Após 1 ano no poder, sucessão é desafio para Raúl Castro

Cercado de homens de sua geração, presidente tenta avançar reformas em Cuba e preparar a continuidade

30/09/2015 19h04
Após 1 ano no poder, sucessão é desafio para Raúl Castro
A8SE

Há 12 meses, completados nesta semana, o Parlamento cubano elegeu Raúl Castro como presidente de Cuba, oficializando-o em um cargo que já ocupava, de forma interina, desde agosto de 2006, quando o então presidente e irmão de Raúl, Fidel, teve de abdicar do poder por razões de saúde. Segundo secretário do Partido Comunista, Raúl Castro foi eleito com o apoio da maioria dos deputados e se cercou, no governo, de homens de sua idade, grande parte deles combatentes da frente de guerra que ele comandou em Sierra Maestra.

Logo após assumir a Presidência, o irmão de Fidel iniciou uma série de reformas na área econômica e no âmbito internacional que, com maiores ou menores resultados, vêm orientando seu plano de governo até o presente. Entretanto, o novo presidente teve de enfrentar situações adversas, como os furacões que arrasaram as colheitas e destruíram milhares de casas e a rede elétrica, provocando perdas milionárias.

Raúl Castro, que está com 77 anos, colocou a seu redor os velhos companheiros de Sierra Maestra, como o primeiro vice-presidente, José R. Machado, e vários generais, entre os quais se destacam os ministros do Interior e das Forças Armadas. Os líderes mais jovens, como por exemplo Carlos Lage - o homem que dirigia a economia no tempo de Fidel - passaram para um segundo plano, substituídos por pessoas mais próximas de Raúl e da nova política econômica adotada por ele. Isto tem sido uma constante nos últimos dois anos. A maior parte dos jovens - com idades entre 25 e 35 anos - em que Fidel Castro se apoiava desapareceram da cena política, incluindo o chefe do Grupo de Apoio de Fidel.

O problema que o governo de Raúl Castro enfrenta agora é o da continuidade. Uma vez que a maioria das peças-chave do governo tem mais de 70 anos, preparar a sucessão deveria ser uma de suas prioridades. O plano de governo de Raúl Castro parece envolver quatro grandes áreas: a reforma agrária, a abertura de um mercado interno, o aumento dos salários e a diversificação das relações internacionais. As mudanças na agricultura vêm avançando lentamente. Cerca de 50 mil famílias receberam terras do governo, o que corresponde a uma porção mínima das terras ociosas, a maior parte delas nas mãos do Estado.

O mercado interno cresceu no começo de 2008 com a venda de celulares, eletrodomésticos, computadores e motocicletas aos cubanos. A população também obteve o acesso às instalações turísticas. Mas desde então não houve novas aberturas. A eliminação de tetos salariais foi outra bandeira do novo governo, uma vez que isso implica que os cubanos podem ganhar mais se trabalharem mais, o que se converte em um aumento de salários vinculado a uma maior produtividade. Este último desdobramento é talvez um dos mais esperados por uma população que sobrevive com uma renda totalmente inadequada.

Apesar disso, a burocracia estatal conseguiu adiar repetidamente sua aplicação. Quando se avalia a gestão do novo governo, não se pode ignorar o fato de que o país foi arrasado de uma ponta a outra por três furacões com perdas em torno de US$ 10 bilhões e um altíssimo custo social. Cerca de 70 mil casas foram completamente destruídas, 500 mil foram danificadas, milhares de torres e postes elétricos caíram e grande parte das colheitas foi perdida, provocando uma crise social sem precedentes. O governo evacuou de forma maciça as zonas afetadas, reduzindo ao mínimo a quantidade de vítimas fatais. E também enviou para as regiões do desastre caminhões com telhas e alimentos.

O problema das moradias continua grave, uma vez que só foi possível reparar um quinto dos danos, mas a rede elétrica nacional está novamente em ordem e o abastecimento de comida se estabilizou gradualmente. A escassez e o alto preço dos alimentos após os furacões foram normalizados após o governo impor tetos no valor da produção agrícola vendidas pelos camponeses.

No plano dos direitos humanos, as coisas não mudaram muito, embora o número de presos políticos tenha diminuído e a maior parte das detenções de membros da oposição tenha tido duração curta - de algumas horas a dois dias. A oposição segue sendo tolerada mas não permitida, os dissidentes se limitam a atividades dentro de suas casas, onde em geral não são importunados. No entanto, isso reduz enormemente sua influência social.

Cuba aderiu aos acordos da Organização das Nações Unidas (ONU) para a proteção dos direitos sociais e políticos, embora com reservas. Algumas foram mencionadas pelo próprio Fidel Castro em uma de suas reflexões públicas. No Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Havana apresentou seu relatório sobre a situação na ilha e saiu contente apesar das críticas e recomendações feitas por alguns países, especialmente europeus.

Abertura

O maior êxito alcançado por Raúl Castro em seu primeiro ano de governo parece ter ocorrido no plano internacional. De alguma forma, ele conseguiu diversificar suas relações comerciais e políticas, antes restritas à Venezuela e China. Em 2008 e neste início de 2009, mais presidentes visitaram a ilha do que em qualquer outro período. Cuba se reintegrou à América Latina através do Grupo do Rio.

A Europa suspendeu sanções e a Rússia quer recuperar seu antigo aliado. Raúl Castro, no entanto, não parece preferir nem desprezar ninguém. Da mesma forma que visita Brasil e Rússia, também vai à Argélia e Angola. O objetivo parece ser estreitar as relações e ampliar a "colaboração internacionalista" no terreno econômico e comercial.

Politicamente, essas relações também implicam um êxito indiscutível para o governo. Todos os presidentes e personalidades que visitaram Cuba nos últimos 12 meses criticaram o embargo econômico dos Estados Unidos e se negaram a conversar com os dissidentes.

Fonte: BBCBrasil

 

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