Oposição do Zimbábue decide fazer parte de governo de união

Acordo encerra impasse político de quase um ano. País vive crise humanitária, com mais de 60 mil com cólera

30/09/2015 19h02
Oposição do Zimbábue decide fazer parte de governo de união
A8SE

O principal partido de oposição do Zimbábue vai participar de um governo de união no início do próximo mês, disse Morgan Tsvangirai, líder do partido nesta sexta-feira, 30, oferecendo esperanças de que os líderes zimbabuanos possam voltar suas atenções para a catástrofe humanitária que atinge o país.

No começo deste semana, o Movimento para a Mudança Democrática, de Tsvangirai, havia rejeitado a recomendação de líderes regionais de que o acordo de coalizão, paralisado desde setembro, fosse implementado no início de fevereiro. A mudança de atitude ocorreu em meio a especulações de que o presidente Robert Mugabe formaria sozinho um governo caso a oposição decidisse não participar.

"Nós nos reunimos e decidimos concordar" com a resolução dos líderes regionais, disse Tsvangirai aos jornalistas após um reunião de alto nível do partido nesta sexta-feira. "Estamos comprometidos em nos unir ao governo de união nacional e esperamos que (os integrantes do partido de Mugabe) nos tratem como parceiros iguais".

A oposição vinha resistindo a fazer parte da coalizão com Mugabe até a resolução de uma disputa sobre como dividir de forma justa os postos do gabinete, depois de Mugabe ter insistido em manter os cargos mais importantes para membros de seu partido, o ZANU-PF. A oposição também queria que os ataques contra dissidentes parassem antes da integração ao governo. O partido de Mugabe e líderes de países vizinhos disseram que a oposição deveria primeiro integrar o governo e só então resolver as questões pendentes. Com a decisão de sexta-feira, a oposição parece ter adotado essa estratégia.

Depois de uma reunião que durou a noite toda, o principal agrupamento regional pediu, na terça-feira, que as facções do Zimbábue indicassem o primeiro-ministro, posto que Tsvangirai deve ocupar no governo de unidade, em 11 de fevereiro. Mugabe, no poder desde que o país conquistou sua independência do Reino Unido em 1980, deve permanecer como presidente.

Alguns dos aliados de Tsvangirai dizem que ele nunca deveria ter concordado em ser primeiro-ministro num governo no qual Mugabe é o presidente. Mugabe, enquanto isso, estava sob pressão de seus auxiliares no Exército e no governo que não querem desistir do poder e do prestígio para a oposição. A ameaça de ser excluído do governo de Mugabe e as pressões dos países vizinhos pode não ter pesado tanto para a oposição quanto a percepção de que o país precisa urgentemente de uma solução política para poder atender à crescente crise humanitária enfrentada pelo país.

As Nações Unidas afirmaram nesta sexta-feira que o número de casos de cólera no Zimbábue superou os 60 mil, desde o início de uma epidemia em agosto. Segundo a agência de assuntos humanitários da ONU, foram registrados 60 401 casos e 3.161 mortes pela doença. Especialistas apontam que muitos dos doentes não estão sendo computados, pois poucos zimbabuanos vão até os hospitais - o sistema de saúde público está caótico, em meio à grave crise no país.

Uma porta-voz da agência da ONU, Elisabeth Byrs, disse nesta sexta-feira que a epidemia ainda está fora de controle. O país sofre com a falta de estrutura sanitária e a hiperinflação, o que também dificulta o combate ao cólera. Grupos humanitários também lutam contra a fome no país, agravada pela crise internacional.

O doutor Dominique Legros, especialista em cólera da Organização Mundial da Saúde, disse que o sistema de saúde do Zimbábue não é capaz de lidar com a crise porque os funcionários de saúde não têm condições financeiras de ir para o trabalho. Do ponto de vista médico, a necessidade mais urgente é fazer com que sais de reidratação sejam disponibilizados em áreas rurais. A cólera espalhou-se das cidades para o campo nas últimas semanas, fazendo vítimas entre aqueles que não conseguem ter acesso aos centros médicos por causa da falta de dinheiro para transporte.

Fonte: Estadão

 

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