
Por: Sudanês B. Pereira
Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe - ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo - Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.
97% das Startups Early Stage do Brasil têm Modelo de Negócio Software como Serviço (SaaS)

A Bossa Invest divulgou o relatório “O perfil das startups early-stage que mais crescem no Brasil”. O período de análise foi desde 2021 ao primeiro semestre de 2023. O relatório teve como amostra 250 startups early-stage da própria Bossa Invest, e de parceiros de venture capital (VC). A pesquisa também entrevistou os fundadores de startups que são casos de sucesso.
Para lembrar, a fase early-stage corresponde desde o investimento anjo, pré-seed até o seed. Nessa fase, as startups precisam de suporte intensivo e capital para validar as ideias e obter tração no mercado-alvo. Logo, a importância desta fase reside na oportunidade de direcionar uma startup já em seus estágios iniciais, maximizando suas chances de sucesso.
PRINCIPAIS HIGHLIGHTS
SETORES DE ATIVIDADE: Foram identificados 28 setores de atividade econômica vinculados às startups, sendo que a maioria estavam no setor Martech - startups que estão no mercado de marketing digital, em segundo lugar Fintech, em terceiro as HRTech. O gráfico abaixo ilustra os segmentos das startups.

LOCALIZAÇÃO: Em relação à localização das startups, foi possível descobrir que existe uma concentração na região sudeste, sendo que 40% estão no estado de São Paulo. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, juntas representam 11%, enquanto a região Sul responde por 30% das empresas analisadas. Com relação à sede, algumas das startups pesquisadas iniciaram suas atividades na região Norte/Nordeste, com o crescimento, estabeleceram suas centrais em São Paulo.
Cerca de 60% das startups analisadas foram fundadas nos últimos cinco anos. A maior parte delas (20%) foi criada em 2019. Ver o mapa abaixo.

PÚBLICO E MODELO DE NEGÓCIO: A pesquisa revelou que mais da metade (55%) das startups analisadas atendem ao público corporativo (B2B), enquanto 19% focam exclusivamente no consumidor final (B2C). Cerca de 97% das startups analisadas tem como modelo de negócio Software como Serviço (SaaS). Ver a figura logo abaixo.

PORTE DAS STARTUPS EARLY-STAGE: A capacidade de gerar faturamento é um dos indicadores mais importantes de um novo negócio. De acordo com os dados encontrados na pesquisa, 63,7% das startups estão na faixa de faturamento até R$ 4,8 milhões. O volume médio do faturamento das startups early-stage analisadas foi de R$ 3 milhões, a mediana estava em R$ 1,8 milhão.
PERFIL DOS FUNDADORES: Os dados da Bossa Invest mostraram que 9 em cada 10 dessas startups têm, no mínimo, dois fundadores. Além disso, a pesquisa revelou que cada um desses fundadores estava à frente de sua segunda empresa (second time founder). No recorte de gênero, 24% das startups early-stage investidas foram fundadas por mulheres. Segundo a Distrito - Distrito Female Founders Report - no Brasil, somente 10% das startups em geral possuem fundadoras. Ver a figura abaixo com mais detalhes.

CRESCIMENTO DAS STARTUPS “FORA DA CURVA”: O estudo analisou as startups “outliers”, ou seja, as que tiveram crescimento “fora da curva”. Para isso, a Bossa Invest utilizou principalmente dois indicadores: faturamento e headcount (número de funcionários). Algumas das startups registraram um crescimento superior a 20% nos últimos anos.
A pesquisa revelou que entre 2021 e 2022, 47,2% das empresas analisadas registraram um crescimento de 20%, mesmo depois de alguns anos de sua fundação (maioria fundada em 2018 e 2019). Para o período de 2022 a 2023, verificou-se que 24% delas mantiveram o ritmo de crescimento por dois anos consecutivos. Ver gráfico.

No período entre 2022 e 2023, foi observado que 24,8% das startups avaliadas ampliaram seu quadro de funcionários em mais de 20% no último ano. Ao agrupar os dois elementos - as empresas que cresceram seu faturamento acima de 20% e que aumentaram em mais de 20% seu número de funcionários - a pesquisa encontrou um grupo que representa 7% das empresas analisadas que estão entre as mais promissoras.
O QUE O RELATÓRIO REVELOU DE INFORMAÇÕES E APRENDIZADO IMPORTANTES
[01] Embora o setor Fintech seja tradicionalmente um setor de crescimento significativo, há grande potencial nas healthtechs e outros setores muito regulamentados que conseguem superar os obstáculos e se destacar.
[02] Diante das dificuldades de mercado e acesso a capital de algumas áreas, as startups das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste necessitam de maior apoio e incentivo. Uma das alternativas que encontraram foi ter uma segunda sede em São Paulo, mas é importante que haja incentivos em suas regiões para que movimentem a economia local. As startups em destaque das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste representaram 17,7% da pesquisa.
[03] Um crescimento de faturamento acima de 20% ao ano, sobretudo por dois anos seguidos, é um excelente indicador de potencial de se tornar uma outlier.
[04] 76,4% das empresas que se destacaram têm mais de 20 funcionários e registram aumento de 20% do número de funcionários ao ano. Esse volume de time é um patamar que pode demonstrar tração.
[05] A pesquisa indica que ter cofundadores (entre 2 e 3) e ser um 'second time founder' são elementos interessantes: 94,1% das startups que se destacaram na pesquisa têm dois fundadores ou mais; e a maioria dos fundadores está empreendendo pela segunda vez ou mais.
[06] Ainda que a análise seja com empresas de tecnologia, 57% dos fundadores graduaram-se em cursos de humanas, enquanto 43% deles formaram-se em exatas. Mas aparentemente é muito relevante ter alguém de perfil tech entre os fundadores.
AS CONCLUSÕES DO RELATÓRIO
[1] O Brasil surge como um epicentro de inovação no ecossistema de startups da América Latina.
[2] O destaque para o modelo SaaS e contas mais equilibradas em startups que prestam serviços a outras empresas (B2B).
[3] Nicho de mercado é importante, mas é necessário ainda assim atacar um mercado-alvo grande o suficiente para tracionar.
[4] Crescer: ter um faturamento crescente em mais de 20% anualmente, mesmo após quatro ou cinco anos de operação, mostrou ser um indicador das startups mais promissoras.
[5] Com relação aos fundadores, os fatores que se destaram foram: a complementariedade do time; ter entre dois e três fundadores (em vez de um “lobo solitário” ou equipe grande demais); bom relacionamento entre os sócios; experiência no mercado-alvo; e, como bônus, ser um second time founder.
[6] Resiliência e propósito claro foram duas das características mais citadas entre os empreendedores entrevistados, assim como uma boa relação com investidores, que fazem muita diferença quando são do mercado e trazem smart money.
Mais vídeos

Hospital da Criança vem registrando aumento do número de casos graves de síndromes gripais

Sergipe registra recorde histórico de empregos com carteira assinada em maio

Sebrae e a prefeitura realizam inauguração da sala do empreendedor Francisco Pimentel Franco

Direto de Brasília 01/07/25
