Uribe proíbe mediadora da oposição de atuar em resgate

Colômbia sofre atentado após libertação de reféns; decisão do governo pode dificultar continuidade da missão

30/09/2015 19h02
Uribe proíbe mediadora da oposição de atuar em resgate
A8SE

O presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, suspendeu nesta segunda-feira, 2, a participação de uma missão humanitária que participa da libertação dos dois reféns políticos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e responsabilizou o grupo por um atentado contra uma delegacia na cidade de Cali. Uribe autorizou apenas a Cruz Vermelha e o apoio logístico brasileiro a continuarem com a operação que prevê a libertação do ex-governador do Departamento de Meta, Alan Jara, nesta segunda. A participação da senadora opositora Piedad Córdoba, apesar dela ter sido a mediadora com os guerrilheiros, foi proibida. O presidente responsabilizou o grupo pela suspensão da missão e por um atentado na cidade colombiana de Cali.

O anuncio do presidente foi feito depois que as Farc entregaram para a missão humanitária liderada pela senadora e apoiada pelo Brasil três policiais e um soldado que estiveram sequestrados durante meses. "A necessidade humanitária de libertar os sequestrados tem sido usada, contra o que está acordado, como incitação e estímulo ao grupo sequestrador, narcotraficante e terrorista das Farc", afirmou Uribe. Para ele, a participação da Cruz Vermelha é suficiente para a missão. Uribe ainda responsabilizou o grupo pela suspensão, afirmando que "o governo não pode permitir que o terrorismo siga fazendo festa com a dor dos sequestrados e suas famílias". O presidente ainda acusou as Farc de explodir um carro-bomba contra uma delegacia em Cali, matando pelo menos uma pessoa e ferindo outras 18.

 

Infográfico (AE)

A libertação dos quatro reféns foi antecedida por denúncias da missão humanitária de sobrevoos de aeronaves militantes e que colocaram em risco a entrega dos reféns. O escritor e jornalista Jorge Enrique Botero, que participou da missão como testemunha, denunciou que os helicópteros que lhes transportavam foram atacados por aeronaves do Exército, apesar das autoridades terem se comprometido a cessar suas atividades. O soldado William Giovanny Domínguez Castro, e os policiais Walter José Lozano Guarnizo, Alexis Torres Zapata e Juan Fernando Galícia Uribe reconheceram que durante sua entrega à missão humanitária houve sobrevoos de aparelhos militares na região, mas detalharam que tinham respeitado "as alturas mínimas".

Uribe especificou que não houve operações militares ofensivas e acrescentou que o governo cumpriu com o oferecido, em alusão à missão, liderada pela senadora opositora Piedad Córdoba e que recolheu os sequestrados que estavam em poder das Farc. Por seu lado, o Alto Comissário para a Paz, Luis Carlos Restrepo, negou a versão de Botero e o acusou de quebrar os protocolos estipulados ao fazer declarações à imprensa em plena missão humanitária, em referência à comunicação que o jornalista fez da selva colombiana com o canal Telesur. Botero, por sua parte, insiste em que dispõe de provas em áudio e vídeo, além de algumas polêmicas fotos que cedeu hoje a uma agência internacional de notícias com exclusividade.

A senadora Piedad Córdoba se encontra na cidade de Villavicencio (120 quilômetros ao leste de Bogotá), onde deve prosseguir esta segunda-feira com a fase seguinte da operação, que consiste em recolher o ex-governador de Meta Alan Jara, cativo desde 2001 e que as Farc se comprometeram a libertar. Na quarta-feira estava prevista a libertação do ex-deputado Sigifredo López no Departamento de Valle del Cauca, como última parte desta operação que vem sendo negociada desde dezembro passado. Mas as declarações de Botero e a decisão de Uribe de excluir da missão a Colombianos pela Paz, e com isso sua líder, Piedad Córdoba, deixou a missão no limbo. A senadora convocou a imprensa no começo da manhã para divulgar um comunicado com a posição da Colombianos pela Paz, a organização liderada por ela e constituída por intelectuais para buscar a libertação de todos os reféns das Farc.

Atentado em Cali

Um carro-bomba explodiu na noite de domingo nos arredores de uma delegacia no centro da cidade de Cali, no sudoeste da Colômbia, deixando ao menos dois mortos e 35 feridos. Segundo o comandante da polícia, general Gustavo Ricaurte, um comando urbano das Farc teria promovido o ataque e uma das vítimas teria sido um guerrilheiro que lançou um carro com explosivos contra o prédio.

O prefeito da cidade, Juan Carlos Botero, confirmou o ataque e assinalou que a explosão causou fortes danos materiais em um entorno de 500 metros ao redor da delegacia na qual opera o arquivo da polícia do departamento de Valle del Cauca. "Estamos em guerra e em uma guerra como a do país acontecem coisas assim. Temos a informação de uma pessoa morta que é justamente a que colocou a bomba", disse.

"Todos os moradores de Cali e os colombianos tem que se unir e rejeitar a violência, estes são atos que não podem continuar acontecendo", disse o prefeito. A explosão deixou sem luz boa parte da cidade, acrescentou Botero, ao destacar que há muitos danos materiais.

 

Fonte: Estadão

 

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