Laranjeiras: 180 anos respirando cultura

30/09/2015 21h10
Laranjeiras: 180 anos respirando cultura
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Fundada em 1832, a cidade de Laranjeiras abriga uma grande riqueza cultural, que pode ser vista nas ruas, casarões antigos e nas igrejas que circundam o município. A cidade, que é Patrimônio Histórico Nacional, destaca-se por ser um grande berço da cultura popular, possuindo algumas das mais belas e representativas manifestações folclóricas e religiosas do Estado, como as Taieiras, os Lambe-sujos e Caboclinhos, Reisado, Cacumbi, São Gonçalo e muitos outros, totalizando um número de mais de 20 grupos folclóricos.

Durante todo o ano, a cidade sente em suas ruas e vielas o sabor da cultura popular. Seja nos imponentes casarios, nas históricas igrejas, ou nos terreiros de culto afro tomados pelo forte sincretismo religioso, a cultura sergipana pulsa mais forte e faz o povo se orgulhar de ter um berço de cultura popular do Brasil tão perto.

"Laranjeiras é uma das cidades mais antigas de Sergipe e que guarda uma história peculiar. Por suas ruas, grupos folclóricos dançam nas variadas épocas do ano e mantém viva uma tradição secular que orgulha a todos os sergipanos, e faz com que o sentimento de sergipanidade floresça no coração de daqueles que se encantam por suas tradições", destacou a secretária de Estado da Cultura, Eloisa Galdino.

E este sentimento de sergipanidade ao qual é definido por Eloisa, é sentindo por todos que admiram e valorizam a cultura local. Terezinha Oliva, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), escreveu em uma recente publicação do município que ao andar por Laranjeiras, o que se vê é a união entre o que é tradicional e novo, uma das mais peculiares marcas desta cidade. "Laranjeiras preserva o passado e busca nele a inspiração para renovar-se e articular novos caminhos para seu desenvolvimento", completou.

Encontro Cultural

Uma vez por ano, o sentimento de sergipanidade fica ainda mais forte nos sergipanos e principalmente nos laranjeirenses durante a realização do Encontro Cultural. O evento que é um dos encontros de cultura popular mais antigos do país, está na sua 37º edição, e atrai para cidade durante um mês de janeiro, uma verdadeira caravana de estudiosos, turistas e pessoas interessadas em conhecer um pouco mais da cultura local.

Cortejos folclóricos, apresentações artísticas, simpósio e muitos debates formam a programação do evento todos os anos. Segundo o secretário de Cultura do Município, Irineu Fontes, o Encontro Cultural é hoje um dos eventos de referência no quesito cultura popular em todo o país. "O Encontro Cultural traz um fomento muito grande na manutenção da cultura popular em todo o Estado. As muitas discussões que acontecem aqui fazem com que esses folguedos continuem vivos em Sergipe", observou.

Quem também reconhece a importância do Encontro Cultural e do incentivo que é dado pela preservação da cultura popular em Laranjeiras é o coordenador do Cacumbi, Antônio Carlos dos Santos. Ele que é filho do Mestre Deca e já brincou no grupo por mais de 20 anos, carrega hoje a parte administrativa e aos poucos colhe os frutos de um trabalho de muitos anos. "Hoje percebemos que a tradição, que é quase centenária, está mais valorizada e viva no coração de todos que apreciam a cultura. E isso é muito bom, afinal, sentimos que valeu a pena toda a nossa luta para que o Cacumbi não morresse,", argumentou.

A funcionária pública Gidalma Pereira é um exemplo de laranjeirese que nunca pensou em sair da sua cidade que se orgulha de morar ali. "Laranjeiras é uma cidade muito rica em folclore e eu admiro por isso. Nos grupos folclóricos ou na beleza dos prédios dá pra ver o quanto nossa cidade é bonita e cheia de riquezas", afirmou.

Berço de importantes Patrimônios Históricos

A história de Laranjeiras não pode ser contada apenas através da cultura popular. A cidade que é considerada um museu a céu aberto abriga inúmeros prédios históricos, que contam um pouco da história do lugar.

O Campus de Artes da Universidade Federal de Sergipe é um claro exemplo disso. Localizado na formidável restauração patrimonial do "quarteirão dos trapiches", está inserido em um conjunto arquitetônico do século XIX, e encanta a todos que passam por ali, pela beleza e representatividade histórica.

A Igreja do Bonfim, de Santo Antônio e Senhora das Neves, de Bom Jesus dos Navegantes, de Nossa Senhora da Conceição dos Pardos, e de Nossa Senhora da Conceição de Comandaroba, além dos museus de Arte Sacra, Afro Brasileiro e a Casa de Cultura João Ribeiro retratam passo a passo a história da arquitetônica do município.

Outros três prédios recentemente restaurados pelo programa Monumenta e que estão prestes a ser inaugurados, tem um papel importante na questão do Patrimônio Histórico de Laranjeiras. O Casarão dos Rolemberg e o sobrado ao lado, além da antiga carpintaria da prefeitura, passarão em breve a embelezar ainda mais o conjunto urbanístico do centro histórico de Laranjeiras e serão locais funcionais para cidade.

Na antiga Carpintaria será implantado um centro comercial com 22 lojas, duas lanchonetes e quatro quiosques. Já no Casarão dos Rolemberg a estrutura foi montada para receber um restaurante que irá contribuir ainda mais para a vida social de Laranjeiras. Já o ‘Sobrado ao lado` - como é chamado o prédio que fica ao lado do Casarão dos Rolemberg -, receberá as instalações do Arquivo Público Municipal de Laranjeiras.

"O que tentamos hoje é fazer com que essas obras sejam utilizadas pela população com algo bom para a cidade. Assim o Casarão dos Rolemberg, o sobrado ao lado e a antiga carpintaria oferecerão uma forma de sustentabilidade e também de lazer à comunidade", completou Irineu Fontes.

História do município

Depois que as tropas de Cristóvão de Barros arrasaram com as nações indígenas, por volta de 1530, muitos ‘colonos` acabaram se fixando às margens do Rio Cotinguiba. Essas terras pertenciam à Freguesia de Socorro. Naquela região, mais ou menos uma légua da sede, foi construído um pequeno porto e, por conta das inúmeras e frondosas laranjeiras à beira do rio, moradores e viajantes começaram a identificar o local como porto das laranjeiras.

Anos depois, após invasões e resistências, por conta da cana-de-açúcar, do coco, do gado, do comércio e, principalmente do porto, o povoado das Laranjeiras adquiriu um nível extraordinário de desenvolvimento. Porém, apenas em 7 de agosto de 1832, em decorrência da grande influência política dos proprietários de terras e comerciantes, a Assembleia Geral da Província transformou o povoado em vila independente.

Em 1836 foi criada em Laranjeiras a primeira Alfândega de Sergipe. Apesar de pequeno territorialmente, o município chegou a ser o maior produtor de açúcar cristal de Sergipe. Eram centenas de engenhos e depois usinas. Além da cana-de-açúcar, Laranjeiras sempre teve uma boa produção de coco e mandioca. No campo da pecuária, o município chegou a ter um rebanho estimado em 11 mil cabeças de gado.

Em 1854 foi inaugurada a iluminação pública com a instalação de 32 lampiões. Em 1859 teve início a navegação a vapor entre Aracaju, Maruim e Laranjeiras, e em 1860 Laranjeiras recebeu a visita do imperador Dom Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina, além de uma grande comitiva. Na noite de 14 de janeiro daquele ano, eles foram aclamados nas ruas da cidade. O imperador visitou escolas, a Câmara de Vereadores, o Paço Municipal, assistiu à missa e participou de saraus e banquetes. Em 1880, Laranjeiras já possuía uma Estação do Telégrafo Nacional.

O início da propaganda republicada em Sergipe aconteceu oficialmente na Vila de Laranjeiras, em 1888, através da publicação do Manifesto de 18 de outubro de 1888, no ‘Laranjeirense`, jornal local. Meses depois era fundado o Clube Republicano Laranjeirense, que mais tarde se transformou em Partido Republicano. Faziam parte Felisbello Freire, Balthazar de Góis, Sílvio Romero, entre outros. Eles chagaram a ter um jornal, o ‘Republicano`.

Com a Proclamação da República, os republicanos laranjeirenses fizeram passeatas pelas ruas da cidade. Meses depois, Felisbello Freire é nomeado pelo marechal Deodoro da Fonseca como o primeiro governador de Sergipe na República. O primeiro intendente de Laranjeiras foi Marcolino Ezequiel de Jesus, que governou o município de 1893 a 1895.

 

Fonte: ASN

 

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