Rebeldes forçam afegãos a dar-lhes abrigo e comida

Pressionados pela miséria, deslocados chegam a receber até US$ 400 por mês do Taleban por esconderijo

30/09/2015 19h04
Rebeldes forçam afegãos a dar-lhes abrigo e comida
A8SE

Cansado do fogo cruzado na fronteira entre Afeganistão e Paquistão, Wasqa, de 28 anos, subiu num caminhão com a mulher, os cinco filhos, US$ 100, cobertores e latas de comida e atravessou 700 quilômetros até a capital, Cabul. Estima-se que 235 mil afegãos tenham abandonado suas casas desde a intensificação dos conflitos nas províncias do sul e leste do Afeganistão, epicentro da insurgência dos taleban. Sem emprego, dinheiro ou lugar para morar, eles se tornam refugiados no próprio país.

Num único distrito, Lashkar Gar, na Província de Helmand, 23 mil pessoas deixaram suas casas. Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, além do fogo cruzado e dos bombardeios, que em 2008 mataram 2.118 civis, 40% a mais do que no ano anterior, os afegãos são forçados a alimentar e dar abrigo aos taleban, seja sob ameaça ou pela miséria. Os insurgentes chegam a pagar US$ 400 por mês pela ajuda, segundo um médico afegão que atende em áreas onde há insurgência. As famílias passam, então, a ser alvo das forças britânicas que patrulham a área com 7 mil soldados. Ameaçados por todas as partes, eles fogem.

A crise atingiu na mesma medida o Paquistão. Desde que os bombardeios se intensificaram, em agosto, no norte de Peshawar, região da Fata (agência que administra as áreas tribais paquistanesas), refúgio da Al-Qaeda e de comandos taleban, outras cerca de 260 mil pessoas teriam migrado para a Província da Fronteira Noroeste. Jalalozai, o maior campo de refugiados afegãos até ser fechado em 2008, voltou a receber gente. Todos os dias, cerca de 500 pessoas chegam ao assentamento, que já não tem infraestrutura para recebê-los.

Organizações humanitárias temem que a decisão do presidente americano, Barack Obama, de enviar mais 17 mil soldados ao Afeganistão e de pedir mais tropas à Otan intensifique ainda mais os conflitos e, em consequência, a migração interna. Ontem, a organização de direitos humanos Anistia Internacional fez um apelo à Casa Branca para que defina uma estratégia de atendimento aos desalojados. "A solução militar não pode ser o único foco dos Estados Unidos", disse o diretor da organização para a Ásia Pacífica, Sam Zarifi.

A maioria dos afegãos migra para Cabul, onde a segurança ainda é melhor do que em outras áreas - apesar dos recentes ataques suicidas desfechados pelo Taleban na capital - e há mais oportunidades de trabalho do que nas zonas rurais. Como quase todos os refugiados, Agha Guld, de 37 anos, faz biscates na área do assentamento Charahi Sarai, noroeste de Cabul, onde vive com a mulher, Shamila, de 25 anos, e quatro filhos, de entre 2 e 8 anos, sob uma tenda de plástico. Guld oferece-se para lavar carros - três ou quatro lhe rendem 120 afeganes (US$ 2,40) - ou descarregar caminhões no mercado de Sabzi, serviço pelo qual recebe entre 50 e 100 afeganes (US$ 1 e US$ 2 por dia).

Cerca de 770 famílias, ou 4.600 pessoas, vivem no Charahi Sarai em condições precárias, sem água, coleta de lixo ou energia para suportar as temperaturas abaixo de zero de Cabul. No inverno passado, 750 afegãos morreram, segundo o governo. "A minha filha se foi aos 23 anos. Morreu de frio", diz Parrigol, que vive no assentamento. A Agência da ONU para Refugiados distribuiu tendas e cobertores para as 31.897 famílias afegãs desalojadas.

Fonte: Estadão

 

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