Libertação de soldado pelas Farc marca momento de diálogo com governo

30/09/2015 19h08
Libertação de soldado pelas Farc marca momento de diálogo com governo
A8SE

Os guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciaram nesta quinta-feira que libertarão unilateralmente o soldado do Exército Pablo Emilio Moncayo, sequestrado há 11 anos, um dos dois reféns há mais tempo em seu poder. A decisão aconteceu em meio a uma visível mudança de tom entre o grupo e o governo, que passaram nos últimos dias de um discurso de confronto aberto para o de abertura à negociação.

"Nós anunciamos a nossa decisão de libertar unilateralmente o cabo Pablo Emilio Moncayo e entregá-lo pessoalmente a uma comissão chefiada pela senadora [Piedad] Córdoba e ao professor [Gustavo] Moncayo [pai do refém], assim que sejam organizados os mecanismos para garantir a segurança da operação", informa o texto divulgado na internet.

Moncayo foi capturado no fim de 1997 pela guerrilha, financiada pelo tráfico de cocaína, que já fez centenas de reféns, tanto por motivos políticos como para exigir o pagamento de resgate.

As Farc afirmam também que desejam começar um diálogo com o governo, mas o presidente Álvaro Uribe insiste que os rebeldes precisam primeiro parar os ataques com bombas, os sequestro e o tráfico de drogas.

O comunicado dos guerrilheiros disse que os dois lados precisam concordar com o cessar-fogo e que as negociações devem começar com o reconhecimento de que o Estado está em falta com a guerrilha, que atua há 45 anos na Colômbia.

Farc enfraquecidas

Uribe foi eleito para seu primeiro mandato em 2002, prometendo acabar com os guerrilheiros, e recebeu o apoio dos Estados Unidos para a missão. A proposta feita por ele neste mês para as Farc prevê que a guerrilha interrompa suas ações violentas por quatro meses como primeiro passo para avançar as negociações para o desarmamento e a desmobilização de seus homens.

Em março, o governo da Colômbia anunciou que daria início a um "salto estratégico", de caráter militar e social, no combate às Farc que visaria dar um "golpe final" na guerrilha. O ministro de Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, disse na época que a guerrilha estava "debilitadas militarmente" e "repudiadas internacionalmente", vivem o "pior momento de sua história".

Em 2008, as Farc perderam seus dois principais líderes. Em maio, o líder e fundador da guerrilha, Manuel Marulanda, o Tirofijo, morreu, supostamente em consequência de um ataque do coração. Em 1° de março, Raúl Reyes, porta-voz e segundo homem das Farc, foi morto em território do Equador durante ataque aéreo das forças militares colombianas.

Os governos do Equador e da Venezuela retiraram seus embaixadores de Bogotá após o ataque, e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ordenou no dia seguinte a mobilização de dez batalhões militares na fronteira com a Colômbia. A crise internacional causada pelo ataque se agravou quando o governo da Colômbia informou ter encontrado indícios de ligações do governo equatoriano com as Farc.

Seis dias depois, os presidentes dos três países cumprimentaram-se durante um encontro do Grupo do Rio, em Santo Domingo, na República Dominicana, e deram por encerrado o conflito, depois que Uribe pediu perdão ao Equador.

Em outro golpe para a guerrilha, o Exército resgatou em 2 de julho do ano passado a política franco-colombiana Ingrid Betancourt, três americanos e 11 militares colombianos que estavam em poder das Farc. Sequestrada em 2002, Betancourt era o principal "trunfo" dos guerrilheiros para negociações de trocas de prisioneiros com o governo.

No dia 17 de março deste ano, as Farc libertaram o sueco Eric Ronald Larsson, 69, o último refém estrangeiro que mantinha em seu poder. Ele foi libertado devido a seu delicado estado de saúde --Larsson foi internado em um hospital com metade do corpo paralisado após o resgate. A guerrilha ainda mantém dezenas de colombianos sequestrados.

Fortalecido pelos sucessos contra a guerrilha esquerdista, mas sob críticas de não usar o mesmo rigor contra os grupos paramilitares de direita, Uribe recusa-se a confirmar se tentará mudar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato, mas seus aliados movimentam-se nos bastidores para permitir ao presidente uma nova candidatura em 2010.

Fonte: Folha Online

 

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