets, a Samsung Electronics anunciou o maior projeto de investimento estrangeiro direto (IED) em novembro de 2021 com a construção de uma nova fábrica em Taylor, Texas, no valor de US$ 17 bilhões. A TSMC taiwanesa e a Intel americana, também anunciaram um projeto de US$ 7,05 bilhões no Japão e um projeto de US$ 7 bilhões na Malásia, respectivamente. A TSMC destinou US$ 44 bilhões para aumentar a capacidade de fabricação somente em 2022. No geral, o IED greenfield no setor de semicondutores atingiu US$ 56,6 bilhões em 2021.

Ainda, segundo o rastreamento do fDi Markets, a Intel comprometeu US$ 20 bilhões para construir duas fábricas de chips em Ohio – o maior projeto de investimento individual que o estado dos EUA já atraiu. A construção está prevista para começar no final de 2022, a fase inicial do projeto deve criar 3.000 empregos diretos na Intel e 7.000 empregos na construção. Segundo a Intel, o investimento total de Ohio pode chegar a US$ 100 bilhões na próxima década, tornando-o um dos maiores lugares de fabricação de semicondutores do mundo.

Nas últimas décadas, a participação dos EUA na capacidade global de fabricação de semicondutores caiu de 37% em 1990, para apenas 12% em 2020, de acordo com a Semiconductor Industry Association.

A Matriz de Investimentos em 2021 - o turning point

As energias renováveis foram o principal setor receptor de IDE em 2021, à medida que a pandemia, de alguma forma, vem acelerando a transição energética. No geral, o setor atraiu US$ 79,6 bilhões em IED no ano passado.

Segundo o fDi, embora a energia solar e a eólica continuem sendo as tecnologias de energia verde mais procuradas, o ano de 2021 foi o ano do hidrogênio. Os investidores estrangeiros anunciaram mais de 100 projetos no valor de US$ 29,7 bilhões na produção de hidrogênio verde e outras atividades relacionadas. O relatório, porém, deixa claro que atualmente não há plantas comerciais de hidrogênio verde em funcionamento, e levará vários anos para que a maioria desses projetos se concretize.

Os setores de comunicações acumularam US$ 64,3 bilhões em IED em 2021. O boom digital abriu caminho para que Amazon, Huawei, Cloudfare e Alphabet, entre outras, anunciassem grandes projetos de investimento em infraestrutura de nuvem ao longo do ano.

Para a indústria automotiva, o relatório aponta um quadro misto, confirmando que a transição para veículos elétricos (VE) é um jogo de soma zero. Por um lado, o investimento em nova capacidade para fabricação de baterias para veículos elétricos, foi de US$ 8,9 bilhões em 2021, abaixo dos US$ 12 bilhões em 2019. Por outro lado, o investimento dos produtores de equipamentos originais automotivos (OEM), caiu de US$ 20,2 bilhões em 2020, para US$ 17,2 bilhões em 2021.

À medida que a energia e o transporte se afastam do uso de combustíveis fósseis, os fluxos de investimento na indústria de petróleo e gás apresentam queda. O relatório informa que o setor mobilizou apenas US$ 16,2 bilhões em IDE em 2021.

O ciclo de investimento também não foi bom para o setor de hotéis e turismo, que mobilizou cerca de US$ 8 bilhões em IDE em 2021, abaixo dos US$ 14,6 bilhões em 2020, mostram os números da fDi Markets.

O quadro 2 mostra o top 10 do investimento global em IED por setor, em 2021. Observem que, carvão, petróleo e gás deixaram o top 10 da lista de IED.

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Quadro 2. Investimento Estrangeiro Direto (IED) Global por Setor (top 10) em 2021.png

Cerca de 60% dos projetos de investimento global tiveram origem e permaneceram nos países da OCDE em 2020, cristalizando uma tendência que começou no início da crise financeira global em 2008, quando o investimento intra-OCDE representou 41,6% do investimento global.

A agência aponta que a indústria de promoção de investimentos tem duas opções: cumprir e manter as barreiras ao comércio e investimento globais; ou então contornar a política e facilitar o investimento transfronteiriço para derrubar barreiras.

A ver!