Segundo um estudo publicado pela Boston Consulting Group (BCG), The Bionic Company, o futuro pertence às empresas que combinam talento e tecnologia. Big data, inteligência artificial (IA), ferramentas digitais - todas essas tecnologias permitem que as empresas se movam com maior velocidade, percepção e poder do que nunca. Combinados a esses fatores, a capacidade das pessoas - de pensar com flexibilidade e se adaptar rapidamente -, o resultado disso é o que a BCG chama de ‘empresa biônica’.

Vários estudos estão mostrando que as empresas de diversos setores e segmentos, estão adotando a inteligência artificial e o aprendizado de máquina - junto com sensores para capturar dados, capacidade de computação, armazenamento, conectividade móvel e robótica -, denotando que os relacionamentos com os clientes, os processos os e negócios serão radicalmente modificados, senão totalmente automatizados, nos próximos anos.

De fato, a tecnologia e a digitalização da economia, estão redefinindo não somente os modelos de negócios, mas a relação com os consumidores. Algumas empresas que já estão na fronteira da economia digital, as chamadas nativas digitais - como Alibaba, Amazon, Google, Netflix, Salesforce, Tencent e Tesla - oferecem uma ideia sobre empresas biônicas, assim como algumas empresas tradicionais, que já estão fazendo transformações significativas em direção a digitalização para se reposicionar e melhorar suas capacidades competitivas, como a Inspire Brands, L'Oréal, Recruit e Renault, citadas pela BCG.

Mas o que é uma empresa biônica?

Empresas biônicas são aquelas que combinam tecnologia com capacidades humanas para impulsionar a inovação, a vantagem competitiva, o crescimento, eficiência e resiliência.

Boston Consulting

Mas, para além de qualquer abordagem, é importante sempre frisar que as tecnologias são importantes, mas as pessoas continuarão sendo a essência das empresas. Pessoas e criatividade serão os diferenciais de uma empresa, as máquinas e tecnologias são apenas facilitadores. A figura abaixo ilustra a estrutura de uma empresa biônica.

Entendendo a Estrutura da Empresa Biônica

O que a figura 1 acima representa? que as empresas possuem objetivos e estratégia, fundamentados em resultados, tecnologia e pessoas. A suposição é que as empresas que investem não apenas em tecnologia, mas também em pessoas, geram valor superior materializado em resultados de negócios mais sólidos.

Frame 1. Resultados (Outcomes) - As empresas biônicas organizam suas capacidades humanas e tecnológicas em torno dos resultados de negócios - personalizando as experiências do cliente, melhorando os processos e criando novas ofertas - e agem rapidamente para alcançá-los. As empresas biônicas geralmente têm de 30 a 50 processos essenciais trabalhando dessa maneira.

De acordo com a abordagem da BCG, três tipos de forças irão moldar as empresas biônicas: 1. Experiências e relacionamento personalizado com o cliente. 2. Operações Biônicas - a maioria dos processos de uma empresa são hoje operados por pessoas. Os estudos apontam que, em um futuro não muito distante, quase todos os processos e operações de negócios serão fortemente aumentados, ou mesmo operados, por máquinas, muitas das quais executarão algoritmos de IA. 3. Novas ofertas, serviços e modelos de negócios.

O estudo da BCG cita o exemplo da Alibaba. Para eles, nenhuma empresa ilustra melhor o potencial de crescimento e expansão por meio de novas ofertas inovadoras do que a Alibaba, que em 20 anos lançou o mercado online Taobao, Tmall, Alibaba Cloud, AliExpress (varejo online voltado para compradores internacionais), a rede de logística Cainiao, Ant Financial Services Group e Credit Sesame (uma agência de pontuação de crédito).

Frame 2. Tecnologia (Technology) – a tecnologia é um facilitador para alcançar níveis superiores de competitividade.

Segundo o estudo, a tecnologia usada pela empresa do futuro será muito diferente da tecnologia de hoje, devido a duas características importantes: a) dados e IA, e b) tecnologia modular.

a) Dados

É aqui que as coisas de fato mudam. Segundo o próprio termo da BCG, “o sangue” das empresas biônicas são os dados, eles dão vida às máquinas e à IA. À medida que as empresas mudam de um sistema em que as decisões são tomadas por humanos para outro em que as decisões são tomadas em conjunto, por humanos e IA, elas terão que desenvolver capacidade de coletar, gerenciar e usar dados de várias fontes como entrada e matéria-prima para análises avançadas.

b) Tecnologia Modular

Nessa perspectiva, o artigo aponta que as empresas biônicas que adotam uma tecnologia comum de última geração em toda a empresa, juntamente com uma plataforma de tecnologia totalmente modular, podem aumentar a inovação, personalizar experiências-chave e reduzir o tempo de lançamento de um produto no mercado. Trabalhar com tecnologia modular torna os dados mais acessíveis.

Exemplo? empresas totalmente digitais, como Amazon, Salesforce e Uber, têm plataformas de tecnologia comuns, totalmente desacopladas e de última geração, que permitem o acesso a processos operacionais padronizados em seus negócios. Segundo a BCG, elas também possuem recursos como deep data, relatórios analíticos sofisticados, gerenciamento de fluxo de trabalho e fácil vinculação a consumidores internos e externos. O resultado? A inovação é rápida.

Mais nem tudo são flores quando se utiliza novas tecnologias e seus usos. O exemplo da Salesforce citado não é muito interessante, assim penso - as equipes de RH da Salesforce conseguiram lançar um aplicativo de integração (onboarding app) para novos funcionários (rastreia quando eles chegam, quem os cumprimentará, onde se encontrarão, e assim por diante). Os dados podem ser o “sangue” das empresas biônicas, mas isso não significa usá-los de qualquer forma.

Frame 3. Pessoas (Human) – Nessa perspectiva as empresas biônicas devem construir sua capacidade humana: talento digital e uma organização de plataforma dinâmica. Essas empresas precisam de funcionários com habilidades técnicas, que sejam flexíveis, adaptáveis e capazes de aprender. A importância da colaboração e do pensamento criativo e crítico é fundamental.

O estudo mostra que o modelo de organização delas é muito diferente da pirâmide de gestão tradicional. Camadas de aprovação são substituídas por equipes pequenas e autônomas, criadas e com poderes para tomar decisões rapidamente. O modelo é suportado por plataformas projetadas para escala, de modo que todos tenham acesso aos mesmos dados, tecnologia e recursos.

Fato: as empresas biônicas se organizam em torno de equipes autônomas e aprendem a trabalhar de maneira ágil. O talento e a organização serão mais importantes do que nunca. As empresas precisarão investir no desenvolvimento, requalificação e qualificação de talentos.

Finalizando....

Segundo a Boston Consulting, as empresas biônicas superam o desempenho das outras empresas em várias métricas: gastam por ano cerca de 1,5 vezes mais com inovação, investem mais de 15% da despesa operacional em digital, mais de 15% dos seus funcionários possuem perfil digital e trabalham no digital. Se preciso for, redesenham processos, criam novas equipes, se adapta a novas formas de trabalhar, repensa a estratégia.

Deixo reflexões. Boa semana!