Minaretes põem à prova tolerância religiosa europeia

`Nova arquitetura` causa polêmica; grupos de extrema-direita querem proibir construção de minaretes por comunidades muçulmanas e sugerem uma votação popular sobre o assunto.

30/09/2015 19h02
Minaretes põem à prova tolerância religiosa europeia
A8SE

 

Mesquita na cidade alemã de Merkez (AP)

Tradicionalmente, uma cidade nos Alpes suíços conta com seus chalés, vacas, uma prefeitura construída ainda nos tempos medievais e, claro, a torre de uma igreja. Mas o pacato país enfrenta um verdadeiro terremoto religioso, em um fenômeno que reflete o choque de identidades na Europa. Grupos de extrema-direita querem proibir a construção de minaretes por comunidades muçulmanas e sugerem uma votação popular sobre o assunto. A votação seria um teste sobre a capacidade da Europa cristã em aceitar a existência de imigrantes de outros credos.

Assim como no restante do continente, a população de imigrantes muçulmanos vem aumentando na Suíça e os fiéis iniciam a construção de mesquitas com seus tradicionais minaretes. A Organização da Conferência Islâmica aponta a proibição aos minaretes como um exemplo da crescente hostilidade contra o Islã no mundo ocidental.

Na Alemanha, onde existem mais de 3 milhões de muçulmanos, a mesquita de Merkez gerou debates durante seis anos por causa do tamanho da construção e dos subsídios de 3,2 milhões dados pelo governo para a obra.

Em várias países, como França e Espanha, terrenos estão sendo comprados com a ajuda de governos do Oriente Médio para a construção de mesquitas. Em Córdoba, o Vaticano foi obrigado a intervir diante de um pedido da Junta Islâmica para que muçulmanos pudessem utilizar a Mesquita de Córdoba para seus cultos. O local é hoje uma igreja católica.

Na Suíça, a questão virou problema político pois os partidos de extrema direita recolheram assinaturas e insistem em convocar um plebiscito para este ano. O Parlamento ainda não votou se acata o pedido. A população islâmica na país representa hoje 5% dos moradores do país. Há 30 anos, os muçulmanos representavam apenas 0,2%.

Segundo o ex-deputado federal Ulrich Schlüler, considerado o pai da iniciativa, "a construção de minaretes ameaça a ordem em nosso país". Mas ele insiste que a proposta respeita a liberdade religiosa e que os muçulmanos poderão continuar a rezar, contanto que seja em mesquitas sem minaretes.

Em entrevista ao Estado, o presidente das Organizações Islâmicas na Suíça, Hisham Maizar, alerta que esse discurso é muito parecido ao que se dizia nas Cruzadas. "Abrir uma mesquita ou construir um minarete não é um ataque à sociedade cristã. Não há por que temer", afirmou Maizar.

Ele destaca o resultado de pesquisas que mostram o aumento do sentimento anti-islâmico na Europa. Uma delas, realizada pelo Pew Research Center, concluiu que há uma alta na rejeição dos europeus pelos imigrantes muçulmanos: 52% dos espanhóis, 50% dos alemães e 46% dos poloneses têm uma avaliação negativa sobre a imigração islâmica.

Enquanto nos bastidores o governo tenta acalmar os ânimos, a construção de cada mesquita está se transformando em batalha jurídica. Um dos casos chegou até o Supremo Tribunal suíço, que autorizou a construção do minarete em Wangen após três anos de impasse.

As igrejas católica e protestantes do país publicaram recentemente uma declaração contra a iniciativa popular de tentar impedir a construção de minaretes, alertando que a ação seria uma "violação ao direito de liberdade religiosa".

Alberto Bondolfi, professor de ética na Universidade de Lausanne, afirma que o debate será "inevitavelmente emocional" nos próximos meses. "Os danos provocados pela iniciativa de convocar o plebiscito são grandes à imagem da Suíça e seus autores agiram de maneira irresponsável", afirmou. "O cristianismo não sofre qualquer dano com a presença de minaretes."

 

Fonte: Estadão

 

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